Soja: Baixas em Chicago e dólar em queda derrubam preços nos portos do Brasil nesta 4ª feira

Após duas sessões consecutivas de altas de dois dígitos para a soja na Bolsa de Chicago, o mercado passou por uma realização de lucros nesta quarta-feira (29) e fechou em campo negativo. As posições mais negociadas encerraram os negócios com perdas de pouco mais de 5 pontos, porém, todas ainda mantendo o patamar dos US$ 11,00 por bushel.

Segundo explicam analistas nacionais e internacionais, a reação do mercado vem ainda de encontro com uma busca dos investidores de garantir um bom posicionamento antes da chegada dos dois novos boletins que o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) traz nesta quinta-feira, 30 de junho.

Um dos reportes atualiza os números dos estoques trimestrais norte-americanos na posições de 1º de junho de 2016 e a média das expectativas do mercado é de 22,67 milhões de toneladas, podendo variar de 21,34 milhões a 23,46 milhões. O volume é menor do que o registrado em junho de 2015 – 17,06 milhões de toneladas – e, em 1º de março deste ano, o total era de 41,67 milhões de toneladas.

O outro boletim, e de repente o que tem trazido maior especulação entre os traders e fundos de investimento, é o de área de plantio da safra 2016/17, o qual irá confirmar se houve ou não uma migração dos produtores americanos de milho para a soja ou vice-versa.

Assim, as expectativas para a área cultivada com a soja variam de 33,43 milhões a 34,68 milhões de hectares. A média, de 33,98 milhões, é maior do que o reportado pelo USDA em março, de 33,28 milhões de hectares e também em relação a números divulgados no final do ano passado, de 33,45 milhões.

Ambos os reportes saem às 13h (horário de Brtasília). Até lá, o mercado deve caminhar de lado, como aconteceu nesta quarta-feira, sem oscilações muito expressivas. E além desses dois, o USDA traz ainda seu tradicional boletim semanal de vendas para exportação e os números – dada maior demanda pela soja norte-americana neste momento – podem também dar algum direcionamento às cotações.

Paralelamente, como explica a analista de mercado Andrea Cordeiro, da Labhoro Corretora, esses números chegam em um momento de correção do mercado, já que é final do mês, final do semestre, véspera de feriado nos EUA – em 4 de julho se comemora o Independence Day no país – e o primeiro dia de aviso de entregas físicas para o contrato julho.

“Com todos esses aspectos a serem considerados, é improvável que o pregão desta quinta-feira seja calmo e estável. As apostas são de um pregão tumultuado e com alguns ajustes em carteira. Até lá, só nos resta definir uma estratégia de atuação e esperar”, diz Andrea.

Ao mesmo tempo, ao lado de todos esses fatores, ainda permanece no radar do mercado internacional o cenário climático nos Estados Unidos. E o padrão ainda é o mesmo. Por ora, as chuvas ocorrem em boa parte do Corn Belt, as temperaturas são mais amenas, porém, mais a diante esse cenário pode mudar. Nas previsões mais alongadas, afinal, a sinalização é de menos precipitações, com clima quente e seco, principalmente no final de julho/início de agosto, quando começa a fase determinante para a soja nos EUA, que é de enchimento de grãos.

“As especulações mantêm um prêmio de risco adequado para os grãos neste momento”, explica Camilo Motter, analista de mercado e economista da Granoeste Corretora de Cereais. Neste início de julho, o NOAA – o departamento oficial de clima dos EUA – traz ainda uma atualização das previsões para os próximos 30 dias – os quais serão, inclusive, os mais importantes para o milho – e esse é mais um fator de atenção para o mercado.

Preços no Brasil

No Brasil, as baixas combinadas entre Chicago e o dólar – que cedia mais de 2%, se distanciando dos R$ 3,30 – fez os preços caírem de novo nos portos nacionais. O que limita as baixas, além da condição interna de ajuste entre a oferta e a demanda, são os prêmios ainda muito fortes.

Em Paranaguá, a posição julho/16 tem US$ 1,55 acima de Chicago, agosto/16 tem US$ 1,65 e abril/17 conta com US$ 0,42. Ainda assim, no terminal, a soja disponível encerrou o dia valendo R$ 92,00, perdendo 2,65%, enquanto a da safra nova foi a R$ 84,00, com uma queda de 3,45%. Em Rio Grande, onde os prêmios também são altos, o disponível fechou com R$ 88,50, caindo 2,75%, e o mercado futuro cedeu 2,31% para R$ 84,50.

Embora o mercado interno esteja descolado da Bolsa de Chicago, a disputa pelo pouco produto disponível internamente deve ser mais acirrada a partir dos meses de julho e agosto. “Devemos ter uma antecipação e um alongamento da entressafra este ano”, explica Camilo Motter.

Dessa forma, a atenção sobre o andamento do câmbio neste momento deve ser redobrada, uma vez que a postura do Banco Central, como explicam analistas, é de manter sua flutuação mais livre, como explica o consultor de mercado da Brandalizze Consulting, Vlamir Brandalizze. “Ele (o BC) vai precisar tentar manter, ao menos, o nível dos R$ 3,50, referência básica de estímulo ao exportador. “Não se pode perder o exportador. Já perdeu emprego no mercado interno, se começa a perder emprego na exportação – além do agronegócio – a situação se complica”, diz.

E essa queda da moeda norte-americana já sentes os efeitos dessa postura do Banco Central, bem como um melhor momento no mercado financeiro mundial. Segundo economistas, o mercado passa pelo chamado “rally do alívio” depois do momento de pânico causado pelo anúncio da saída do Reino Unido da União Europeia, na última semana, e o movimento se estendeu por todas as principais bolsas do globo.

“Nesta quarta, em especial, o dólar cai forte contra o real, e o primeiro motivo é a sinalização do Ilan Goldfajn ontem de que o BC não está disposto a usar as ferramentas cambiais que a diretoria antiga vinha usando”, disse, em entrevista ao G1, Rafael Gonçalves, analista do departamento econômico da Gradual Investimentos. “Além disso, o mercado agora vai tentar descobrir qual o câmbio que o BC vislumbra como ideal. Então tem uma questão de teste para saber se o BC mostra alguma sinalização de que o câmbio está num patamar ajustado”, completa.

Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas