Colheita de soja no norte de MT tem paralisações devido a protestos

A colheita de soja em diversas fazendas do norte de Mato Grosso está sendo paralisada nesta terça-feira, em um momento que seria de trabalhos intensos, devido à falta de diesel para abastecer o maquinário, em uma das consequências mais visíveis dos bloqueios nas estradas do Estado.

Há risco de perdas de parte da safra em função da paralisação dos trabalhos no campo, já que as chuvas previstas para o fim da semana poderão estragar os grãos maduros que restarem nas lavouras.

Os protestos de caminhoneiros nas rodovias por menores custos nos transportes restringem o fluxo de combustíveis no Estado e de outras mercadorias, incluindo o da própria soja para os portos exportadores.

O Mato Grosso é o maior produtor de grãos do Brasil, que só perde para os Estados Unidos na produção global da oleaginosa. Os contratos futuros da soja subiam mais de 2 por cento na bolsa de Chicago, referência internacional para os preços da commodity, com operadores citando os problemas no Brasil.

“Podemos perder parte da colheita… Sem diesel não se faz nada em propriedade nenhuma”, disse nesta terça-feira o presidente do Sindicato Rural de Sinop, Antônio Galvan, que já recebeu relatos de paralisação em diversas lavouras na região.

A região do médio-norte concentra cerca de um terço da produção de soja de Mato Grosso, principal produtor de grãos do país.

A BR-163, alvo dos protestos, responde por 70 por cento do escoamento da produção agrícola de Mato Grosso. A rodovia também é a única rota de abastecimento de diesel e outros insumos para os municípios da região.

O trânsito de veículos de carga está totalmente interrompido desde o final de semana em diversos pontos da estrada por empresários do setor de transporte e caminhoneiros que reclamam do alto preço dos combustíveis e do baixo preço recebido pelo frete.

O movimento começou na metade da semana passada em Mato Grosso e vem se espalhando pelo país nos últimos dias, com bloqueios em pelo menos dez Estados na segunda-feira.

O produtor João Marcos Bustamante pretendia colher 50 hectares nesta terça, mas não terá diesel para movimentar as máquinas.

“Nas distribuidoras não tem diesel. Vou ver se consigo um pouco no posto”, disse ele, ressaltando que diversas outras fazendas vizinhas, no município de Santa Carmem, também estão paradas.

Um levantamento da Reuters com 12 produtores da região de Sinop mostrou que a metade deles tem estoque de diesel para seguir operando no máximo até o fim da semana.

O produtor Adelmo Zuanazzi ainda tem 50 por cento de sua safra de soja para colher, ou quase 2 mil hectares no município de União do Sul, e tem estoque de diesel para somente três dias de trabalho.

Ele destaca que há previsão de chuvas fortes para o final da semana, quando, na melhor das hipóteses, poderia haver retomada do fornecimento de diesel, embora não haja nenhuma garantia de fim dos bloqueios.

“Vai começar a estragar a soja… O risco de perda é iminente”, afirmou.

Quando a soja madura recebe chuvas no campo, os grãos começam a fermentar e perder a qualidade, muitas vezes não atendendo os padrões exigidos pelos compradores.

DEMORA

Um empresário do setor de combustíveis de Sinop disse que, mesmo que os caminhões viessem a ser liberados nesta terça, demoraria pelo menos quatro dias para que o diesel começasse a chegar na cidade.

“Só começaria a amenizar o problema no sábado”, relatou Jonas de Paula, proprietário de um grande posto e atacadista de combustíveis de Sinop.

A empresa dele tem pedidos não atendidos para 800 mil litros de diesel nesta terça.

Até sábado, as encomendas de diesel não atendidas deverão chegar a 1,2 milhão de litros, afirmou ele. O volume equivale a uma semana de vendas da empresa, que tem 17 caminhões tanque parados nos bloqueios, tentando sair de Mato Grosso para buscar diesel nos fornecedores.