Índia e Brasil: novos horizontes de comércio e cooperação tecnológica na agropecuária

Por Tereza Cristina Correa da Costa Dias*

Foi com muito entusiasmo que realizei esta minha primeira visita à Índia. Afinal, é um país com o qual o Brasil compartilha grandes semelhanças e complementaridades, sejam elas sociais, econômicas ou culturais.

O tema de cooperação em etanol é, certamente, muito interessante e vejo uma grande oportunidade de parceria entre nossos dois países. O Brasil desenvolveu amplo e bem-sucedido programa de uso de biocombustíveis, utilizando produtos agropecuários como matérias-primas para geração de energia limpa e renovável. No Brasil, assim como na Índia, a produção de cana-de-açúcar é secular e de grande importância socioeconômica. No entanto, no que diz respeito ao etanol, há uma grande disparidade: enquanto o Brasil é o segundo maior produtor mundial, com mais de 30 bilhões de litros, a Índia produziu apenas 1,5 bilhão de litros, em 2018.

A substituição de combustíveis fósseis por energia limpa, como é o caso do etanol, tem o potencial de reduzir a poluição nos grandes centros, já que os carros movidos a biocombustível emitem muito menos dióxido de carbono do que os motores a diesel ou a gasolina. Além disso, o uso de etanol contribuirá para a redução da necessidade indiana de importações de petróleo e auxiliará, juntamente com eventuais reformas nas políticas de apoio ao setor açucareiro, no problema do excesso de oferta mundial de açúcar, propiciando maior estabilidade nos preços desta commodity em benefício de ambos os países.

Outra área de grande interesse para ambos os países é a do melhoramento genético. Possuímos ambos grandes rebanhos zebuínos e compartilhamos o interesse em troca de material genético para aprimorar nossos animais. Nessa viagem, foi assinada declaração conjunta que prevê a capacitação, pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), de técnicos indianos em fertilização in vitro, e colaboração na instalação e operacionalização de um Centro de Excelência em Pecuária de Leite na Índia.

No que se refere ao comércio bilateral, há grande potencial para expansão em vários setores, dentre os quais destaco o agropecuário. A pauta é concentrada. Há, portanto, muito espaço para crescer e diversificar nosso intercâmbio, nos dois sentidos. Demos o primeiro passo nesta visita capitaneada pelo Presidente Jair Bolsonaro, com a abertura de mercado para as exportações brasileiras de gergelim e indianas de sementes de milho. Ainda que possa parecer uma evolução tímida, essa abertura deve ser encarada como um sinal dos novos tempos, em que ambos países se comprometem a trabalhar pelo aprofundamento da pauta bilateral.

Mercosul e Índia possuem um Acordo de Comércio Preferencial em vigor desde 2009. Contudo, o acordo é bastante limitado, principalmente no setor agrícola, em que o índice de cobertura é inferior a 10% do comércio bilateral. O Brasil está disposto a engajar-se em exercício para a ampliação substancial desse acordo, de modo a contribuir ainda mais para a diversificação e o aumento do comércio. Julgo, assim, imprescindível que nossos países continuem trabalhando em conjunto a fim de superar as barreiras que dificultam a livre circulação de produtos.

Como disse ao principio, temos muito em comum e são essas semelhanças e complementaridades que justificam uma maior aproximação e o aprofundamento das relações.

*Tereza Cristina Correa da Costa Dias é ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil
It is essential that our countries continue to work together to check the barriers that hinder the movement of goods