Paraná: sem chuvas, produtores de soja já estimam perdas de 60% das lavouras

Parte dos problemas foi ocasionada por variedades precoces.

Daniel Popov, de São Paulo
A região oeste do Paraná vive uma expectativa bastante negativa sobre a produção de soja deste ano. Por lá, vários municípios estão há mais de 20 dias sem qualquer volume de chuvas e as lavouras, que estão na fase de enchimento de grãos, começam a definhar. Segundo produtores e empresas que atuam na região, a situação é preocupante, já que em algumas áreas mais de 60% das plantas já estão perdidas. Se não chover, a situação pode piorar e levar a perdas totais.

Uma cerealista da região, a Disam, confirmou o caso e acredita que boa parte das lavouras que representam não têm chuvas há mais de 20 dias, incluindo Santa Terezinha de Itaipu, São Miguel do Iguaçu, Itaipulândia, Missal, Santa Helena, Pato Bragado, Marechal Cândido Rondon, Mercedes, Terra Roxa e Medianeira.

“Levando em consideração o oeste do Paraná a situação é bastante preocupante. Nestas áreas acredito em perdas irreparáveis, não tenho como dizer quanto, mas é certeza que teremos”, conta o gerente comercial, Cleandro Froelich.

Nas lavouras de Inelvo Gregolin a situação é grave. Ele possui 350 hectares em Itaipulândia (25 dias sem chuvas) e 350 em Matelândia (15 dias sem precipitações) e, em ambas, já têm perdas comprovadas. “Em Itaipulândia acredito que perdi quase 60%; no outro local, 20%. Se não chover logo, até dia 15 ou 16, o prejuízo pode ser ainda pior”, diz. “Simplesmente vislumbro um ano perdido. Como já me blindei emocionalmente, considero o prejuízo instalado.”

A situação se repete na propriedade de 120 hectares de Paulo Larazon, em São Miguel do Iguaçú (PR). Pelo que se lembra, as últimas chuvas aconteceram em meados do dia 22 de novembro (17 milímetros) e no dia 30 de novembro (7 milímetros), desde então seca e temperaturas elevadas durante o dia. “Olha não sou pessimista mas acredito que quase 60% da minha área quebrou. Se não chover até o próximo domingo, aí perderei tudo”, afirma.

Variedade precoce?

Desde a metade do ano as previsões meteorológicas comentam a possibilidade de influência do El Niño. Nos alertas era ressaltado que o fenômeno ainda não estava configurado, seria de fraca intensidade e a influência sobre o clima brasileiro seria diferente do normal.

Alguns produtores acabaram apostando em sementes de soja de variedades precoces, que normalmente tendem a ter dificuldades para se recuperar do estresse climático. “Muitos produtores acreditaram que os efeitos do El Niño seriam maiores, mas isso não se confirmou. Toda a região apostou em duas variáveis de risco: antecipação do plantio e diminuição da janela. E tinha também uma terceira que foi ciclo do material. Se não chover nos próximos dias, acredito que mais de um milhão de hectares estarão em risco”, conta Gregolin.

A própria Disam reiterou que as previsões de El Niño influenciaram as decisões e muitos acabaram optando por variedades de soja precoces. “Isso com certeza agravou o problema e muitas plantas não resistiram ao período prolongado de seca”, afirma Froelich.

Vai chover ou não?

Os relatos sobre soja morrendo não param de chegar. Em Terra Roxa, o produtor Fábio Zaura acredita que se não chover nos próximos 5 dias, perderá toda a lavoura. Segundo a meteorologia, Zaura pode ver precipitações a partir do dia 14, no limite da data que considerava ideal, mas os volumes serão pequenos, de até 61 milímetros acumulados até o dia 24 de dezembro.

Para ajudar os produtores nesse momento, a Editora do tempo do Canal Rural, Pryscilla Paiva, verificou que as chuvas devem voltar para a região, de maneira geral, no dia 14 de dezembro, mas com poucos volumes, se intensificando mais com o passar dos dias. Veja abaixo quando cada uma das cidades terá chuvas:

Santa Terezinha de Itaipu – 82 milímetros espalhados até perto do fim do ano
São Miguel do Iguaçu – 86 milímetros a partir do dia 14 até o fim do ano
Itaipulândia – 83 milímetros. Em janeiro as chuvas também ficam mais escassas
Missal – 84 milímetros do dia 14 ao 24
Santa Helena – 78 milímetros, mas as chuvas diárias têm baixos volumes de no máximo 13 mm
Pato Bragado – 75 milímetros até o fim do ano
Marechal Cândido Rondon – 81 milímetros até dia 24 de dezembro
Mercedes – 72 milímetros até o fim do ano
Terra roxa – é a cidade com o menor volume previsto .De 14 a 24 de dezembro, apenas 61 mm
Medianeira – é onde vai chover mais, com pelo menos 100 milímetros entre os dias 14 e 24. Em janeiro chove, mas com falhas, não tão longas quanto agora.

Fonte: Projeto Soja Brasil