Chuvas ameaçam colheita de soja em boa parte do Brasil

A região central do Brasil, que responde por grande parte da produção de soja do país, deverá receber na segunda quinzena de fevereiro grandes volumes de chuvas, cerca de o dobro do registrado em média nesta época em algumas áreas, potencialmente acentuando atrasos nos trabalhos da safra 2017/18 do maior exportador global da oleaginosa, segundo especialistas e dados meteorológicos.

Chuvas abundantes nesta época de colheita, além de gerar atrasos que podem repercutir no ritmo de exportações do país, representam uma chance maior de a soja ser colhida com umidade acima do normal, gerando descontos no preço para produtores que não dispõem de sistema de armazenamento com secador.

Perdas pelas chuvas também poderiam ocorrer em casos mais extremos, mas isso ainda não seria suficiente para alterar projeções da safra do Brasil, que pode atingir um recorde acima das 114 milhões de 2016/17, segundo alguns consultores. A situação é diferente da vizinha Argentina, onde as projeções de safra estão sendo reduzidas em função da severa seca.

“Está chovendo bastante em algumas regiões e isso deixa a soja muito úmida, o que acarreta em descontos na trading e até perdas nas áreas não colhidas”, disse o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Daniel Latorraca.

“Na verdade, quando temos atraso no plantio e uma concentração de chuvas em fevereiro, ficamos muito propensos a essas situações”, acrescentou ele, sobre as lavouras do principal Estado produtor de soja do país.

Quando o produtor não possui armazém próprio e tem de levar a soja diretamente para as instalações de alguma trading, o preço recebido geralmente sofre um desconto quando a umidade é superior a 15 por cento.

Os Estados do Centro-Oeste, que respondem por cerca de 45 por cento da safra brasileira estimada em mais de 111 milhões de toneladas pelo governo, deverão receber mais 200 milímetros de chuvas entre esta quinta-feira e o dia 2 de março.

Segundo dados do terminal Eikon, da Thomson Reuters, esse é o caso de algumas áreas como leste, noroeste, sul de Goiás e leste de Mato Grosso do Sul, enquanto norte, nordeste, sudeste de Mato Grosso também receberão volumes próximos de 190 mm.

O leste e o noroeste de Goiás, quarto Estado produtor de soja do país, receberão mais que o dobro da chuva que normalmente ocorre nas regiões na segunda quinzena de fevereiro, o mesmo acontecendo com o Mato Grosso do Sul, quinto produtor nacional. Mato Grosso verá chuvas 40 por cento mais volumosas do que o normal, no nordeste e sudeste.

“Portanto, com a consolidação de chuvas neste mês, devemos começar, cada vez mais, relatar problemas na colheita, que, como falei, vai desde desconto na classificação até abandono de área”, ressaltou Latorraca, dizendo que é impossível quantificar os problemas neste momento.

A colheita de soja em Mato Grosso puxou na última semana os trabalhos no Brasil, que avançaram para cerca de 10 por cento da área total, segundo a consultoria AgRural, que apontou um atraso de dois pontos percentuais ante a média de cinco anos.

A colheita de soja em Mato Grosso, que deve superar 30 milhões de toneladas, avançou na última semana, atingindo quase 30 por cento da área, um atraso de mais de 15 pontos ante a safra passada, segundo o Imea, órgão ligado aos produtores.

Goiás 

Goiás, que também está com o atraso, colheu cerca de 10 por cento da área de soja, de acordo com o analista técnico Cristiano Palavro, do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), também ligado à federação da agricultura.

“Essas chuvas, principalmente na próxima semana, podem trazer algumas complicações para a nossa colheita. Isso pode impactar a qualidade e até o potencial produtivo, mas vai impactar principalmente a janela de plantio de milho safrinha”, disse Palavro, lembrando que o cereal é plantado após a soja.

Ainda que alguns especialistas alertem que as chuvas poderão atrasar ainda mais o plantio de milho segunda safra, Palavro destacou que as precipitações também podem ajudar no desenvolvimento das lavouras, até porque previsões climáticas mais estendidas apontam tempo mais seco em março e abril.

Texto: Reuters

Foto: Kátia Goretti