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O Brasil na bioeconomia

A sustentabilidade entrou de forma definitiva na agenda da sociedade. Um exemplo significativo está na importância que a sustentabilidade corporativa ganhou nos últimos anos. De conceito vago, tornou-se imperativo para o sucesso das empresas, que precisam, cada vez mais, entregar valor e não apenas mercadorias para a sociedade. Sustentabilidade, apesar de intangível, sem existência física, é hoje valor essencial, que se converte em ativo e vantagem competitiva no mundo dos negócios.

Sustentabilidade corporativa requer negócios amparados em boas práticas de governança e benefícios sociais e ambientais, influenciando ganhos econômicos, a competitividade e o sucesso das organizações. O número de empresas que emitem relatórios de sustentabilidade cresceu de menos de 30, no início dos anos 1990, para mais de 7 mil em 2014. Ao operar assim, as empresas elevam a capacidade de competir em mercados cada vez mais exigentes e desafiadores. E, de quebra, ampliam a perenidade, em virtude do fortalecimento da marca, da reputação e da credibilidade.

O interesse pela sustentabilidade se fortalece na medida em que a sociedade se dá conta dos limites do modelo de desenvolvimento dependente de recursos não renováveis, no contexto de mudança paulatina dos anseios da sociedade, da busca de segurança energética e de novas possibilidades de produção. Como a população cresce em número e em capacidade de consumo, também aumenta o desejo de que a economia utilize mais recursos de base biológica, recicláveis e renováveis, logo, mais sustentáveis – e essa é a base da bioeconomia.

O sofisticado embasamento técnico da biotecnologia moderna possibilita a criação de imensa gama de produtos e processos, tais como energia renovável, alimentos funcionais e biofortificados, biopolímeros, novos materiais, medicamentos e cosméticos. Isso faz com que o Brasil tenha janela de oportunidade para participar de maneira significativa do desafio, garantindo espaço competitivo para inovadores produtos e processos de base biológica, em segmentos vitais como a agricultura, a saúde, e as indústrias química, de materiais e de energia.

A biodiversidade é matéria-prima essencial para o futuro da bioindústria e o Brasil tem a maior diversidade biológica no planeta, com muitos ativos de grande interesse para o comércio e a economia. Por meio da bioeconomia, surgem possibilidades concretas para a utilização sustentável da biodiversidade, o que envolve desafios em diversos campos – biológico, econômico, político e cultural – todos necessários para se compreender e antever cenários plausíveis para o desenvolvimento da nova vertente econômica.

Um passo fundamental para a construção de estratégia nacional de inserção do Brasil na bioeconomia foi a aprovação da Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015, que simplifica e regula o acesso ao patrimônio genético do país e ao conhecimento tradicional associado, para fins de pesquisa e desenvolvimento tecnológico. A lei também orienta a repartição, com os detentores dos recursos, dos benefícios decorrentes da exploração econômica de produto ou material reprodutivo desenvolvido a partir dos acessos, sejam eles plantas, animais ou microrganismos.

Outros passos precisarão ser dados em seguida, como a definição de agenda estratégica, que aponte áreas prioritárias de desenvolvimento bioindustrial de alto potencial de impacto, nas quais o Brasil apresente maiores vantagens competitivas. Tal agenda permitirá ao país direcionar investimentos e orientar a ampliação da base científica e tecnológica, incluindo a modernização da infraestrutura de pesquisa e inovação e estímulos ao empreendedorismo e à interação público-privada.

Com a bioeconomia podemos transformar e dinamizar segmentos essenciais, como a agricultura, que já posiciona o Brasil na vanguarda da produção de alimentos, fibras e energia no mundo. Os avanços em tecnologia de biomassa permitem antever futuro em que as usinas de açúcar e álcool brasileiras se transformem em biorrefinarias, produzindo ampla linha de químicos renováveis. A Embrapa já domina tecnologia de biofábricas, com produção de fármacos e componentes industriais sofisticados em células vegetais. Em breve, sistemas integrados, combinando lavouras, pecuária e floresta, nos permitirão produzir carne, grãos, fibras e energia com emissões líquidas de carbono muito baixas ou, em algumas situações, com captura maior que emissão.

O que vemos é apenas a ponta do iceberg, comparado ao que se anuncia, por exemplo, com a biologia sintética – resultado da convergência do mundo digital com o mundo biológico – que abrirá caminhos para inusitada gama de biofármacos, bioinsumos e bioprodutos. Precisamos estar preparados. O futuro será, definitivamente, bio.

*Maurício Antônio Lopes é Presidente da Embrapa. Artigo publicado no Jornal Correio Braziliense

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