Melancia perde espaço para a soja na região

Terra usada para cultivar o grão não pode ser aproveitada para a fruticultura, por causa dos herbicidas utilizados

A cultura da melancia está perdendo espaço para a soja nas lavouras da região. Segundo números do IBGE, na safra passada a fruta ocupou 2 mil hectares em Rio Pardo e, neste ano, foram apenas 500. O assessor técnico regional da Emater/RS-Ascar de Soledade, Vivairo Zago, explica que a diminuição ocorre em função dos herbicidas usados na cultura do grão. Um dos mais comuns é o 2,4-D, que depois de aplicado na lavoura fica no solo e acaba afetando a fruticultura. “Se tiver resquícios do 2,4-D no solo a fruta não desenvolve e as folhas ficam esbranquiçadas, sintomas comuns de fitotoxicidade.”

Os agricultores do Vale do Rio do Pardo têm tido mais dificuldade a cada ano para encontrar áreas para plantar a safra de melancia. O recomendado é que não seja cultivada a mesma planta em um mesmo terreno dois anos seguidos. “Há risco de bactérias e fungos ficarem no solo e se fortalecerem de uma safra para outra. Por isso é indicado que nunca se repita uma mesma planta na área por safras seguidas, desde que sejam culturas que não usem herbicidas como o 2,4-D”, esclarece o assessor técnico. Além disso, normalmente são procuradas terras virgens, de campo nativo, sem tantas plantas invasoras.

O agricultor Moacir Rosa plantou 15 hectares nesta safra na lavoura que mantém na localidade de Pederneiras, em Rio Pardo. O trabalho começou ainda em julho, com a semeadura em estufa, e as mudas só foram para a lavoura em setembro. A colheita começou no dia 26 de novembro e Rosa já retirou melancias de 60% da área plantada. O restante são frutas plantadas mais tarde.

As melancias colhidas em Pederneiras, a 18 quilômetros do Centro de Rio Pardo, são vendidas para toda a região e localidades mais distantes, como o município de Júlio de Castilhos. Os preços variam, de acordo com o escritório da Emater do município. O quilo nesta safra está entre R$ 0,40 e R$ 0,75.

Nas bancas os consumidores encontram frutas inteiras por R$ 10,00. A mais vendida é a do tipo Crimson, mais redonda e também a preferida dos compradores. Segundo o agricultor Zimar Rodrigues de Barros, a variedade é a que tem mais saída na banca que mantém em Santa Cruz. Há 25 anos ele deixa a chácara em Arroio das Pedras, no interior de Rio Pardo, e monta a banca no Bairro Bonfim. Nesta safra chegou em 1° de dezembro.
Mais doces

Tanto Moacir Rosa quanto Zimar Rodrigues de Barros ressaltam que as frutas que estão chegando nas bancas agora sofreram com o forte calor dos últimos dias, mas isso não tira o sabor. Muito pelo contrário, deixa elas bem mais doces. “O calor afeta o visual, deixando a casca amarelada, mas a fruta fica muito mais saborosa, mais doce”, comenta Rosa.
A safra deste ano ficou prejudicada no início com as noites frias, já que as primeiras mudas vão para a lavoura ainda no inverno. Depois, com a chegada da primavera e os dias mais longos, as frutas se desenvolveram melhor. “A melancia precisa de calor, luz solar, água e nutrientes para se desenvolver. A temperatura ideal para a cultura é de 25 a 30 graus”, explica Vivairo Zago, da Emater. Em outras regiões do Estado os produtores chegam a usar pequenas estufas na lavoura para proteger o pé do frio até que a planta desenvolva as ramas.

Encruzilhada do Sul

Em Encruzilhada do Sul as lavouras de melancia mantiveram a mesma área da safra passada, com 2 mil hectares plantados. Mesmo assim, a safra tem passado por dificuldades em razão do clima. Segundo o extensionista da Emater do município, Marco Antônio dos Santos, nos primeiros dias de 2019 as frutas sofreram com o forte calor, que acaba atrapalhando o desenvolvimento, diferente de quando já estão maduras e podem ser colhida, como é o caso de Rio Pardo. E nesta semana a chuva vem causando preocupação. A alta umidade provoca o surgimento de fungos, que prejudicam as melancias. No município a colheita começou há pouco tempo. Por ser uma região mais fria, os produtores plantam as mudas na primavera.

Fonte: Gazeta do Sul – Santa Cruz do Sul