Fava Neves: “Guarde soja, pois viés é de alta”

“Podemos ter algum evento climático no Brasil e Argentina, além de menos soja nos EUA”

Na avaliação de Marcos Fava Neves, especialista em planejamento estratégico do agronegócio, o momento não é de vender toda a soja disponível. “ Eu, se tivesse, venderia apenas para quitar os investimentos (custos) e guardaria parte da produção, pois meu viés é de alta”, afirma o também professor das Faculdades de Administração da USP e da FGV.

“Fico preocupado pois estamos com problemas no clima afetando a produtividade e produção da soja e do milho, a falta de chuvas em algumas regiões está dificultando o semear da segunda safra, e quanto mais tarde for semeada, mais risco corre de geadas e secas. Podemos ter algum evento climático ainda nesta fase final no Brasil e na Argentina, e os comportamentos de plantio nos EUA mostram até agora menos soja”, justifica.

De acordo com o especialista, boa parte da soja brasileira seguirá para a China, cujas importações são estimadas em 87 milhões de toneladas: “Praticamente está fechado o fluxo de soja entre os EUA e a China. Em dezembro foram importadas apenas 70 mil toneladas, contra 6,2 milhões no ano anterior. 2018 foi o pior dos últimos 10 anos. A análise do ano mostra importações de 16,6 milhões de toneladas, menos da metade das 33 milhões de 2017. Do Brasil em dezembro apenas a China comprou 2,43 milhões de toneladas a mais que o mesmo mês de 2017. A tarifa de 25% começou em junho”.

Fava Neves aponta ainda que o cenário é de “estabilidade nos números” da economia brasileira, mas há preocupações com a capacidade do novo Governo em aprovar as reformas necessárias, que sumiram da mídia graças ao triste episódio de Brumadinho, que arrasou todo o país moralmente. O último Relatório Focus do BC coloca o crescimento do PIB em 2019 em 2,53% e 2,60% em 2020. O câmbio em 3,75 e 3,78 respectivamente para os dois anos, a taxa de inflação em 4% para os dois anos, e a taxa Selic em 7,0 e 8,0%, respectivamente. “Tanto na arena mundial como no Brasil são números um pouco piores que os anteriores, mas ainda positivos ao agro, pois tem crescimento pela frente”, conclui.

Fonte: Agrolink Por Leonardo Gottems