Sonda brasileira avalia parâmetros da água com custo quatro vezes menor do que o da importada

Acaba de chegar ao mercado, com custo menor do que o similar importado, uma tecnologia inteiramente nacional, capaz de aferir em tempo real e de forma remota – por meio de celular, tablet ou computador – as propriedades da água de viveiros destinados ao cultivo de organismos aquáticos, como peixes e crustáceos..

A Sonda Acqua Probe foi desenvolvida dentro do conceito de inovação aberta e é resultado da parceria entre a startup paulista Acqua Nativa, especializada em soluções para o meio ambiente, e a Embrapa Instrumentação (São Carlos, SP), que trabalha com a aplicação de técnicas ópticas e fotônicas há quase 20 anos.

O equipamento nacional custa um quarto do valor do importado, que chega ao Brasil por R$ 100 mil, e a assistência técnica é muito mais rápida e acessível. A sonda é compacta, possui interface simples e amigável, fica submersa nas áreas de criação e opera com um conjunto de sensores ópticos dedicados a cada um dos principais parâmetros de avaliação da qualidade da água.

Entre os 12 parâmetros que a tecnologia é capaz de monitorar estão níveis de pH, temperatura, oxigênio dissolvido, potencial de oxi-redução, turbidez da água, além da clorofila-a e condutividade elétrica. A partir dessa última medida a sonda ainda é capaz de aferir a salinidade, sólidos totais dissolvidos (TDS) e gravidade específica.

O monitoramento desses parâmetros é considerado imprescindível, porque as características químicas, físicas e biológicas da água determinam o sucesso ou o fracasso da atividade econômica. Água ruim em um viveiro pode gerar diversos problemas, entre eles estresse, má coloração, doenças nos animais aquáticos e mortandade, o que pode reduzir a produtividade do cultivo.

Método e sensores reforçam pesquisa

A pesquisa, que vinha sendo desenvolvida pela Acqua Nativa, com o apoio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), ganhou um reforço importante da Embrapa para desenvolver alguns sensores e o método capaz de monitorar a concentração de clorofila-a. O incremento foi fundamental para transformar a pesquisa em produto já disponível no mercado.

A identificação de clorofila é realizada pela sonda com a ajuda de técnicas fluorimétricas, um método de análise usado na determinação quantitativa ou qualitativa de substâncias capazes de emitir fluorescência. “Com essa técnica, é possível quantificar a clorofila e a floração de algas in situ”, diz a pesquisadora da Embrapa Instrumentação Débora Milori, responsável pelo estudo.

A detecção de clorofila indica a presença de algas, que em excesso (eutrofização) podem comprometer o cultivo de espécies aquáticas e até levar à mortandade da fauna. “Por isso, seu controle é de extrema importância para a sobrevivência dos seres animais que têm como habitat obrigatório a água”, avalia a pesquisadora.

Estações de tratamento de água também são beneficiadas

A tecnologia pode beneficiar estações de tratamento de água e esgoto, órgãos públicos ou privados responsáveis pelo abastecimento público, além dos piscicultores e aquicultores que desejam monitorar seus tanques e garantir faixas ótimas para o cultivo. Pode ainda ser destinada a produtores rurais que utilizem a hidroponia como forma de produção e que necessitem monitorar a qualidade de sua solução hidropônica.

Para o diretor-técnico da Acqua Nativa, o engenheiro mecatrônico Elias Gutierre, “a inovação se difere de outros métodos, por oferecer conectividade, o que quer dizer que os dados coletados em campo podem ser acessados a distancia”, explica.

O diretor comercial da empresa, Hugo Vieira, completa a relação de benefícios da sonda nacional. “O equipamento pesa dois quilos, mede apenas 30 centímetros e pode ser transportado dentro de uma pequena maleta. A tecnologia pode ser levada ao campo para fazer as medidas ou ser instalada na propriedade”, afirma.

Pesquisa amplia a cadeia

O desenvolvimento da sonda multiparâmetros Acqua Probe integra o Projeto BRS Acqua, liderado pela Embrapa Pesca e Aquicultura (Palmas, TO), que está sendo executado com o objetivo de fortalecer e ampliar a aquicultura.

O projeto é o maior da Embrapa e conta com recursos da ordem de mais de R$ 56 milhões do Fundo Tecnológico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além das parcerias do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Secretaria de Aquicultura e Pesca, ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

A Embrapa Instrumentação é uma das 22 unidades da Empresa que faz parte do projeto BRS Acqua. Sob a sua responsabilidade está o desenvolvimento de uma plataforma automatizada para monitoramento de sistemas aquícolas, que inclui um método para monitoramento de algas em aquicultura.

A física Débora Milori é a coordenadora do Plano de Ação da Embrapa Instrumentação dentro do projeto BRS Aqua e responsável por três das sete atividades propostas dentro desse Plano de Ação. Além do método para monitoramento de algas em aquicultura, a pesquisadora também desenvolve sistema para a avaliação de emissão de gases de efeito estufa – CO2 e CH4 – em piscicultura e um método para monitoramento de água, solo e sedimentos em aquicultura.

Fonte: Embrapa Instrumentação Por Joana Silva