El Niño perto do fim?

O sexto mês do ano foi marcado por um bloqueio atmosférico, ou seja, um sistema de alta pressão atmosférica manteve o tempo seco na maior parte do Estado, impedindo que as frentes frias avançassem. Com isso, o acumulado de precipitação não passou dos 50 milímetros (mm) na metade norte do Rio Grande do Sul, mas chegou aos 239 mm em Santa Vitória do Palmar. Assim, todas as regiões arrozeiras do RS ficaram com precipitação entre 50 e 100 mm abaixo do normal, exceto a Zona Sul, que registrou precipitação de até 200 mm acima do padrão normal para o mês.

No entanto, o maior destaque ficou por conta das temperaturas, muito acima da média climatológica. Como o bloqueio atmosférico reteve as chuvas no Uruguai e extremo Sul gaúcho, as demais regiões tiveram aumento significativo e duradouro nas temperaturas. Em média, a temperatura mínima variou de 12 a 14°C, cerca de 4°C acima do normal.

Já a média da temperatura máxima variou de 22 a 24°C, ficando até 5°C acima do padrão normal. Em virtude disso, foram observados alguns dias do mês com temperaturas superiores aos 30°C. Este padrão é um pouco fora do normal, no entanto, não é raro de ocorrer durante invernos sob a influência do fenômeno El Niño, mesmo que este seja de intensidade fraca.

O El Niño está em fase final, mas seus efeitos ainda deverão ser percebidos, ao menos até outubro. Em boletim divulgado do dia 11/07, o Centro Americano de Meteorologia e Oceanografia (NOAA), diminuiu a chance de El Niño para 40%. Em contrapartida, a chance para voltar a um período de Neutralidade subiu para 60%.

Observa-se que a região do Oceano Pacifico mais aquecida é a mais central. Na região próxima à Costa do Equador, as águas estiveram com anomalias mais frias, o que corrobora com a deficiência de chuvas no sul do Brasil em junho. Esta característica deve continuar nas próximas semanas, já que as águas subsuperficiais estão sustentando este resfriamento.

E o que isso quer dizer? Quer dizer que, possivelmente, não se terá chuvas tão volumosas e expressivas nas próximas semanas. Ou seja, julho deverá ter chuvas dentro ou até mesmo um pouco abaixo do normal.

Voltando a falar das águas subsuperficiais, as anomalias positivas de temperatura, que vinham ocorrendo desde março de 2018, perderam bastante intensidade no último mês e, em compensação, anomalias negativas surgiram e se expandiram. Foi este fato que fez com que as atualizações dos modelos diminuíssem a tendência de continuação do El Niño e trouxessem a maior probabilidade da volta da Neutralidade climática para o período da primavera e verão.

As águas quentes do Oceano Atlântico Sul voltaram a se intensificar em junho, podendo este fator compensar, em alguns momentos, as anomalias negativas de temperatura. Porque isso? Porque enquanto anomalias negativas de temperatura diminuem as chances de chuva no Rio Grande do Sul, anomalias positivas de temperatura no Atlântico Sul aumentam as chances e a qualidade das chuvas por aqui. É como um cabo de guerra entre duas forças!

Qual a recomendação? Ficar de olho nas próximas atualizações da previsão climática, pois estamos em período de transição entre duas fases do fenômeno El Niño-Oscilação Sul, da fase El Niño para a fase Neutra!

Com relação às temperaturas, o padrão para o restante do inverno é de que as médias fiquem ligeiramente acima do normal. Como mencionado no boletim anterior, incursões de massas de ar polar ocorrerão, no entanto não serão duradouras. Não se descarta a possibilidade de massas de ar frio ingressarem no Estado em agosto e setembro, sob o risco de geada tardia. Mas, por enquanto, não há expectativa de uma nova massa de ar polar tão intensa como a que ocorreu no início de julho.

O modelo climático do INMET/UFPel mostra que em julho as chuvas ficarão dentro do normal na maioria das regiões e abaixo do normal no setor norte/nordeste do estado. Para agosto, este modelo indica chuvas abaixo do normal em todas as regiões, sendo que na metade sul os valores ficariam -25 e -50 mm. Já para setembro, o modelo indica chuvas dentro do normal para toda a metade sul do Rio Grande do Sul.

Outros modelos (CPTEC-brasileiro, INMET-brasileiro, IRI-americano, CFS-americano) mostram que entre agosto e setembro haverá possibilidade de se ter alguns momentos com menor ou nenhuma precipitação, ou seja, estiagens curtas, com 15 a 20 dias de pouca chuva. Por um lado, isso é bom, pois o produtor terá um último momento para realizar os preparos de solo antes de iniciar a semeadura da safra 2019/2020.

No entanto, a partir de novembro/dezembro, as chuvas poderão ficar mais irregulares, devido à aproximação do verão (chuvas de verão, localizadas) e devido à Neutralidade. Com isso, ressalte-se ter atenção redobrada com os reservatórios de água para a safra 2019/20, pois se tem o risco de ocorrência estiagens regionalizadas durante o verão.

Fonte: IRGA

Crédito: Celso Dias