BRF estuda reduzir impacto em Mineiros

A BRF vai tentar realocar os empregados que serão demitidos da unidade de Mineiros, que terá a produção de perus finalizada em 16 deste mês e a de frangos reduzida para 65%. A informação foi dada nesta terça-feira (12) pelo vice-presidente da empresa, Jorge Lima, nesta terça-feira (12), em uma audiência pública realizada na Comissão de Agricultura do Senado a pedido da senadora Lúcia Vânia (PSB). Além disso, está em estudo da BRF a possibilidade de transformar a linha de abate de perus em frango.

O setor de avicultura vive uma grave crise que ameaça vários frigoríficos e produtores de aves em Goiás. Segundo Lima, apenas a unidade de Mineiros será afetada neste momento para adequar a demanda à produção. Todavia, a empresa está se ajustando à queda da demanda de carne de frango que vem correndo nos últimos anos. Foi a ameaça de desemprego e de fechamento de granjas que levou Lúcia Vânia a realizar o evento.

O ministro da Agricultura Blairo Maggi, que também participou da audiência, afirmou que o cenário de crise do mercado de carne brasileiro é resultado da pressão de produtores locais da Europa, incomodados com o crescimento da exportação de carne para o continente, por medidas protecionistas.

A primeira iniciativa nesse sentido foi feita em 2002, segundo o ministro, quando a comunidade Europeia criou barreiras para a importação de carne de frango. O Brasil recorreu à Organização Mundial do Comércio (OMC) e conseguiu derrubar o impedimento.

Em 2005, a importação de carne de frango pela Comunidade Europeia passou por uma nova regulamentação, que impôs duas restrições fiscais e sanitárias. As importações de até 21,6 mil toneladas ao ano ficaram isentas de imposto e para essa quantidade seriam aceitos até dois tipos de salmonelas. Acima dessa cota, foi fixado o imposto 15,4% e não seria aceito nenhum tipo de salmonela, relatou o ministro. “Isso é praticamente impossível, mas atendemos”, observou o ministro.

A mudança reduziu as exportações de carne de frango de 417 mil toneladas, em 2007, para os atuais 201 mil toneladas, informou Maggi. Contribuiu para essa redução as operações da Polícia Federal Carne Fraca e Trapaça, avalia o ministro. Segundo ele, as operações deram “a grande chance” que a Comunidade Europeia esperava para restringir a exportação de carne brasileira. “A Europa aumentou o nível de exigência e passou a fazer o controle de 100% da carne brasileira e a devolver contêineres”, relatou Maggi. O que culminou com a decisão da Comunidade Europeia de suspender a importação de carnes de 20 empresas, inclusive da BRF, sem data prevista para a retomada.

O ministro afirmou que as restrições à carne de frango brasileira não têm origem sanitária, mas trata-se de uma guerra comercial. “Caso o exportador se disponha a tarifa fixa de importação de 1.024 euros por tonelada de carne in natura ele pode exportar a carne in natura para a Europa”, relata Blairo Maggi, “E os argumentos contra a BRF – de que um ex-presidente da empresa foi detido em operação policial – não são válidos”, avalia o ministro.

A unidade da BRF de Mineiros será a única a sofrer os efeitos dessa restrição nesse momento, afirmou o vice-presidente da BRF, Jorge Lima. Segundo ele, a linha de perus será desativada para a empresa se adequar à demanda, que não cresceu no mercado interno e diminuiu no mercado externo.

A desativação deve levar à demissão, admitiu o vice-presidente. “Estamos estudando o que faremos com os empregados, se vamos conseguir reaproveita-los”, relatou Lima. Está em estudo também transformação a operação de abate de peru em abate de frango. Respondendo a um questionamento da senadora Lúcia Vânia, o representante da BRF disse que este estudo deve ser concluído no prazo de um mês.

Quanto à crise no mercado de frango, Lima afirma que se trata de um ataque às exportações brasileiras e que essa guerra tende a crescer em todo mundo. Começou com a Europa, mas já envolve as importações da Rússia, Arábia Saudita e China. “Esse ataque visa reduzir a quantidade de produto exportado e o preço da carne de frango”, afirma Lima. E atinge especialmente a BRF, que é líder do mercado.

Segundo o vice-presidente da BRF, caso o mercado externo continue sendo reduzido, a empresa terá que diminuir também a produção. “Porque não teremos para quem vender”, explica. Segundo Lima, 50% da produção de carne da BRF são destinados ao mercado externo e desses, 95% saem das unidades brasileiras. “Se fecham o mercado externo, atingem diretamente o Brasil”, afirma.

Lima afirmou que a empresa está tentando evitar o fechamento completo das unidades, fazendo ajustes nas linhas de produção. “O mercado interno não tem capacidade de absorver toda a produção, estimada em 200 milhões de quilos por mês, e, se destinarmos toda essa produção para o mercado interno, ameaçaremos os pequenos produtores”, afirma Lima. A senadora Lúcia Vânia vai comandar uma comissão que vai acompanhar a situação dos avicultores em Mineiros.

 A senadora Lucia Vânia vai comandar uma comissão que vai acompanhar a situação da BRF em Mineiros

Fonte/Foto: Senado Federal