Energia renovável: nova aliada do campo

Mais acessível por conta do barateamento da tecnologia e do surgimento de linhas de crédito, geração fotovoltaica conquista espaço nas propriedades com promessa de zerar conta

Com sol em abundância, é esperado para os próximos anos um crescimento explosivo da geração de energia solar fotovoltaica no País. E o campo não ficou de fora. Apesar de representar porcentual ainda pequeno da matriz energética brasileira (1,02%), a microgeração e a minigeração distribuídas em residências, comércios, indústrias, propriedades rurais e prédios públicos passaram de 0,4 megawatts (MW) de potência instalada, em 2012, para 464,5 MW até novembro de 2018. Sendo que 7% são voltados para consumo rural, segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar).

Só para a classe rural, a produção passou de zero para 32,4 MW nos últimos seis anos. Nesse aumento da demanda pela geração, que é baseada na conversão direta da radiação solar em energia elétrica de forma renovável, Goiás é o sétimo Estado em número de conexões totais e o sexto na geração rural. São mais de 1,8 mil conexões ao todo, sendo 70 delas nas propriedades rurais. O avanço do uso dessa tecnologia ocorre diante do potencial de economia que ela pode trazer, pois a conta de energia pode ficar com valor mínimo e o investimento tem ficado mais acessível.

O presidente do Conselho de Administração da Absolar, Ronaldo Koloszuk, afirma que o crescimento da microgeração e minigeração distribuídas é impulsionado pela redução de mais de 75% no preço da energia solar ao longo da última década, pelo aumento nas tarifas de energia elétrica e pelo crescimento da responsabilidade socioambiental dos consumidores. Os principais usos no campo têm sido para bombeamento de água e irrigação, além de uso para secadores, iluminação, sistema de segurança e nos processos produtivos.

O avicultor de Palmeiras de Goiás, Ivan Klein, adotou a geração de energia solar fotovoltaica para atender parte da produção de frangos. São dois núcleos que possuem sistema “dark house” – modelo de granja climatizada que consome mais energia do que o convencional –, em que cada um abriga 120 mil aves e faz seis lotes por ano. “Começou a funcionar em junho de 2018 e, entre os motivos de investir, o primeiro é porque o custo de energia está sempre aumentando e acima da inflação. Segundo porque agora há financiamento e o montante é alto”, pontua.

Avanços

Mesmo com todos os avanços, o uso da geração de energia solar exige estudo aprofundado quando é feita no campo, como ressalta o doutor em qualidade de energia e coordenador do programa de pós-graduação em Engenharia Aplicada e Sustentabilidade do Campus Rio Verde do Instituto Federal Goiano (IF Goiano), João Areis. Ele diz que por ser aplicação maior do que o de uma residência, por exemplo, é preciso estudo maior e sistemas isolados são mais complexos. “Para atender motores para irrigação precisa de um dimensionamento específico”, exemplifica.

Ele explica que para a maior disseminação desse tipo de geração de energia o governo tem incentivado. O programa estadual Goiás Solar é um exemplo disso, e há estudos para auxiliar na redução dos custos. “No IF Goiano, temos programa de pós-graduação na parte de eficiência energética e um dos projetos é para sistema de bombeamento e irrigação para aprimorar a tecnologia já existente, facilitar a disseminação e aplicação no campo”.

Para possibilitar que produtores abram mão do sistema de geração a diesel, os estudos são para reduzir preço para esse uso específico. Como a tecnologia vem de fora do País, ao projetar o sistema de geração solar há desafios porque são poucas empresas e com longo prazo de entrega. “A pesquisa que desenvolvemos é para tentar ver se é possível trabalhar com equipamentos disponíveis na região para fazer com que mais pessoas tenham oportunidade de usar e não dependam dos mesmos fornecedores para manter em funcionamento”.

Segundo o professor, há ampla gama de fornecedores quando se trata de geração de energia fotovoltaica. Porém, quando o uso é para sistema de bombeamento há forte redução dos fornecedores. Isso porque há tecnologia específica para atender o sistema de bomba a inversores. “O que tentamos é pegar tecnologia existente na região e fazer adaptações para atender com a mesma qualidade”, detalha sobre o estudo desenvolvido há um ano. Além da tecnologia de alto valor, ele lembra que a falta de mão de obra qualificada para o trabalho também é desafio a ser superado enquanto a demanda para atender o campo cresce.

Fonte: Faeg – Texto: Katherine Alexandria, especial para a Revista Campo