Atraso nos embarques vindos da China pode prejudicar agronegócio brasileiro

Por Alexandre Camargo Costa*

Mês a mês, a pandemia contribui diretamente no impacto dos negócios internacionais. Dentro deste cenário global, vale destacar o problema logístico, principalmente com os embarques que partem da China.

Muitos carregamentos se acumularam nos portos, sem que haja espaço nos navios, nem contêineres disponíveis que deem conta da demanda. Assim, vive-se uma crise que pode impactar fortemente o agronegócio brasileiro.

Um ponto importantíssimo é o aumento dos preços dos fretes.  Estamos passando por um pico histórico. Há quase um ano, o frete de um contêiner de 40 pés, saindo da China para o Brasil, estava por pouco mais de $ 2.000. Hoje, chega a quase $ 10.000. Isso é um recorde. Então, o que se vê é uma crise sem precedentes, e não sabemos quanto tempo ela irá durar.

Na FNF Ingredients, trabalhamos com nutrição animal e importamos vitaminas, que são matérias-primas para produção de ração para aves, suínos, bovinos e diversas espécies. Com exceção do milho e do farelo de soja, todos os demais nutrientes são importados da China, que produz cerca de 90% das vitaminas consumidas no mundo. Logo, essa crise logística tem impacto direto no agronegócio brasileiro, que depende desses produtos. Se faltar uma vitamina sequer, já não é possível produzir a ração.

Além do alto preço do frete e da falta de contêineres disponíveis para as importações, causada pela alta demanda, há ainda o problema de haver congestionamento nos portos chineses. Muitos embarques não partiram e estão se acumulando. Ou seja, um embarque está atrasando o outro.

Assim a China, que geralmente demora três semanas para embarcar um pedido, atualmente não consegue fazer envios antes de abril. Logo, é muito provável que haja falta de matérias-primas no Brasil. Esse problema pode se estender por mais cerca de dois meses ou mais, por isso é importante, mais do que nunca, que os produtores brasileiros saibam se planejar.

É fundamental pensar nas próximas demandas e antecipar seus pedidos de importações para as empresas especializadas. O momento é oportuno para criar estoques e pensar em estratégias para que não falte matéria-prima. Os produtores estão habituados a esperar um pedido chegar em poucos meses, mas certamente poderá atrasar bem mais nas atuais circunstâncias. Com o planejamento adequado, os imprevistos poderão ser evitados sem maiores danos aos negócios brasileiros.

*Alexandre Camargo Costa é managing partner Brasil da FNF Ingredients