Propriedades de pequeno e médio porte caem nas graças dos moradores de grandes centros urbanos

O Brasil tem, de acordo com a última atualização do Censo 2017, 84,4% da população vivendo em áreas urbanas e 15,6%, em zonas rurais e, de acordo com projeções da ONU, até 2050, a porcentagem da população brasileira que vive em centros urbanos deve pular para 93,6%. Será que a Organização das Nações Unidas estava prevendo a mudança comportamental e social da população durante o COVID-19?

As grandes cidades e principalmente as regiões com alta densidade populacional aceleram a propagação da pandemia, o que forçou algumas pessoas e até famílias inteiras a se isolarem na quarentena em sítios e chácaras, criando uma sinergia com o modelo vivido na zona rural.

Nos EUA esse êxodo urbano já vem acontecendo, pessoas que já haviam implantado o trabalho remoto em suas vidas estão buscando moradias nas Grandes Montanhas ou próximos às águas do Everglades. Essa tendência não só valorizou as terras, como criou construções mais sustentáveis para pessoas de diversas faixas de renda.

A INA – Plataforma de Inteligência no Agro, entrevistou algumas famílias que estão tendo uma experiência rural pela primeira vez durante a pandemia, e as afirmações sobre querer viver, a partir de agora, no campo são quase a totalidade. Em entrevista com o senhor Ibsen Cunha, proprietário de uma empresa de aluguel de equipamentos para construção, e que está com sua família em um sítio em Santo Antônio do Pinhal, perguntamos sobre a qualidade de vida, impacto no trabalho, e até questões mais pessoais, como saúde física, mental e relacionamento familiar. O Sr. Ibsen não hesitou em dizer que está trabalhando mais, porém com mais foco, o que vem proporcionando algumas horas vagas para moldar suas esculturas em gesso, atividade que sempre quis fazer.

Em uma outra entrevista, realizada por telefone com a senhorita Claudia Villar, que está em um sítio em Botucatu com seu marido, ela se adiantou e relatou que estava indo tudo tão bem que tinha comprado a propriedade, e que somente saiu de lá para ir ao cartório com seu marido para assinar os documentos da transferência, Villar e seu marido gostariam de criar uma pequena piscicultura.

Já em entrevista com o economista Jair Serra, este acabou descrevendo um pouco do modelo criado nas cidades, que no fundo tornou-se insustentável. “Nossas cidades viraram centros de problemas sociais que impactam os aspectos econômicos, ambientais e culturais, problemas que fazem pressão nas decisões políticas e que por sua vez, atuam nas questões sociais, o problema é uma reação ao modelo urbano e não uma prevenção. Com a tecnologia não há mais necessidade de morar no caos urbano.” O Senhor Jair está em sua propriedade, localizada em Pirassununga, e vem buscando informações sobre plantio de uva e sistemas hidropônicos.

Entre as 35 pessoas entrevistadas pela INA, 28 delas afirmaram que querem continuar trabalhando remotamente e tendo uma vida melhor para eles e para todos os familiares.

Segundo o especialista e CEO da INA, Edson Fávero Junior, novos produtos e serviços deverão surgir para atender esse novo morador da zona rural, que em sua maioria serão profissionais de grandes empresas, exercendo trabalho remoto. Seus salários são de alto padrão, o que permitirá ter funcionários em sua propriedade, assim como necessitarão de sistemas de segurança de última geração.

As mudanças por parte da indústria devem começar com o desenvolvimento de equipamentos de fácil manuseio para pequenas culturas, sistemas de gestão mais inteligentes das propriedades, alcançando até um novo modelo de entregas e recebimentos de mercadorias, já que grande parte das empresas ainda não fazem delivery ou entregas na zona rural, com o cenário cada vez mais digital tudo deverá se transformar muito rápido.

Com o interesse em adquirir ou morar em lugares onde o isolamento passou a ser um grande aliado, é de se esperar um aumento no valor das terras de pequeno e médio porte. Esse cenário já vem sendo mapeado pela INA, agora buscamos entender qual será a vocação rural de cada novo morador. Com certeza outros produtos e serviços serão criados para atender esse público e estamos prontos para fazer parte dessa transformação.

Fonte: INA