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A sucessão familiar no agronegócio

Os desafios em gerir uma propriedade são imensos. Questões relacionadas a clima, preços dos insumos e matérias-primas, uso de novas tecnologias, acesso ao crédito, produção, colheita, estocagem, processamento, comercialização e temas ligados à economia interferem diretamente na dinâmica do campo.

Existe ainda outro tema de extrema importância e que se constitui um grande desafio para a gestão dos negócios: a sucessão familiar. No Brasil, segundo estudo da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), quase 40% dos produtores rurais têm suas famílias na atividade agropecuária há mais de 30 anos. Entre os filhos dos produtores, 34% têm alguma participação nas atividades de seus pais e 77% têm faculdade, sendo quase a metade, de Agronomia.

O cenário não é diferente nas empresas do setor. Grande parte são familiares e muitas já atuavam na agropecuária antes de operar fora da porteira, isto é, com insumos e processamento de matéria-prima. É neste contexto que discussões sobre sucessão familiar tornam-se cada vez mais relevantes, porque o tema é considerado fator-chave para a sustentabilidade dos negócios em longo prazo.

Apesar de sua importância, muitos não dialogam abertamente sobre o tema. Às vezes, a história dos negócios se confunde com a da família e reações emocionais e pensamentos relacionados à mortalidade vêm à tona quando o assunto é abordado. Assim, é muito frequente a discussão sobre a sucessão ocorrer somente no momento de perdas de entes queridos ou quando ocorrem fortes discordâncias na família.

Porém, a continuidade do negócio muitas vezes depende de uma sucessão familiar sólida e estruturada. Para isso, é necessário encarar o tema da forma mais profissional possível, fazer um planejamento de curto, médio e longo prazo e iniciar o processo de sucessão que, em geral, é demorado.

O processo envolve, além de um diálogo aberto, o alinhamento das expectativas entre as gerações, a profissionalização da gestão e a implementação da governança, que podemos dividir em oito esferas denominadas “oito Ps”: propriedade, princípios, propósitos, papéis, poder, pessoas, práticas e perpetuidade. A família, desse modo, deve estar consciente sobre as práticas e valor do negócio, bem como dos processos formais de tomada de decisão e relações de propriedade, poder e cargos.

Não menos importante é capacitar a futura administração, com a preparação dos herdeiros, iniciando pelo reconhecimento dos membros da família com maior interesse e afinidade com as atividades inerentes ao negócio e lapidação de suas competências.

Além disso, a garantia da segurança jurídico-financeira daqueles que estão transmitindo o patrimônio não pode ser negligenciada. A sucessão, portanto, é um processo que exige comprometimento da família e, quanto mais cedo for iniciada a sua implementação, mais benefícios serão agregados ao negócio, como a continuidade das atividades, a maior gestão profissional, o diálogo aberto e a compatibilização dos interesses pessoais e profissionais dos membros da família.

Ana Malvestio* é Sócia da PwC Brasil e líder de Agribusiness para o Brasil e Américas.

Luiz Albino Barbosa** é Gerente da PwC Brasil de Inteligência em Agronegócio.

Artigo publicado no Zero Hora

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