Brasil vê tendência de queda no preço dos alimentos

Por Xico Graziano*

O preço da carne bovina caiu e derrubou a inflação no começo do ano. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) recuou para 0,21% em janeiro, após ter subido a 1,15% em dezembro. Sorte do consumidor.

A escalada do preço da carne ocorreu por uma sucessão de eventos, a começar do surto de febre suína na China. Milhões de animais foram sacrificados e, sem carne de porco na mesa, os chineses vieram ao comprar a nossa bisteca. A qualquer preço.

A pressão de demanda externa, em uma época de escassez de oferta, elevou a carne bovina no mercado interno. Foi um estraga prazeres no Natal. Mas, quando o Carnaval chegou, o preço da carne arriou. Aconteceu aquilo que nós, economistas agrícolas, prevíamos.

Alimentos estão sujeitos a variações abruptas de preço em função de perdas acarretadas por fenômenos climáticos ou choques de demanda e/ou oferta. Secas, chuvaradas, granizo, geada, volta e meia, fazem estourar o preço, por exemplo, do tomate.

Noutras vezes, certos estímulos empurram os agricultores para ampliar exageradamente os plantios, desovando grande quantidade de produto no mercado, o que derruba os preços. Na sequência, face ao prejuízo verificado, os agricultores se retraem na lavoura. Daí, comprimem a oferta, os preços sobrem. No feijão tem sido assim.

Essa gangorra de preços, tradicional na economia agrícola, tem sido amenizada pelo avanço tecnológico, que promove maior estabilidade na produção durante o ano. Picos de produção se alternam com escassez momentânea.

Esse sobe-e-desce dos preços agrícolas nada tem a ver com a inflação. É importante entender isso. Em economia se aprende que “inflação” é um processo contínuo e generalizado de crescimento de preços das mercadorias. O tomate, ou o feijão, e a carne, desta vez, apenas mostraram uma anomalia conjuntural, não estrutural. Um fenômeno passageiro.

Na macroeconomia, o que importa é a tendência histórica. E conforme mostraram os economistas José Roberto Mendonça de Barros e Juarez Rizzieri, nos últimos 43 anos os preços relativos de uma cesta de 20 alimentos básicos caíram, na média, 3,5% ao ano. O resultado é sensacional.

Vou repetir, pois isso é essencial: o preço real dos alimentos tem caído no Brasil, na média em 3,5% ao ano, nos últimos 43 anos. Esta é, com certeza, a maior contribuição do agro para o desenvolvimento nacional: oferecer comida farta e barata, favorecendo o poder de compra dos salários. O agro favoreceu a melhoria na renda real do povo.

Muitos jornalistas desconhecem esse fato histórico fundamental. Por isso, volta e meia noticiam a terrível “inflação” do chuchu, do tomate ou, como agora, da carne bovina. Trata-se, porém, de grave equívoco.

Até os anos de 1970 o Brasil era um grande importador de alimentos. Hoje, tirando o trigo, produto que ainda mostra dependência do exterior, o país é mais que autossuficiente, abastecendo o mercado interno e exportando para cerca de 160 países. Estima-se que 1 bilhão de pessoas, mundo afora, coloquem em sua mesa alimentos verde-amarelos.

Somente foi possível atingir esse patamar produtivo graças à modernização tecnológica da agricultura, ou seja, devido à expansão do capitalismo no campo. Pequenos, médios e grandes produtores: quem conseguiu investir em tecnologia e se conectar às cadeias de processamento, expandiu seu agronegócio. Progrediu na vida.

Tem gente que olha a árvore e se esquece da floresta. Pontualmente, existem problemas no agro. No geral, porém, o novo mundo rural contribui, decisivamente, para o desenvolvimento brasileiro.

*Xico Graziano é engenheiro agrônomo e doutor em Administração. Foi deputado federal pelo PSDB e integrou o governo de São Paulo. É professor de MBA da FGV e sócio-diretor da e-PoliticsGraziano