Brasil e China defendem maior cooperação em biotecnologia

Em evento organizado pelo CEBC, representantes da China disseram que o uso de produtos transgênicos está em expansão no país asiático

Brasil e China devem intensificar o diálogo e a cooperação na área de biotecnologia, tanto na área de pesquisa quanto na relativa ao processo de aprovação de inovações, defenderam representantes dos governos de ambos os países no “I Fórum Brasil-China de Biotecnologia, Agricultura e Sustentabilidade”, organizado pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) e patrocinado pela Bayer. O presidente da Embrapa, Celso Moretti, propôs o aumento no número de pesquisadores brasileiros na China, enquanto o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, sugeriu a intensificação da cooperação bilateral no desenvolvimento e industrialização de sementes, o que exigiria pesquisa conjunta, transferência de tecnologia e capacitação de recursos humanos.

A biotecnologia foi apresentada como uma ferramenta essencial para a agricultura sustentável, pois permite a expansão da produção sem um aumento proporcional do uso de recursos. Em especial, ela reduz a necessidade de área plantada e de utilização de maquinário e pesticidas e fomenta o plantio direto, proporcionando redução de emissões de carbono. Moretti observou que em cinco décadas, o Brasil expandiu a produção de soja em 509%, mas só ampliou a área plantada em 100%. O presidente da Academia Chinesa de Ciências Agrícolas e do Comitê Nacional de Biossegurança da China, Wu Kongming, disse que a biotecnologia está gerando uma “revolução” na agricultura chinesa, com aplicação nas culturas de algodão, milho, soja e canola. “A biotecnologia é um instrumento importante para o desenvolvimento sustentável.”

Wu defendeu a criação de “plataformas conjuntas de inovação biotecnológica” entre Brasil e China, que conectem cientistas e pesquisadores dos dois países. Esses espaços serviriam para troca de informações, desenvolvimento de produtos e discussões sobre transferência de tecnologia. O presidente do Comitê Nacional de Biossegurança da China também se mostrou aberto ao “aperfeiçoamento” do processo chinês de aprovação de inovações biotecnológicas, que possam acelerar o sinal verde a produtos adotados no Brasil. A falta de sincronia entre os dois países nessa tramitação muitas vezes atrasa a adoção de inovações no Brasil, que tem na China o seu maior mercado para exportação de produtos agrícolas.

O encarregado de Negócios da Embaixada do Brasil em Pequim, Celso de Tarso Pereira, ressaltou a necessidade de o Brasil estar atento a padrões internacionais cada vez mais estritos em questões ambientais, lembrando que a União Europeia acabou de aprovar legislação que restringe a importação de produtos ligados ao desmatamento. O diplomata observou que a biotecnologia pode contribuir no processo de redução das emissões do setor agropecuário. Segundo ele, um exemplo disso é um suplemento alimentar aprovado recentemente no Brasil que reduz as emissões de metano de rebanhos de gado -uma das principais fontes de emissão de gases efeito estufa do Brasil.

Biotecnologias que aumentam a tolerância de lavouras à escassez de água são a nova fronteira da biotecnologia agrícola, afirmou o presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio), Paulo Barroso, ao falor sobre OGMs e edição gênica. “Não estamos mais no momento de discutir se OGMs são seguros ou não. O exemplo do Brasil, dos Estados Unidos e o amplo consumo mundial mostram que eles são seguros”, ressaltou o Barroso, que previu a ampliação das tecnologias.

O uso de ativos de base biológica para o controle de pragas e doenças foi defendido pelo secretário adjunto de Inovação, Desenvolvimento Sustentável e Irrigação do Ministério da Agricultura, Cléber Soares, que também propôs a exploração econômica sustentável de recursos genéticos. “O Brasil detém em torno de 20% da diversidade do planeta e quando nós olhamos isso em termos de oportunidade, é inimaginável a capacidade para formação de recursos genéticos dentro de uma lógica de conservar para inovar. É possível agregarmos mais valor de forma sustentável.”

Professor da Universidade Federal de Viçosa, Aluízio Borém mencionou a cooperação no setor acadêmico e disse que a instituição que integra discute o assunto com a Universidade de Nanjing, na China. Ma Shuping, vice-presidente da China Seed Association, afirmou que a tendência na China é a ampliação do uso de transgênicos e avaliou que existe uma “ampla gama de setores” para a cooperação bilateral. Fernando Camargo, secretário de Inovação, Desenvolvimento Sustentável e Irrigação do Ministério da Agricultura, Fernando Camargo, observou que o Brasil pode “exportar sustentabilidade” não só pela adoção de práticas de manejo de baixo carbono, mas também pela ampliação de fontes limpas de energia. “Entre 2019 e 2020 o Brasil incrementou em mais de 70% a potência de energia solar instalada, o potencial de crescimento é sem precedentes. Podemos contribuir com a diversificação e sustentabilidade da matriz energética global.”

Fonte: JeffreyGroup