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Bolsonaro entre EUA, OCDE e China 

Por Marcos S. Jank (*)

Avançamos com os EUA; é hora de dar passos equivalentes na OCDE e na China.

A missão de Bolsonaro aos Estados Unidos representou uma quebra de paradigmas após décadas de desconfiança mútua ou distanciamento explícito entre as duas maiores economias das Américas.

Além do Acordo de Salvaguarda Tecnológica, que vai repaginar o centro de Alcântara (MA), foram lançadas iniciativas relevantes de cooperação em temas como inovação, energia e segurança, além da retomada do Fórum de CEOs.

O grande destaque da área econômica foi o apoio dos EUA ao nosso pleito de ingresso na OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Fundada em 1961, a OCDE conta hoje com 36 membros e uma fila de 8 países lutando pelo título de acesso ao chamado “clube dos ricos”.

Ocorre que, para entrar na OCDE, o Brasil teria de convergir para um “patrimônio normativo” (chamado de “acquis”) de 250 instrumentos entre decisões, recomendações e declarações. Acredita-se que não teremos maiores dificuldades para cumprir com 90% dos instrumentos solicitados.

Participar da OCDE seria um “divisor de águas” para o Brasil. Vale citar pelo menos três benefícios:

  1. a) influência na administração da entidade e na elaboração de normas e padrões que tendem a se tornar referência global;
  2. b) comparação internacional de dados, legislações, políticas e resultados que permitiriam ao Brasil se alinhar com as melhores práticas internacionais em áreas que vão de economia a segurança, saúde e ambiente;
  3. c) reconhecimento internacional como país favorável aos negócios, ganhando credibilidade e contribuindo para a recuperação do grau de investimento, que perdemos em 2015.

No agronegócio, criticou-se que as concessões feitas estariam desbalanceadas a favor dos EUA. Na realidade, todos os assuntos tratados na visita constituem velhos conflitos bilaterais, sendo que os avanços em acesso a mercados dependem de pequenas barganhas (trigo x carne bovina, açúcar x etanol etc.). A verdade é que os EUA são “concorrentes”, e não “clientes” do Brasil.

A verdadeira cooperação no agro seria construir uma visão e uma agenda de longo prazo entre os EUA (1º exportador mundial) e o Brasil (3º exportador) em temas globais como segurança alimentar, acesso a mercados, inovação, biotecnologia, bioenergia e outros. Essa visão poderia, inclusive, ser compartilhada com outros grandes exportadores agrícolas (Canadá, Austrália, Tailândia e Argentina), que comungam da mesma agenda e preocupações.

Porém, infelizmente, o ambiente internacional de hoje dificulta a cooperação com os americanos, que estão para assinar um acordo grande envergadura com a China que pode inaugurar uma nova era de “comércio administrado” por interesses unilaterais e geopolíticos. Esse acordo poderá afetar o nosso acesso à China em pelo menos cinco cadeias agroindustriais.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, tem demonstrado grande lucidez, pragmatismo e habilidade para navegar nos mares revoltos que marcam o início do novo governo. Ela irá à China em maio, precedendo uma visita que Bolsonaro fará ao país ainda neste ano.

Há três assuntos cruciais a serem tratados:

– garantir que o acordo EUA-China não cause prejuízos para as exportações brasileiras;

– oferecer solidariedade e apoio do Brasil num momento que a China enfrenta uma gravíssima epidemia de peste suína africana, que pode derrubar a produção local em até 30%, gerando aumentos de preços e a necessidade de importações de diferentes carnes;

– discutir as oportunidades da “Belt and Road Initiative” (BRI), que nasceu em cima do traçado da antiga rota da seda, que uniu China e Europa por mar e terra, mas pode se estender à América do Sul com grandes investimentos em infraestrutura de transportes e portos.

Demos um passo importante na consolidação da parceria estratégica com os EUA. Agora é hora de dar passos paralelos e equivalentes na direção da OCDE e da China. 

(*) Marcos Sawaya Jank é especialista em questões globais do agronegócio. Escreve a cada duas semanas.

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