Estudo realizado pela Esalq avalia rentabilidade de sistema de irrigação por pivô linear móvel no cultivo de cana-de-açúcar

Conforme dados levantados pelo Pecege/CNA, o custo de aquisição e produção de cana-de-açúcar, matéria-prima do setor, contabilizou na safra 2015/16 aproximadamente 68% do custo total de produção da agroindústria, o que representa o maior impacto no custo do produto final.

Dessa forma, as usinas têm concentrado esforços na obtenção de melhores resultados agrícolas, na qual a irrigação apresenta-se como uma possível alternativa. Um estudo realizado na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP) avaliou a rentabilidade de um sistema de irrigação por pivô linear móvel de cana-de-açúcar em uma usina no Estado de Goiás.

Para estimativa de custos, foram levantados todos os custos fixos de investimentos e os custos variáveis anuais da operação como custo da água, da energia elétrica para bombeamento, da mão-de-obra, manutenção e outros. Para análise dos benefícios foram considerados os benefícios diretos de aumento da produtividade e longevidade dos canaviais.

O custo de incremento de produção da cana pela irrigação apresentou valores inferiores ao custo de produção de cana de sequeiro, para a produção marginal de uma tonelada de cana irrigada, seria acrescido o custo aproximado de R$ 42,00. Conforme dados do relatório Pecege/CNA, os custos de produção de cana-própria pelas usinas foram de R$ 92,65, R$ 87,93, R$ 110,85 por tonelada para as regiões Centro-Sul Tradicional, Centro-Sul Expansão e Nordeste, respectivamente na safra 2015/16. Ou seja, o custo de expansão da produção agrícola é muito menor pela implantação da irrigação do que pela expansão da área de cultivo. Para expandir os canaviais, a usina terá que adquirir ou arrendar novas terras, preparar o solo e formar um novo canavial.

Um dos pontos mais interessantes para a irrigação de cana-de-açúcar por usinas é o aproveitamento das sinergias que ocorrem desse sistema. O maior custo da irrigação ocorre pela energia elétrica utilizada no bombeamento de água para o sistema. No estudo, esse custo correspondeu por 51% do custo total de irrigação, sendo que a energia elétrica utilizada na irrigação foi co-gerada pela própria usina a um custo muito inferior do que o de compra de energia elétrica da rede.

A produtividade média dos canaviais de sequeiro foi de 102 t/ha, demonstrando excelente nível tecnológico da usina. A produtividade do canavial irrigado em diferentes condições, incluindo irrigação suplementar e de salvamento em que não é atingida toda a demanda hídrica da cultura e, portanto, não foi expressa todo o seu potencial produtivo, foi de 116 t/ha. Assim, considerando apenas o benefício direto do acréscimo de produtividade, encontrou-se um lucro médio de R$ 4,73 por tonelada ou R$ 66,22 por hectare.

Além de ganhos em produção o canavial irrigado obteve uma maior longevidade, segundo dados da pesquisa. Enquanto o canavial de produção em sequeiro foi reformado, em média, a cada 6 anos, o canavial irrigado atingiu 8 anos antes de ser reformado. Esse ganho de longevidade ocasionou menores custos de formação do canavial, uma vez que este valor destinado à reforma foi diluído em um período maior (8 anos). Acrescentando este benefício da longevidade do canavial, o lucro médio do sistema de produção foi R$ 22,53 por tonelada ou R$ 315,19 por hectare.

A prática de irrigação pelas usinas de cana-de-açúcar possui um grande potencial rentável, apesar de cada usina apresentar uma realidade diferente, sendo que em muitos casos a irrigação não seria possível devido à ausência de água disponível para outorga, por exemplo. Em outros, o regime pluviométrico melhor distribuído e mais abundante pode reduzir os ganhos de produção e tornar a irrigação inviável.

Os elevados custos iniciais de implantação do sistema de irrigação não incentivam a prática pelos produtores com baixa capacidade de geração de caixa ou com margens apertadas. No entanto, a irrigação apresenta-se como uma forma de reduzir riscos de perdas, reduzir ociosidade industrial, aumentar a produtividade agrícola, apresentar uma destinação apropriada à vinhaça e águas residuárias da indústria, melhorar a longevidade e qualidade dos canaviais e apresenta como oportunidade sinérgica o baixo custo de obtenção da energia elétrica co-gerada. Sendo assim, uma tecnologia aliada às necessidades do setor.

Fonte: Cana Online – Aline Bigaton e Flávio Campos, pesquisadores do Pecege