Cooperação internacional pretende alavancar produção de mel na Etiópia

A região norte da Etiópia possui características que limitam a produção agropecuária, com um clima que varia de semiárido a desértico. Para driblar esse contexto, a comunidade rural investe na criação de pequenos animais, e  recentemente houve maior interesse pela apicultura, foco de projeto de pesquisa desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com a Universidade de Mekelle.

O objetivo principal das ações de pesquisa é ampliar em 20% a produção de mel nos arredores de Mekelle, capital da província de Tigré, por meio do estabelecimento de um amplo programa de criação de manejo de Apis mellifera, com o envolvimento de 1500 apicultores, além de estudantes de mestrado e de doutorado.

“É impressionante como a apicultura na província de Tigré, na Etiópia, faz diferença na vida dos produtores rurais. As chuvas são concentradas em quatro meses do ano, nesse período emergem várias plantas repletas de néctar, ideais para a produção de mel, e geram, assim uma importante renda, que permite, em alguns casos, a manutenção das famílias durante o ano todo”, constatou a pesquisadora da Embrapa Acre, Patrícia Drumond que esteve no continente africano para desenvolver atividades do projeto “Community Based Honeybee Breeding for Food Security among Rural Households” (Manejo produtivo de abelhas Apis mellifera pelas comunidades locais a fim de alcançar a segurança alimentar sustentável na área rural na Etiópia), em junho.

“Nossa expectativa é desenvolver, junto com os pesquisadores da Universidade Mekelle, o Programa de Melhoramento Genético de Apis melífera, no qual serão selecionadas as mais produtivas, menos agressivas e mais higiênicas, fatores que influenciam na qualidade do mel e na inserção do produto no mercado internacional”, conta Drumond.

Segundo o coordenador do projeto na Etiópia, o professor da Universidade de Mekelle, Mohammed Tilahun, os apicultores do país reconhecem que nem todas as abelhas são similares na produtividade de mel e na tolerância à seca, mas ainda não tiveram a oportunidade de realizar aa seleção de espécies. “Eu espero que o nosso projeto possa estabelecer a base de conhecimentos sobre genética de abelhas.  Ao fazer isso, nosso objetivo é que a produtividade individual das colônias e a produção total de mel aumente no país. A Embrapa possui tecnologias avançadas e conhecimento sobre a genética das abelhas e qualidade do mel e nós estamos dividindo esse conhecimento e essa infraestrutura por meio desse projeto, para que possamos aproveitá-los na Etiópia”, afirma.

Esse ano, cinco profissionais da Universidade Mekelle farão treinamento no Brasil, na Embrapa Meio Norte (Teresina/PE), com apoio da Universidade Federal do Piauí. Além disso, a caracterização genética das colônias de abelhas selecionadas será conduzida no Brasil até que os equipamentos estejam completos na Universidade de Mekelle.

“Atualmente, nós estamos trabalhando na identificação das melhores colônias, em relação à produtividade e adaptação, baseados na experiência de apicultores agroecológicos e treinando-os por meio das ações do projeto. Também estamos identificando áreas potenciais para apicultura na região de Tigray para iniciar a atividade com novos colaboradores”, conta Tilahun.

Cooperação Internacional
O Projeto “Community Based Honeybee Breeding for Food Security among Rural Households”, iniciado em 2017 com previsão de conclusão em 2019, é o segundo projeto de cooperação internacional com foco em produção de mel entre Embrapa e Universidade de Mekelle. É financiado pelo M-BoSs, programa que se destina a fortalecer e aprofundar a cooperação entre instituições africanas e brasileiras, por meio de projetos de pesquisas com foco em desenvolvimento, que conta com apoio da Fundação Bill & Melinda Gates, o Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido (DFID), do Fórum para Pesquisa Agrícola na África (FARA) e de diversos outros parceiros.

No primeiro projeto da Embrapa desenvolvido em parceria com a Universidade de Mekelle, entre 2011 e 2013, foram analisadas a produtividade das diferentes espécies e subespécies de abelhas Apis utilizadas pelos apicultores na região de Mekelle, bem como a correlação entre esta produção e o pasto apícola na área de entorno dos apiários. Neste período, 14 apicultores, um estudante de mestrado e um estudante de graduação foram treinados como multiplicadores e apoiaram outros apicultores em sete distritos da região. Este projeto foi executado no âmbito programa “Agricultural Innovation MKTPlace”, uma iniciativa internacional que visa beneficiar pequenos produtores da África, América Latina e Caribe.

Fonte: Embrapa