Jotabasso Entrevista: “Agora é o momento de ganharmos eficiência”

Para pesquisador, mudanças no cenário político apontam para novo momento em busca da rentabilidade

Na primeira parte da nossa conversa com o engenheiro agrônomo Mauro Osaki, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq), foi abordada a importância de uma safra de inverno assertiva para evitar mais prejuízos no ciclo 2018/2019.

Nesta segunda parte da entrevista, o especialista amplia sua análise e fala a Sementes Jotabasso sobre a importância de o produtor buscar mais eficiência em sua atividade.

Mauro Osaki é mestre em Ciência Econômica Aplicada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos.

JB – Optar pela compra de sementes de alto vigor é uma despesa a mais no bolso do produtor?

Tem muita gente que busca o vigor, o potencial máximo de produtividade, mas esquece que é preciso colocar essa semente em um solo que possa atender a necessidade. O produtor tem que saber se a área dele tem potencial para atender essa semente. Se vai dar conta, então pode apostar em um vigor bom porque aí vai responder. Mas também é importante lembrar que quem define o resultado é a condição climática: luminosidade, quantidade de chuva e temperatura, esse tripé é que vai definir.

JB – Em quais ‘etapas’ ou setores da produção o produtor rural não pode economizar atenção para evitar problemas em seus ganhos?

Não se deve economizar no planejamento estratégico de produção e nas estratégias de venda também. É preciso dedicação. O produtor precisa sentar à mesa, conversar e pensar como ele vai executar o trabalho – é o planejamento. Na prática, ele já sabe o que está fazendo, só que o planejamento é importante para tomada de decisão no melhor momento: qual insumo usar, qual defensivo? Tem oportunidade para ir comprando esses produtos com antecipação?

No entanto, existem outras questões que ficam meio abertas devido às condições climáticas, como a semente que vai ser utilizada. A previsibilidade não é exata. O que foi previsto para daqui seis meses a gente sabe que pode acontecer, como pode não acontecer. O lado mais difícil é acertar na escolha da semente adequada para a condição climática que vem à frente.

Essas são etapas para as quais não se pode economizar dedicação e que precisam ser continuamente revisadas para buscar eficiência. Parece óbvio, mas toda vez que uma etapa do planejamento for revisada é possível identificar novas possibilidades ou ainda ver se o produtor tem algum vício, uma falha que sempre comete e, assim, ir melhorando para chegar à eficiência.

JB – E como gerenciar da melhor maneira esse planejamento?

Se ele tiver um profissional, um técnico que possa auxiliar, melhor ainda. Mas não uma pessoa que fala o que ele quer ouvir, mas alguém que contrapõe ideias e faz ele refletir. Esse é o desafio atual: fazer pensar. Quem só endossa o que eu penso me mantém na mesma. O interessante é alguém que eventualmente te faça pensar em outros caminhos, essa é a importância de ter um engenheiro agrônomo, um técnico pra ajudar. Assim como visitas e dias de campo. Às vezes está todo mundo fazendo do mesmo jeito, mas aí em um dia de campo você conhece outras coisas aí você melhora. Se a parceria funcionar bem, alguém pra compartilhar a reponsabilidade e descentralizar decisões, a tendência é atingir resultados ainda melhores.

JB – No início da safra o Brasil vivia grande expectativa em torno das eleições para presidente da República. Atualmente, o cenário político é outro. As reações do mercado a essas mudanças ainda podem trazer alterações nos ganhos do produtor com esta safra? Se sim, de que maneira?

Até mesmo antes das eleições eu trabalhava com dois cenários:

Se o Haddad ganhasse, candidato do PT, sabíamos que o dólar teria valor alto no primeiro trimestre e, como consequência, o valor pago pela soja no mercado internacional seria melhor. Então, em pleno momento de comercialização, o valor da soja seria mais positivo, mas essa não era a aposta que o setor queria.

No segundo cenário, que se confirmou com a eleição do Bolsonaro, o mercado já reagiu diferente, porque essa reação dependia do candidato eleito. Mesmo com o mercado ainda um pouco desconfiado, o dólar veio recuando, abaixo de R$ 3,80. Isso é ruim para a venda, o prêmio desvalorizou, o preço da soja não está sendo tão bom assim e veio, ainda, junto com a queda de produtividade. Com isso, sabemos que a receita nesta safra vai cair, esse era e é o maior problema. Eu falava que não seria tanto o custo, mas o que vai sobrar no bolso do produtor do que foi feito e, com a queda da produtividade, a rentabilidade vai ficar mais problemática ainda. Isso mostra que a segunda safra não pode ter erro, é preciso trabalhar muito bem para não perder ainda mais dinheiro.

O ganho que o produtor registou nos últimos seis anos não vai existir mais. Essa menor rentabilidade que estamos vivendo agora é porque tínhamos um câmbio que mascarava os problemas, eu dizia: “só estamos assim por questões políticas”. Quem não se preparou naquela época, agora vai precisar se preparar “na marra”. Nossos ganhos não vão ser mais iguais aos de antes, por isso, agora é o momento ganharmos eficiência.

É um ano complicado, com nova presidência e mudanças, mas mostra o ânimo de um setor, com esperança, expectativas boas, como a reforma da previdência. Então é provável que o real fique mais forte. Com a nossa moeda se fortalecendo, o valor da soja, em reais, vai ficar mais barato, dificultando a rentabilidade. Esse ganho de competividade que tínhamos com dólar alto, vamos perder. Essa é a uma realidade que os Estados Unidos já viveu. Agora nós vamos precisar melhorar na eficiência, ampliar produtividade, para então voltar a falar de custos, afinal, o preço (de venda) sobe de escada, mas desce elevador.

Fonte: Jotabasso