Sergio Moro é o maior brasileiro deste século

Por Nilson Gomes – Especial para o Jornal Opção

Como juiz, enfrentava a fúria de condenados; como ministro, mantém os inimigos dos tempos da magistratura e a eles se somaram os opositores de quem o nomeou

Os brasileiros de maior reconhecimento popular, desde a proclamação da República, foram Juscelino Kubitschek no Executivo, Ulysses Guimarães no Legislativo e Sergio Moro no Judiciário.

Se abrangesse o Direito, em vez do Judiciário, Moro perderia para Ruy Barbosa. Se fosse da História, Pedro II superaria JK e Ulysses teria vários no mesmo nível. Pesa contra Moro a contemporaneidade.

Como juiz federal, enfrentava a fúria de condenados et caterva; como ministro, mantém os inimigos dos tempos da magistratura e a eles se somaram os opositores de quem o nomeou, o presidente Jair Bolsonaro.

O tempo vai mostrar que Moro esteve sempre acima dessas questiúnculas e de sua própria era, inclusive a novidade da semana, conversas suas com membros do Ministério Público divulgadas por militante do agrupamento político cujos próceres enjaulou em Curitiba e no Rio de Janeiro.

É o maior brasileiro do Século XXI — e torçamos para que os próximos 81 anos sejam pródigos em concorrentes. Por que Moro é o maior dos gigantes, mesmo acossado por anões morais?

Porque elevou de patamar um País. Lavou a alma de 180 milhões de brasileiros (o restante é lulista). Acordou um povo de muitas nações. Feriu a impunidade ao mostrar aos graúdos que a lei os alcança.

Apresentou a justiça a intocáveis da política, das finanças e do empresariado, inclusive alguns dos maiores empreiteiros do mundo. Qual parte de seus diálogos tisna um personagem de tamanho alcance? Moro inspirou jovens no roteiro do bem.

Provou que heróis não são os Vingadores, mas quem faz o contrário dos políticos corruptos, dos empresários corruptos, dos covardes, dos omissos.

De suas falas informais com procuradores delituosamente vazadas, qual trecho anula o modelo de virtude das moças e dos rapazes que agora querem ser juízes por causa do doutor Moro, vão insistir no caminho correto porque o outro lado é o mal e o mal não presta?

Moro prendeu o maior líder popular das últimas décadas, o presidente da Câmara que cassou uma presidente da República, deputados, senadores, governadores, ministros, o príncipe das construtoras, o everest dos doleiros.

O que é maior que isso? O que é coragem se não isso? O que é um destemido comparado a esse monumental destemor?

Claro, não ficaria sem resposta. Deixou de ir pedalando ao tribunal para circular em carros com seguranças. Sua família foi vítima de festival de fake news. Ele prendia os criminosos e suspeitos os soltavam.

Quem o adjetiva, o chama pelo que é. Bandidos o chamam de bandido, as pessoas honestas o consideram o símbolo de pessoa honesta.

Por que ele prendia e outros soltavam? Por que suas decisões eram contestadas por defensores da escória engravatada? Por que a mão limpa da lei não toca determinados mãos-leves por maior que seja a determinação dos limpos? Por causa da lei, que não é feita pelo juiz que prende, mas pelos políticos que são (ou deveriam ser) presos. Eis o motivo que o levou da Justiça Federal para o Governo Federal.

Sua primeira obra no Executivo foi dar serviço ao Legislativo, propondo mudanças, sobretudo, na área penal. Ousadia pouca é bobagem: quer que congressistas, grande parte deles atingida por suas teses, aprovem reprimenda aos procedimentos nefandos que garantem mandatos ao sem-escrúpulos. Ou seja, aí já foi demais.

Em conjunto com o Ministério da Defesa, está cuidando das fronteiras, em duro combate ao tráfico de drogas e de armas. Vai começar por Goiânia um arrojado projeto de redução da violência, conforme disse após reuniões com Ronaldo Caiado e outros governadores. É sério e implantou a seriedade nas relações com os demais atores da política com os quais convive. Valoriza a Polícia Federal. Portanto, está indo longe demais.

Era preciso dar um basta no sujeito. Em que lugar ele acha que é ministro? Na Suécia? Na Noruega? Esse cara ainda não acordou para o fato de ter nascido num país com as riquezas naturais dos Estados Unidos, mas com políticos de Guiné Equatorial, as leis de Burkina Faso e o sistema judicial da Angola. Merece um corretivo. Com UU, urgência urgentíssima.

Sobre a moral dele? Já ciscamos tudo, não achamos nada. O Imposto de Renda? Fuçamos cada ponto na Receita e não tinha nem vírgula fora do lugar. Patrimônio? Condizente com os rendimentos.

Esse concurso dele foi fraudado, né? Ele falou “conge” lá na Câmara… É, mas devemos procurar outra coisa, porque o concurso foi sério, o homem entende mesmo de Direito, é professor, mestre e doutor na área, e fala corretamente, errou no conge porque deve ter brigado com a conge naquele dia.

Vamos reformar as decisões dele em tribunais superiores? Companheiro, tá complicado, porque o TRF do Sul aumenta as penas…

A gente muda tudo no STF, beleza? Tá feia a coisa, a menos que o relator seja o…

E se o Foro derrubar o Moro? É, podemos pedir para um Estado estrangeiro comandado por amigos, com um serviço de inteligência supimpa…

Enfim, tentou-se de tudo para minar o prestígio de Moro. Em vão. O mesmo vai ocorrer com a fabricação do escândalo de mensagens privadas vindas a público.

Segundo os inimigos de Moro, permanecem inéditas 99% das conversas trocadas no Telegram, o primo menos rico do WhatsApp. Do que foi conhecido, nada há de ilegal.

Estabeleceu-se a divergência, pois entre os maiores especialistas no tema persiste a paixão partidária normal, daí uns acharem omelete dentro do ovo e outros lamentarem apenas o galeto perdido.

Moro teve com colegas via aplicativo a versão moderna dos altos papos, antes batidos na mesa do boteco, no balcão do cartório, numa sala do fórum, cara a cara, face to face, tête à tête.

Pelo escândalo que os lulistas tentam fazer, o juiz deve ser uma ilha, isolado de qualquer influência, inacessível às embarcações, inclusive à canoa furada chamada ser humano – porque, como se sabe, magistrado é outra espécie de animal, um invertebrado, sem coluna para não se dobrar a ninguém, sem cérebro para não se meter a julgar além das letras mortas da lei. #SQN.

Juiz conversa com delegado, com promotor/procurador, com advogado, com as partes. Nesses encontros o conteúdo é risonho e franco, tristonho e bronco, inclusive broncas e orientações. Juiz não é surdo, escuta os manifestantes berrarem por suas causas. Lê. Assiste. Opina.

Veja no YouTube uma sessão da Justiça do Trabalho. Na dúvida, puna-se o patrão — na certeza, mais ainda. Observe também uma audiência de conciliação.

O que o juiz tenta? Encontrar o espírito da lei, mesmo não sendo pai-de-santo. Qual o espírito da lei no caso da corrupção ativa e passiva, da lavagem de dinheiro, da advocacia administrativa, da formação de quadrilha (organização criminosa)? Soltar todo mundo, como geralmente é feito? Ou combater a impunidade, como agia o juiz Moro?

Os filmes da franquia “Polícia Federal — A lei é para todos” têm cenas parecidas com o que saiu do Telegram atribuído a Moro e integrantes do MPF. A ficção ali foi extraída da realidade nacional.

O magistrado diz ao procurador, ao promotor ou ao policial para continuar a busca por provas senão vai negar a prisão cautelar de um suspeito — isso é orientação?

O juiz, durante a audiência, constrange o advogado acerca da peça apresentada, que vai fazer seu cliente perder o acerto rescisório conquistado por anos no labor, e lhe dá a oportunidade de refazer o documento —– isso é orientação?

São centenas as situações idênticas. Busca-se privilegiar uma parte? Não, procura-se a melhor aplicação da lei.

Se todo magistrado pensasse igual, não precisaria haver pleno nos tribunais. Aliás, sequer seriam necessários os tribunais. Todas as decisões seriam monocráticas, já que se votassem outros 70 desembargadores ou 10 ministros ou dois integrantes da câmara o resultado seria sempre a zero.

Cada cabeça, uma sentença. Ainda bem.

Milhares de decisões, incluídas as do STF, terminam 3 a 2, 6 a 5, 7 a 1, tanto a tanto, um tanto que não é zero. Então, quer dizer que os votos divergentes são errados? Não, apenas foram dados por quem pensa diferente. Ainda bem. Por isso, há quem pense diferente ao interpretar as falas vazadas do Telegram.

Mesmo tendo frequentes conversas com o MPF, Moro negou vários pedidos, deixou de autorizar prisões, conduções coercitivas, buscas, apreensões. O procurador pediu condenação, o juiz Moro absolveu. Trata-se de orientação?

Enfim, a campanha de notícias falsas no caso da divulgação das conversas é uma turbulência que o maior brasileiro deste século enfrenta. Mais uma entre tantas.

Se fosse um juiz conformado com o status, querendo sempre um penduricalho a mais, obediente à hierarquia dos poderes, arquitetando apenas em que paraíso da Europa iria cursar novo mestrado à custa do Erário, nada disso estaria acontecendo.

Moro não é assim. Graças a Deus por isso.

Nilson Gomes é jornalista.

Fonte: Jornal Opção /Crédito: AFP