Integração: O caminho da sustentabilidade

Cientistas veem na integração um caminho para a sustentabilidade da agropecuária

Dados técnicos obtidos em estudos de longo prazo em áreas de ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) foram apresentados no II Congresso Mundial sobre Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. O painel reuniu pesquisadores da Universidade de Hohenheim (UHOH), da Alemanha, da Embrapa Cerrados (Planaltina-DF) e da Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos-SP).

Marcus Giese, da universidade alemã, atuou em parceria com pesquisadores brasileiros em um experimento conduzido durante dois anos em Campo Grande (MS). A equipe comparou ciclos da água em diferentes sistemas de produção. A absorção da água pelo solo foi medida até 1 metro de profundidade e Giese disse que uma análise em maior profundidade poderá ser feita para a obtenção de valores comparativos.

O pesquisador concluiu que as árvores compensam a reciclagem da água que foi perdida com o desmatamento na região do Cerrado. Mas para avaliar a sustentabilidade geral do sistema, é preciso ainda analisar outras compensações prováveis. Ele afirmou que a introdução de árvores nativas nos sistemas integrados é importante para se conhecer a produtividade e defendeu a alta diversidade no sistema. “A ILPF tem uma contribuição maravilhosa para o sistema de uso sustentável da terra e tenho certeza absoluta que estamos no caminho certo para explorar e chegar a dados que ajudem nesse processo geral”, concluiu.

Isabel Cristina Ferreira, pesquisadora da Embrapa Cerrados, apresentou estudos relacionados à pecuária de leite. Ela abordou o estresse de calor que afeta os animais, podendo impactar o consumo de matéria seca, a produção e a qualidade do leite, os índices reprodutivos e a ruminação. As pesquisas foram desenvolvidas em Brasília (DF).

A equipe avaliou a temperatura corporal e o comportamento de vacas leiteiras da raças Gir e Girolando. O tempo de ruminação foi 32% maior em vacas sob a sombra. Nas vacas Gir, a produção de leite foi 24% maior nos animais que tiveram acesso às áreas sombreadas. Na fase inicial de lactação (primeiros 75 dias), o aumento na produção de leite individual chegou a 18%, se comparadas as vacas que tiveram acesso a sombra e aquelas criadas a pleno sol. Nos três anos do experimento, o número de embriões das vacas em sistemas sombreados foi quatro vezes maior.

O terceiro palestrante foi Alexandre Berndt, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Pecuária Sudeste. Ele falou da importância que os créditos de carbono vêm adquirindo na atualidade, como forma de compensação ambiental. Disse que é possível praticar a pecuária que remova mais gases de efeito estufa da atmosfera do que emita. “Os sistemas integrados são únicos. É difícil compreender a dinâmica e a complexidade dessa integração”, afirmou.

Berndt apresentou resultados de pesquisas da equipe, que teve o plantio de árvores iniciado há dez anos em São Carlos, na fazenda Canchim. Lembrou que as operações de desbaste – quando algumas árvores são retiradas e a luz passa a atingir maiores áreas do solo – apresentaram resultados positivos para as pastagens e a produção animal.

Em relação ao balanço de carbono, o pesquisador afirmou que o pior resultado foi obtido em um sistema de pecuária extensiva. Os estudos contemplaram a absorção de gases pelas árvores e ele disse que é preciso aprofundar os estudos sobre a remoção realizada pelas raízes das plantas. Segundo Berndt, o financiamento verde e as políticas de pagamento por serviços ambientais potencializam a adoção da tecnologia de integração entre produtores. “Incentivos financeiros são importantes”, finalizou.

Congresso 

II Congresso Mundial sobre Sistemas ILPF (World Congress on Integrated Crop-Livestock-Forestry Systems) ocorre nos dias 4 e 5 de maio de forma virtual. Reúne cerca de 1.300 participantes e conta com 30 palestras e apresentação de 156 trabalhos científicos. O evento é promovido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Embrapa, Rede ILPF, Federação de Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul e Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul.

Fonte: Embrapa Pecuária Sudeste Por Ana Maio