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É preciso negociar mais

Nono importador mundial de alimentos, com aquisições de US$ 26 bilhões por ano, o México negocia com o Brasil a ampliação do Acordo de Complementação Econômica (ACE 53). Terceiro maior exportador agrícola, atrás apenas de Estados Unidos e União Europeia, o Brasil participa, hoje, com apenas 0,6% desse potente mercado comprador, revelando real desequilíbrio na balança de comércio entre os dois países. Surge, agora, um bom momento para corrigir essa distorção.

Ao lançar o Plano Nacional de Exportações (PNE), em 2015, o Governo federal estabeleceu metas que consolidam sua disposição de ampliar a participação do País no comércio internacional. Responsável por mais de 46% das exportações brasileiras, o agronegócio deveria ter espaço de destaque e tratamento prioritário nas negociações que envolvam acesso a mercados com a participação do Brasil e os parceiros do Mercosul.

Entretanto, ao retomar as conversas com o México em meados do ano passado, o espaço destinado à agropecuária continua diminuto diante da potencialidade do setor, seja pela resistência e protecionismo dos mexicanos, seja pela priorização dos temas industriais na agenda de comércio exterior do País.

Apesar do crescimento de 157,3% na corrente de comércio do agronegócio entre Brasil e México, na última década, esse aumento quantificado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) é ainda inexpressivo tendo em vista que o México representa 0,73% na participação das nossas receitas de exportação.

Esse quadro contradiz os números do setor, mas não revela nenhuma novidade para o segmento mais competitivo e dinâmico da economia nacional. Historicamente, negociadores e representantes do Brasil no exterior não proporcionam a devida e conquistada relevância às exportações agrícolas. Tal fato explica, em parte, a demora no despertar de algumas cadeias agropecuárias para o mercado internacional. Podem ter perdido espaços que, por vocação, deveriam ser preenchidos por alimentos produzidos no Brasil.

Mas é hora de olhar para o futuro. Brasil e Mercosul estão envolvidos em importantes processos negociadores, a exemplo do México e a negociação com a União Europeia. Apesar da disposição de alguns representantes governamentais de avançar nessas negociações “levando o agro junto”, ainda inexiste real entendimento de que é preciso maior veemência na busca por ampliar a inserção das cadeias agropecuárias e agroindustriais no comércio exterior.

No caso do México, cabe a compreensão de que, indiretamente, estamos negociando com o NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio), também composto por Estados Unidos e Canadá. Esses países são grandes concorrentes do Brasil nas exportações agrícolas. Há, portanto, um freio natural, incentivado por grandes tradings norte-americanas, presentes no México, que não cederão território facilmente. Porém, é preciso demonstrar aos mexicanos que a agricultura se oporá aos negócios se não houver um justo equilíbrio nessa prática de comércio.

Quanto aos entendimentos entre Mercosul e UE, o grande obstáculo a ser superado é o lobby agrícola europeu, velho conhecido dos negociadores brasileiros. É necessário, portanto, esclarecer a sociedade europeia que há espaço para todos nesse mercado e que o grande beneficiado será o consumidor do chamado velho mundo, que poderá adquirir produtos de qualidade, produzidos de forma sustentável e acessível.

O momento é decisivo para a inserção internacional do Brasil no comércio e nas cadeias globais de valor. O setor agropecuário, o mais competitivo da economia brasileira, segue como grande incentivador da abertura de novos e importantes mercados aos produtos brasileiros. Entre os principais produtos agropecuários de interesse do acordo com o México figuram milho, carnes bovina e suína, algodão, trigo e preparações alimentícias. São produtos que a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) identificou como os de maior potencial de ganho de comércio mediante a retirada de barreiras tarifárias e não tarifárias.

Por esse motivo, consideramos uma obrigação cobrar maior compromisso dos negociadores brasileiros com a inserção dos temas de interesse da agricultura e da pecuária brasileiras entre as prioridades do comércio exterior do País.

* João Martins da Silva Junior é Presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)

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