Pesquisa científica da UFMT de Sinop faz ruir mito de infertilidade do solo

Calcário

 Extração de calcário

Imagine fazer um bolo com apenas metade da farinha e do fermento. Isso mesmo: Com apenas 50% da quantidade da receita. Pois é essa a equação adotada por muitos agricultores de Mato Grosso na hora de aplicar o calcário na lavoura. O problema é que a receita consagrada na soja e milho no Sul e Sudeste do país e referendada por boletins de recomendação não é, na prática, a mais adequada ao solo e às plantas em nossa região. Aqui, o solo ácido, as chuvas concentradas em poucos meses e as usuais duas safras por ano fazem o solo demandar alta quantidade de calcário, um insumo fundamental ao desenvolvimento pleno das plantas e ao aumento da produtividade.

Essa constatação foi checada e comprovada numa pesquisa desenvolvida pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) de Sinop. A pesquisa científica começou em 2014, liderada pelo professor Doutor Anderson Lange. Os estudos são desenvolvidos em uma propriedade rural, há cerca de 20 quilômetros da universidade, às margens da BR-163, e no próprio campus, onde plantas são cultivadas em vasos numa estufa, monitorada. Todo o desenvolvimento dos pés de soja e milho é mensurado, sistematicamente. Três safras depois da aplicação de altas doses de calcário em campo, os resultados ficam evidentes: pés de soja com mais vagens, mais ramos, redução no nível de abortamento das plantas, com o chamado “efeito cimento” ampliado, que significa vagens mais “pregadas” à planta, mais firmes. No milharal, espigas robustas e alta produtividade de grãos.

Assessoria

Sinecal

 Professor Dr. Amderson Lange

O professor e pesquisador explica que a aplicação convencional adotada por produtores em Mato Grosso é de 2 a 2,5 toneladas de calcário por hectare cultivado, em superfície. Mas a prescrição agronômica ideal beira as 5 toneladas de calcário ou mais, buscando elevar a saturação por bases do solo a 75%. Foi justamente essa a dose aplicada no experimento na zona rural de Sinop.

“Os Boletins de Recomendação até hoje recomendam que se eleve o V% para 50 ou 60, e que não se aplique mais que 2 a 2,5 toneladas de calcário por hectare em superfície. Há um paradigma, um medo, algo cultural entre os produtores que vieram do Sul e Sudeste do país, de que um suposto excesso de calcário em superfície provoque danos ao solo e consequentemente às plantas, um temor de que prejudique a fertilidade do solo. Pelos resultados obtidos, isso aparentemente é um mito, que estamos procurando superar de forma científica, comprovadamente. A falta de calcário, aliás, é muito mais nociva à produtividade das lavouras”, alerta Anderson Lange.

O projeto de pesquisa partiu de apontamentos de que a chamada fórmula do V% (Saturação por Bases) adotada em outras regiões do país, em especial no Sudeste, recomenda quantidade insuficiente de calcário e que os valores determinados por esta fórmula não chegam a se confirmar no solo. “Na análise do solo confirmamos que realmente não é suficiente como se projetava. O que era um apontamento, uma indagação, passou-se a uma comprovação científica. A ampliação do uso do calcário é, portanto, essencial para mais produtividade nas lavouras de soja e milho de Mato Grosso”.

Assessoria

Sinecal

Campos de experimentos da UFMT

Outra constatação é a de que o tipo de calcário também é determinante a um maior rendimento final nos talhões. O pesquisador explica que em Mato Grosso o calcário dolomítico foi e é largamente utilizado, porém, é o calcário calcítico quem contém porcentagens de cálcio e magnésio e a relação entre esses dois elementos químicos mais adequada ao solo – e por isso mais benéfica -, trazendo melhores resultados ao tipo de solo mato-grossense. “Por isso é indispensável a análise de solo como suporte ao agricultor”, reforça o pesquisador doutor.

De acordo com o Sindicato das Indústrias de Extração do Calcário do Estado de Mato Grosso (Sinecal-MT), o consumo de calcário calcítico no Estado corresponde a 10% das comercializações.

CUSTO-BENEFÍCIO

Mas dobrar a aplicação de calcário não seria colocar o custo de produção em xeque? O pesquisador é taxativo. “Não é. Muito pelo contrário. Dobrar a aplicação de uso do calcário e utilizar o tipo de calcário mais adequado ao nosso solo fará sobrar dinheiro no bolso do produtor que faz o seu cultivo corretamente, tendo mais produtividade e, consequentemente, mais produção e renda. O aumento na produtividade da área com mais calcário aplicado vai justamente pagar essa diferença do investimento em mais calcário e ainda sobra. A estimativa é que o ganho é de 5 a 10 sacas extras por hectare de soja e até 20 sacas de milho”, declara Lange.

Mais Soja

Soja

O aumento na produtividade aplicado paga a diferença do investimento

Enquanto produtores rurais de todo o Estado começam a assimilar mais informações sobre a correta aplicação do calcário no solo tipicamente mato-grossense, os pesquisadores de Sinop, entre professores, técnicos e alunos, têm uma rotina de dedicação ao conhecimento científico. As plantas são rotineiramente medidas, com visitas periódicas à área de experimento a campo, e o cuidado e monitoramento constante dos vasos na estufa, dentro do campi. Amostras de solo e de plantas de soja e de milho são analisadas em laboratório. Todos os apontamentos são registrados dentro dos métodos e do rigor dos protocolos científicos, garantindo segurança e confiabilidade aos resultados colhidos.

Fonte: UFMT  Redação com Assessoria