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Agromitos não resistem à verdade da ciência

Por Xico Graziano*

Suposto estudo é desmistificado. Pesquisadora avalia agrotóxicos

A polêmica sobre uso de agrotóxicos tem levado as pessoas a perguntar: onde está a verdade? Em quem acreditar? As respostas se encontram, sempre, ao lado do conhecimento científico.

Foi assim, buscando a origem científica, que a bióloga Natália Pastermak (USP) desmascarou uma matéria publicada no Estadão, cuja manchete espalhafatosa dizia: “Pesquisa indica que não há dose segura de agrotóxico”.

Referia-se, o jornal, a uma pesquisa efetuada pela imunologista Mônica Lopes-Ferreira, do Instituto Butantan de São Paulo. Ela submeteu peixes-zebra (Danio rerio) a dosagens de 10 tipos de agrotóxicos, diluídos na água dos aquários. Todos os peixes vieram a apresentar anomalias.

Natália Pasternak investigou a metodologia utilizada pela pesquisadora do Butantan. Descobriu que seus resultados laboratoriais não foram submetidos à revisão por seus pares, procedimento padrão em ciência. Tampouco foram publicados em periódico científico.

Natália Pasternak buscou referências na bibliografia mundial. Relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), por ela citado, mostra que as concentrações de glifosato – um dos agrotóxicos misturados nos aquários do Butantan – normalmente encontradas na natureza, são mil vezes menor que as quantidades utilizadas na pesquisa do Butantan.

Todas as demais referências científicas encontradas por Natália ratificaram que a dose das substâncias tóxicas utilizadas pela pesquisadora Mônica Lopes-Ferreira era altíssima. Conclusão: ela provou 1 absurdo do tipo “não devemos criar peixes em aquários saturados de pesticidas”.

Para o pesquisador da Embrapa, Décio Gazzoni, de tão elevadas que eram as doses utilizadas pelo Butantan, a única conclusão é “não ser possível criar peixes em tanques de pulverização agrícola”. Óbvio.

Outro renomado pesquisador, médico toxicologista e professor aposentado da Unicamp, Angelo Trapé, afirma que, “se ela tivesse usado sal de cozinha nessa concentração, teria matado os peixes”. Sal comum.

Natália Pasternak lidera, no Brasil, 1 grupo de cientistas que combate as pseudociências, notadamente presentes na medicina e na agronomia. Falsificação ou distorção do conhecimento afetam as decisões pessoais e induzem a equívocos na formulação das políticas públicas.

As 2 tabelas que a professora da USP apresenta em seu artigo alinham, em ordem decrescente, a toxicidade aguda e a toxicidade crônica de várias substâncias utilizadas no cotidiano. As informações são desmistificadoras.

Conferindo o limite de ingestão diário, pode-se perceber que a cafeína apresenta toxicidade aguda 30 vezes maior que o herbicida glifosato, condenado por muitos ecologistas.

Já o sulfato de cobre, permitido como pesticida nas lavouras orgânicas, apresenta toxicidade crônica igual à glifosato. Ambos são moderadamente tóxicos.

Ambas as tabelas evidenciam uma questão conceitual, técnica, difícil de ser absorvida pela população: a diferença entre o perigo e o risco. Perigo é atributo inerente a qualquer substância; risco depende da dose, ou seja, da exposição humana ao perigo.

A teobromina, alcaloide presente no cacau, pode matar. Considerando, porém, sua dose letal (DL 50), 1 jovem de 50 quilos teria que ingerir, de uma só vez, cerca de 23 quilos de chocolate, com teor médio de 2% da substância. Impossível.

O mesmo raciocínio vale para medicamentos humanos ou agrotóxicos, em geral. Muitas vezes, detecta-se resíduos nos alimentos, ou na água. Mas a dosagem encontrada é muito baixa, longe da faixa de risco à saúde.

Assim funciona a informação científica. Na dúvida sobre a veracidade daquilo que lhe chega, verifique a metodologia utilizada e a referência da publicação. Foi o que fez Natália Pasternak. Encontrou uma mentira.

Agromitos não resistem à verdade da ciência.

*Xico Graziano, 65, é engenheiro agrônomo e doutor em Administração. Foi deputado federal pelo PSDB e integrou o governo de São Paulo. É professor de MBA da FGV e sócio-diretor da e-PoliticsGraziano.

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