Projeto Biomas: Preservação, manejo correto e uso sustentável da arvore na propriedade rural

A Mata Atlântica apresenta uma variedade de formações e engloba um diversificado conjunto de ecossistemas florestais com estrutura e composições bastante diferenciadas, acompanhando as características climáticas da região onde ocorre. Nesta sexta-feira (27) é celebrado o Dia Nacional da Mata Atlântica e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) defende a importância deste bioma e também alerta sobre a preservação e seu correto manejo.

E, para auxiliar o produtor, a CNA e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolveram o projeto Biomas/Mata Atlântica, que pesquisa formas sustentáveis de utilizar a árvore dentro da propriedade rural. O objetivo principal do projeto é avaliar e testar modelos que incluem a árvore como componente nos sistemas de produção, restauração e composição na propriedade rural, aliando renda e preservação.

A área experimental de 35 hectares, aproximadamente, localizada no estado do Espírito Santo, está praticamente preenchida com diferentes pesquisas, abrigando experimentos nas áreas em recuperação compostas por áreas de preservação permanente, reserva legal e sistema de produção. E, com o objetivo de promover pesquisas, foi criada uma rede envolvendo 61 pesquisadores de diferentes instituições.

Para a coordenadora do projeto Biomas/Mata Atlântica, Fabiana Ruas, a ideia é plantar em áreas mais degradadas e comparar a evolução, crescimento e adaptabilidade das plantas. “Se conseguirmos provar que, de acordo com a espécie e manejo utilizados, as árvores se desenvolveram em terreno de baixa fertilidade, o produtor rural terá grande chance de investir e ter sucesso”, avalia a pesquisadora.

SERGIPE

 


Macaco Guigó, uma das espécies mais ameaçadas de extinção no Brasil
Fotos: Marcos Rodrigues

Sergipe conta hoje com 43 municípios que possuem o bioma Mata Atlântica. Segundo o biólogo Paulo César Umbelino, os ecossistemas incluídos no bioma são: floresta estacional semidecídual; mata de restinga arbustivo-arbórea; lagoas perenes; matas ciliares; manguezais; restinga arbustivo densa (moitas); floresta ombrófila densa; montanas; psamófilas repitantes, dunas e cordões litorâneos.

O maior remanescente de Mata Atlântica do estado, o Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco, está localizado no município de Capela, a 67 quilômetros da capital sergipana, com área total de 894,76 hectares. Criado elo Decreto 24.944, de 26 de dezembro de 2007, o Refúgio tem o objetivo de proteger a vegetação nativa da Mata Atlântica, bioma enquadrado entre os 34 hotspots mundiais, ou seja, ecossistemas com elevada biodiversidade e que sofrem severa destruição, correndo o risco iminente de desaparecerem.

Há na Mata do Junco, a presença de uma das espécies de primatas mais ameaçadas de extinção do Brasil, o Callicebus Coimbrai, conhecido como macaco guigó. No plano de manejo do Refúgio, em sua caracterização florística, registrou-se a ocorrência de 100 espécies, distribuídas em 74 gêneros e 37 famílias, predominando as famílias Poaceae, Cyperaceae, Myrtaceae, Fabaceae, Asteraceae e Rubiaceae.

Com relação à fauna, foram registradas a ocorrência de 23 espécies de mamíferos, 20 de anfíbios, 18 de répteis, 23 de mamíferos e 134 de aves.  Além das espécies da flora e fauna encontradas, o Refúgio protege o principal manancial de abastecimento público da cidade de Capela – o riacho Lagartixo, atributo que reforça a sua importância, enquanto mantenedor de bens e serviços ambientais.

RIO DE JANEIRO

 
Área recuperada no Corredor Tinguá- Bocaina (RJ)

Abrangendo nove municípios do Sul Fluminense e uma área de 195 mil hectares, o Corredor de Biodiversidade Tinguá – Bocaina, está localizado no ponto mais crítico de fragmentação, onde se rompe a maior extensão contínua de Mata Atlântica do país. É exatamente nesta região que se encontram as nascentes que abastecem perto de 8 milhões de pessoas na região metropolitana do Rio de Janeiro.

Para reverter este quadro está sendo executado um programa de conservação do Corredor desde 2009, tendo implementado mais de 100.000 hectares de unidades de conservação e 1.000 hectares de áreas de restauração.

O Programa gera centenas de empregos, pequenos negócios, educação ambiental e desenvolvimento rural. Dentre as várias atividades atende ao Banco de Áreas para Restauração Florestal – que cadastra propriedades que disponibilizam áreas voluntariamente, e que por esse motivo, além de preservar, futuramente receberão uma remuneração por meio de pagamento por serviços ambientais.

ESPÍRITO SANTO

Em Jaguaré, no litoral norte do Espírito Santo, no Córrego Abóbora, o agricultor e ex-presidente do Sindicato Rural de Jaguaré, José Silvano Bizi, desenvolve, há 16 anos, o projeto Japira-Jaguaré que consiste na recuperação da Mata Atlântica na propriedade Fazenda Bizi. A iniciativa surgiu com o pai de Silvano, o também agricultor, José Lino Bizi, que tinha como propósito “devolver” à natureza parte do que havia explorado. A fazenda possui uma área de 200 hectares, sendo que 48 hectares de Mata Atlântica e 10% da área total está sendo recuperada a partir do projeto.

Segundo Silvano, a proposta de recuperação da área de Mata Atlântica na Fazenda também foi influenciada pela vontade do pai em recuperar as nascentes para as futuras gerações da família. “Meu pai se preocupava para que os netos e bisnetos tivessem a oportunidade de conhecer a fauna e flora da nossa região”, conta. Atualmente o projeto é administrado pela própria família.

O produtor pretende expandir o projeto com o isolamento da área, deixando a mata se recuperar naturalmente. Exemplo de preservação no município de Jaguaré, Silvano acredita que a realidade que o país vive de desmatamento e queimadas pode ser mudada com um trabalho intenso de conscientização nas escolas e comunidades, acompanhamento e punição aos infratores.

BAHIA

Em 1971 quando chegou no município de Itabuna, localizado no sul da Bahia, para passar um período de dois anos à frente das fazendas de cacau da família da esposa, Fernando Botelho mal sabia que ali nasceria uma nova paixão. Engenheiro mecânico de profissão, Botelho começou a implantar tecnologias na administração dos negócios e assim conseguiu aumentar significativamente a produtividade de cacau nas fazendas, “Nessa época demos inicio ao cultivo do cacau todo pautado no sistema Cabruca, sempre preservando a Mata Atlântica. Me apaixonei por essa cultura e aqui estou até hoje”, afirmou.

A cidade de Barro Preto, onde Fernando Botelho tem a Fazenda São José, já chegou a ser considerada segundo a SOS Mata Atlântica, a cidade mais preservacionista da Bahia e a segunda do Brasil. Mas infelizmente esse panorama mudou e Mata Atlântica na Bahia vem sendo agredida, principalmente no Sul do estado. Ao longo dos anos, as plantações de cacau vem sendo destruídas devido a baixa produtividade decorrente da vassoura de bruxa, o que tem levado à transformação de fazendas de cacau em pecuária. O que era Mata Atlântica está virando pasto. Preocupado, Botelho destaca a importância do bioma para a região. “A Mata Atlântica é fundamental para a produção baiana, exercendo uma influência muito grande no clima da região, além de garantir o equilíbrio ecológico da fauna e flora de toda a Bahia.”

Em busca de soluções, há 15 anos, o produtor criou a Cooperativa dos Produtores Orgânicos do Sul da Bahia, e tornou orgânica a sua Fazenda São José. Hoje, Botelho se orgulha de ser um dos pioneiros na fabricação de chocolate orgânico. Há quatro anos, junto com a esposa Áurea Maria Viana Lima e a filha Patricia, expandiram a produção, e criaram o Modaka Cacau Gourmet, totalmente certificado pelo IBD. Todos os produtos, sem glúten e sem lactose, são feitos artesanalmente a partir de amêndoas 100% orgânicas, cultivadas e selecionadas pela família Viana Lima no santuário ecológico da Mata Atlântica. “A Mata Atlântica está na minha história de vida representada pelo cacau Cabruca. Trabalhei muito para isso e há mais de 10 anos a primeira visão que tenho todos os dias ao acordar, é essa linda cultura de cacau. Essa mata invade o meu coração e fico muito feliz de produzir contribui para a preservação de um dos bens mais preciosos da natureza”.

Assessoria de Comunicação CNA, com participação das Federações dos Estados de Sergipe, Ri