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Por que ser um produtor rural?

 

                      Bem, era um sonho de vida, viver do campo, viver da terra e com a terra, viver próximo dos meus pais, e dar ao meu filho uma vida mais sadia, mais livre, mais natural. O fiz virar realidade, já faz dois anos que só dessa água eu bebo, e já aprendi que realmente o produtor precisa ter “cebo no rim” ter fibra e se profissionalizar, o velho gaúcho já não tem mais espaço para tantas intempéries da economia, câmbio, corrupção e as tais delações.

                Hoje precisamos acordar cedo, cevar o velho mate, ligar na gaúcha pra ouvir as últimas de Brasília, almoçar na companhia da Cristina Ranzolin do JA e ficar sabendo como anda o pago amado, depois trocar pro Canal rural com a Kellen Severo, já tomando um café preto pra melhorar a “digestão” e assim ter as cotações do boi, da soja, milho, feijão e saber que tudo que tu produziu baixou e não irá pagar teus custos de produção.

                Aí tu fica pensando dias e dias, perde o sono, tentando achar uma maneira de contornar a situação, resolver um problema que não foi culpa sua, pensa…pensa e sua saída é ir ao banco tentar renegociar as futuras dívidas! Chega lá, toma um cafezinho, espera mais de hora na fila, senta na frente do “Homi” e despeja teu drama ao gerente! Tchê é o seguinte, eu fiz tudo certo mas deu tudo errado, meu gado estava gordo e bonito, pronto para sair, minha lavoura pronta para colher, mais aí veio a operação carne fraca e levou meu lucro dos bois com ela, depois veio a chuva ou o seca e levou minha lavoura pelo ralo, e me sobrou as contas! Agora tenho que escolher quem eu vou pagar, posso renegociar meu custeio? Aí o “homi” engravatado, camisinha branca, sem uma terrinha em baixo das unhas, que se dizia ser parceiro, te manda a real, sem nem ficar vermelho, acho melhor tu se apertar, deixar de pagar os outros e pagar o banco, porque tu é novo na agência, fica ruim renegociar.

                Agora eu me pergunto: por que ser um produtor rural se ninguém reconhece o nosso trabalho? Pouco representada pelos políticos, ou não representada, somos alvos da tributação excessiva. Digo, só pode ser amor à natureza, amor pela terra, pelo prazer de produzir alimento, mesmo sem reconhecimento. Gerar riqueza e renda para o pais, e só para o pais, porque o produtor já não forma seu filho doutor, produtor não tem a garantia que depois de todo o suor de uma safra terá sua renda garantida, renda essa que dará o conforto que ele almeja à sua família, que junto dele “peleou sol a sol”. E os tais seguros agrícolas são fáceis de contratar, mas uma burocracia para reembolsar e cheios de letrinhas miúdas, tudo para não pagar!!!

                São poucos os produtores de sucesso que vivem 100% da propriedade rural, muitos têm outras rendas, ou tiveram, onde conseguiram e conseguem se custear para sobreviver na atividade. Não tenho espaço para arrependimento, pois sei com meus poucos 32 anos de vida, que fazendo o que se gosta o retorno sempre vem, se não em forma de cifras, em forma de qualidade de vida. Não que não tenha stress no campo, pois quem disser isso não sabe o quanto é difícil nossa vida, mas a qualidade de vida as vezes está em não ter tudo que quer, mas gostar de tudo que se tem.

                A maldita Super Safra 16/17 servirá como um aprendizado para a vida, onde eu produzi como nunca, e recebi tão pouco para pagar as contas, pois quando a propaganda de uma grande oferta de produto se espalha os especuladores se aproveitam para diminuir a rentabilidade ao produtor. Só temos um caminho a seguir, a profissionalização dos produtores rurais, transformando-os em empresários rurais. A gestão deverá ser o carro chefe da atividade agrícola, e que as entidades competentes consigam, com agilidade e mínima burocracia, apresentar aos velhos homens do campo que é preciso se atualizar.

                Somos uma empresa a céu aberto, onde o produtor é a massa operária, o banco o investidor ganancioso e o clima o gestor. Se algo der errado, vai estourar no lado mais fraco, como sempre, o produtor. Um Viva aos produtores de riquezas desse pais.

Ricardo Hexsel – empresário agropecuarista

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