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Agronegócio e o Dólar

Estudos do Cepea/USP mostram que uma elevação do dólar tende a favorecer o agronegócio, setor que exporta bastante e importa pouco, mantendo-se superavitário pelo menos nos últimos 25 anos. Para o produtor agrícola, uma alta do dólar atua via dois canais: eleva os custos por causa do aumento dos preços dos insumos importados e incrementa a renda bruta porque aumenta a receita das exportações convertida em reais. Mas, como regra, sabe-se que o aumento da renda supera a elevação de custos.

Desde o ano 2000, o valor real do dólar (descontada a inflação brasileira) tem caído substancialmente, acumulando, até este ano, queda próxima de 50%. Isso quer dizer que o aumento do preço do dólar no Brasil não acompanhou a inflação. Em outras palavras, se nossa moeda (o Real) não tivesse se valorizado em termos reais, o faturamento das exportações transformado em Reais seria o dobro do atual.

Os preços em dólares dos produtos do agronegócio brasileiro subiram 124% de 2000 até 2011. Desde então vêm caindo, estando, mesmo assim, atualmente 53% mais altos do que em 2000. Mas esses preços convertidos para Reais estão 27% abaixo de seus valores em 2000. Mesmo assim, o agronegócio vem aumentando sua competitividade e exportando cada vez mais. Atualmente, o agronegócio exporta um volume de produtos 3,6 vezes maior do que em 2000. Como isso tem sido possível? Pelo aumento da produtividade.  Estudos do Mapa calculam que a produtividade agrícola aumentou 78% de 2000 a 2017, compensando com sobra a queda dos preços, devido à valorização do dólar.

Em síntese, o dólar valorizado tem prejudicado o agronegócio, mas não a ponto de fazê-lo perder competitividade. O mesmo não se pode dizer da indústria brasileira, para a qual uma moeda mais desvalorizada (dólar mais alto) é essencial.

Qual a tendência do dólar daqui para a frente?

Prever ou explicar o comportamento do dólar é um dos maiores desafios para os economistas. Sabe-se que a queda da taxa de juros no Brasil tende a reduzir o ingresso de dólares no País e favorecer aumento do seu preço. Ou seja, se o cenário for de juros menores no Brasil, o equilíbrio da taxa de câmbio vai se mover para valores mais altos. Um resultado a comemorar! Incertezas políticas, institucionais e econômicas também podem induzir taxas mais altas, algo a lamentar. Assim, por boas ou más razões, os diversos setores econômicos brasileiros podem se beneficiar duplamente: juros mais baixos no crédito e dólar mais alto que favorece as exportações e desestimula as importações. Isso é bom para o agronegócio e ótimo para a indústria – e para a economia, em geral.

Há um temor justificado de que a alta do dólar tire a inflação de sua rota de estabilização em níveis historicamente baixos. Provavelmente isso não aconteça em razão do baixo crescimento econômico e da alta taxa de desemprego. O primeiro coíbe o repasse das altas do dólar para os preços ao consumidor. O segundo faz com que altas salariais e, portanto, de custo, sejam muito improváveis. Por último, o Banco Central tem munição e instrumentos para conter um descontrole cambial. Em síntese, uma alta do dólar que não escape ao controle pode contribuir para a recuperação econômica do Brasil. O agronegócio, em particular, não tem o que temer no tocante ao dólar. Sua preocupação maior deve se concentrar, assim, nos conflitos comerciais e na imagem do País no que se refere a questões ambientais e sanitárias.

*Geraldo Barros é coordenador científico do Cepea

Artigo originalmente publicado em 27/11/2019

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