Agropecuária investe em contratações com maior qualificação

Responsáveis por 76,8% das exportações goianas e por alavancar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), as empresas do agronegócio investem na contratação de profissionais mais experientes e qualificados para conduzir o processo de expansão, que se acentua. Segundo a consultoria Michael Page, houve aumento de 25% na contratação de trabalhadores com perfil técnico e de gestão no ano passado frente a 2016.

A empresa, especialista em recrutamento executivo de média e alta gestão e parte do PageGroup, detectou que os cargos mais demandados em 2017 no Brasil foram direcionados às áreas de operações, finanças e vendas. E vão de gestores de fazendas à nova figura do controller, que planeja, organiza e desenvolve os planos econômico-financeiros.

As contratações para a área de operações representaram 50%, seguida por finanças (30%) e vendas (20%). O diretor-executivo da Michael Page e especialista no segmento agro, Roberto Picino, afirma que, mesmo diante dos desafios, o setor se manteve estável ou em crescimento e é responsável por 23% do PIB brasileiro. E, ao mesmo tempo, há cenário de profissionalização, empresas em busca de profissionais com know-how e mais próximas do mundo corporativo.

Há, como pontua, uma crescente necessidade de gestores para posições estratégicas, com olhar mais holístico, atenção às inovações, ao meio ambiente e ao controle de processos. “É uma área em transformação e, hoje, apesar de ter a cadeia da agronomia e veterinária, tem mais cursos profissionalizantes”, destaca, ao citar que a bagagem e boa comunicação são também importantes.

Diferenciais

Formação técnica apurada, MBA e segundo idioma são diferenciais buscados para as pessoas que serão responsáveis pela nova fase das empresas, como a internacionalização. “A competição aumenta e é preciso diminuir os riscos para conseguir ter sucesso”, diz o consultor em agronegócio Donalvam Maia, de 26 anos, que foi um dos profissionais que se aproveitou desse novo momento do setor.

Constante atualização, experiência em duas multinacionais, acompanhamento de mercados importantes como Estado Unidos, China e Europa e cursos na B3 são diferenciais para auxiliar empresas e incentivar novas lideranças. “Tem de ter maior conhecimento de mercado futuro”, sugere Maia.

Conhecimento voltado para gestão é diferencial desejável

A geração de riqueza no campo traz necessidade de profissionais mais especializados e voltados para gestão, como explica o superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar Goiás), Antônio Carlos de Souza Lima Neto. Assim, os profissionais que conseguem assimilar o setor como um todo e não só o processo técnico na propriedade tem sido requisitado para ajudar nesse processo de evolução do setor agro. “É um crescimento de oferta constante que se deve a fatores como o aumento da produtividade, que demanda por serviços mais especializados e há incremento tecnológico e maior necessidade de acompanhar o crescimento produtivo”, diz. O superintendente ressalta ainda que há mais oferta também de formação de nível gerencial para tentar suprir a demanda especialmente para trazer mais resultados, otimizar os ganhos. “Há demanda por economistas, administradores, para mapear os processos dentro das propriedades, que é um negócio imenso e há trabalho.”

Mão de obra qualificada ainda tem de ser importada

O mercado goiano ainda precisa importar mão de obra de outros Estados para suprir necessidade de executivos no agronegócio. “Tem atratividade sob a localização e qualidade de vida, que é um ponto que atrai muitos profissionais”, pontua sobre Goiás o diretor-executivo da Michael Page, Roberto Picino. Ele ressalta que a importação para cargos mais altos ocorre porque as empresas não formam os profissionais e há um universo restrito de pessoas na mesma cadeia, na concorrência, e, por isso, é comum a prática.

“O agronegócio deixou de ser uma atividade amadora e cada vez mais se profissionaliza e precisamos de profissionais com formação e conhecimento tecnológico, o que é a dificuldade”, pontua o gerente de gestão de pessoas da SJC Bioenergia, Marco Aurélio Seraphim.

Na empresa, são vários os profissionais de outras localidades. “Infelizmente, há importação grande dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e do Nordeste. Mas, hoje também há empresas investindo em trainee”.

Quando é preciso trazer de fora, ele defende que, por outro lado, muitas vezes há um “prazo de validade”, porque há tendência de que o trabalhador volte para o local de origem e, também por isso, há grande esforço para ter mão de obra perene e local. Para área comercial, fiscal, contábil e de custos ele afirma que as dificuldades são maiores, porém acredita que o mercado já começa a acordar para essa demanda e surgem especializações específicas para auxiliar a ampliar a oferta desse perfil de profissional tão desejado.

“A demanda é grande e com um valor de remuneração elevado em função da escassez, por ser realmente difícil de encontrar. A gente entende que esse clico deve durar mais cinco ou seis anos até ter formação de profissional com uma nova visão”, estima Seraphim.

Enquanto isso, as remunerações acima da faixa de mercado e muitos atrativos têm atraído mão de obra para Goiás.

Atrativo para carreira e vida

Ao mesmo tempo em que o mercado goiano está aquecido para profissionais atuarem no agronegócio, eles aproveitam os atrativos para a carreira e também o ganho de qualidade de vida. Ao optar por sair de São Paulo para morar no interior goiano, o coordenador comercial da SJC Bioenergia, Bruno Ortiz Scanavini, alcançou novo status.

“Sou de Campinas, me formei na Unicamp, rodei pelo País e surgiu uma promoção na empresa para vir para cá, era uma proposta financeira bem melhor do que tinha em São Paulo”. Há seis anos em Quirinópolis, ele conta que sua formação, com direito a estágio fora do País, e a capacidade de se adaptar bem foram diferenciais. Já para se manter, conta que a flexibilidade e constante abertura para as novidades do mercado contam a seu favor. Como vantagem cita também que o mercado aquecido ainda proporcionou que sua esposa conquistasse também uma colocação em outra usina no Estado e assim a família está reunida em solo goiano. “Estamos em uma área que falta profissionais e em ascensão”.

Texto e foto: O Popular