Os desafios da agricultura do futuro

 

Por João Marchesan*

Estamos vivendo um novo momento da agricultura com as máquinas agrícolas se modernizando cada vez mais, ou seja, com máquinas autônomas que serão totalmente movidas a energia elétrica em um futuro bem próximo, construindo assim para diminuição da poluição.

Além das máquinas, nós temos muito mais tecnologia de todos os implementos para o preparo do solo a fim de que o agricultor tenha mais economicidade, eficiência, produtividade na distribuição dos fertilizantes e na deposição das sementes. Tudo isso aliado a uma agricultura de precisão que tem feito a diferença dentro daquilo que nós chamamos de agricultura 4.0 e a quarta revolução agrícola.

Essas tecnologias mudam a forma de como encaramos o processo de produção, abrindo novos mercados e gerando melhores produtos e oportunidades. Isso explica boa parte dos bons resultados colhidos pelo agronegócio brasileiro.

Além disso, a evolução 4.0 pressupõe vários benefícios entre eles os financeiros e esta é a alavanca que deve acelerar a adoção das novas tecnologias. Esta revolução propicia gestão de grande volume de dados e desenvolvimento de sistemas de informação de apoio à tomada de decisão, e também máquinas cada vez mais flexíveis, adaptáveis, autônomas e inteligentes, com leitura ambiental em tempo real e respostas imediatas. Tudo isto irá melhorar a eficiência dos processos, nas dimensões mecânica/eletrônica, agronômica e financeira, resultando em ganhos de produtividade e melhoria nos aspectos de sustentabilidade no campo.

Apesar desse progresso, nós temos que entender que hoje no Brasil tem aproximadamente um 1,2 milhão de máquinas agrícolas e metade delas têm mais de 10 anos de idade e isso implica dizer que nós precisamos renovar o nosso parque o mais rápido possível. O agricultor hoje com mais renda, com condições de financiamentos que necessita pode modernizar esse parque o mais rápido possível para dar uma evolução tecnológica do que eles precisam.

Outro aspecto que impacta o avanço do agro 4.0 é a questão da conectividade no campo que é ainda o grande gargalo e pode ser solucionado com a liberação de redes Rede LPWAN (LoRa , SigFox, Ingenu, NB-IoT, LTE-M ), satélites, ampliadores de sinal e banda de 450 mhz e a  implementação de faixas privadas de 5G.

A falta de acesso à internet é uma restrição ao processo de envio de dados para nuvens. Mesmo o agricultor podendo armazenar os dados nas próprias máquinas e depois descarregar nos pontos de internet nas sedes das fazendas, porém ao optar por essa alternativa o produtor perde o benefício dos dados online em tempo real.

Para se ter uma ideia dessa realidade, o Censo Agropecuário de 2017, elaborado pelo Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que o Brasil tem 5,07 milhões de estabelecimentos rurais e 71,8% desses não têm acesso à internet (3,64 milhões de propriedades). Já estudo do AgroHUB mostrou que apenas 14% das propriedades rurais têm alguma cobertura para internet. Então fica o desafio para todos nós de como ampliar a conectividade no campo.

Outro grande desafio na modernização no campo para o uso adequado destas tecnologias é a capacitação ou educação na utilização de todas as ferramentas que estão disponíveis para os produtores. Esta capacitação é necessária em várias frentes, iniciando pelo gestor ou proprietário da fazenda que deve ter conhecimento das inovações e disposição para aplicá-la na propriedade. Os operadores de máquinas é outra frente que deve ser capacitada, e principalmente, os técnicos das ciências agronômicas que terão pela frente a análise dos dados gerados.

Para a indústria de máquinas agrícolas, mas especificamente, também há um grande desafio de levar estas tecnologias de ponta que estão muito concentradas nas grandes máquinas, para máquinas médias e pequenas e proporcionar ao pequeno e médio agricultor o uso destas novas tecnologias. O desafio é adaptar os softwares a custo competitivo para pequenas propriedades.

Com a digitalização nunca mais veremos o campo da mesma maneira. A transição 4.0 será gradual, e a velocidade de implantação vai depender não apenas da tecnologia, mas também de fatores econômicos e estratégicos de cada país e de cada organização, como custo brasil, educação e infraestrutura digital. O Brasil pode aproveitar essa oportunidade e pode liderar essa nova onda tecnológica, depende de nós.

*João Marchesan é administrador de empresas, empresário e presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos.