Soja: Demanda intensa é destaque no mercado internacional e CBOT fecha semana em alta

A expectativa de analistas ouvidos pela agência internacional de notícias Reuters de que os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago caminhavam para o seu primeiro ganho semanal em um mês se confimaram. O balanço feito pelo economista do Notícias Agrícolas, André Bitencourt Lopes, mostra que os principais contratos da oleaginosa subiram, em uma semana, de 0,28% a 0,39%. Dessa forma, apesar das baixas pontuais, o novembro conseguiu sustentar o patamar dos US$ 9,50 por bushel.

Os últimos dias foram de volatilidade para a commodity e, como pontuou o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, esta foi uma “semana bastante frágil” para os negócios em Chicago. Os fundos, em determinados momentos, atuaram de forma um pouco mais expressiva, enquanto os traders buscavam um equilíbrio para os preços diante da disputa entre a oferta e a demanda – a qual mostrou boa parte de seu potencial mesmo com o feriado na China e que ‘tirou’ o país dos negócios nestes últimos dias.

Assim, as informações entre os fundamentos da demanda foram, de fato, bastante fortes. Nos reportes semanais de embarques e vendas para exportação, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) indicou números bastante fortes em ambos, e acima das expectativas do mercado. Além disso, o departamento trouxe ainda, em seus anúncios diários, as vendas de 453 mil toneladas de soja em grão para destinos não revelados.

O total da safra americana 2016/17 já comprometido com as exportações passa de 28 milhões de toneladas e supera em 30% o volume do mesmo período da temporada anterior. “A demanda está bastante antecipada em relação a anos anteriores, ou seja, o ritmo é forte, é o mais veloz da história”, explica Camilo Motter, economista e analista de mercado da Granoeste Corretora de Cereais. “Hoje, se pode dizer que a oferta está crescendo, mas a demanda também é forte e tende a limitar o aumento dos estoques”, completa.

E essa oferta se fez presente nos negócios desta semana com o melhor desenvolvimento dos trabalhos de campo no Meio-Oeste americano. O último número oficial do USDA indicava que até o dia 2 de outubro, os EUA já havia colhido 26% da área cultivadas com soja nesta temporada, índice ficou bem abaixo dos 36% de 2015, mas ligeiramente aquém da média dos últimos cinco anos de 27%.

O departamento atualiza seus dados na próxima segunda (10) e pode mexer com o andamento das cotações dependendo do ritmo trazido. Na sequência, na quarta-feira (12, feriado no Brasil, chega o novo reporte mensal de oferta e demanda do USDA e algumas especulações já dão conta de uma possível alta nas estimativas para a safra dos EUA diante das médias de produtividade que vêm sendo reportadas. Assim, sobre os estoques, as opiniões são as mais diversas, com os ‘otimistas’ entre os especialistas enxergando estoques ainda ajustados diante da força da demanda, enquanto os mais ‘baixistas’ apostam em números de até 13,61 milhões de toneladas (500 milhões de bushels).

Frente a estes fundamentos – fortes, mas já conhecidos – os fundos viram, nos últimos 60 dias, ainda como explica Camilo Motter, o mercado voltando a testar seus patamares de suporte – abaixo dos US$ 9,50 e, diante boas oportunidades, voltaram a comprar, o que também serviu de combustível para as cotações.

Mercado Interno

Enquanto isso, no Brasil, o foco seguiu sobre o plantio da safra 2016/17. Com chuvas ainda muito irregulares, os trabalhos de campo não evoluem da mesma forma nas principais regiões produtoras e não obedecem, tampouco, um padrão dentro dos estados. A chegada das precipitações tem sido diferente e as condições do solo – especialmente seus níveis de umidade – mais ainda.

Assim, a comercialização acabou perdendo um pouco de ritmo entre os produtores brasileiros, principalmente os negócios com a soja da nova temporada. No Paraná, por exemplo, há algo de até 10% da nova safra já comercializada no estado, segundo o consultor da INTL FCStone, Étore Baroni. Para a safra velha, algumas praças apresentam preços ligeiramente melhores e deram espaço para algumas operações, mas ainda pontuais e de baixo volume.

Como relatou o analista de mercado Mário Mariano, da Novo Rumo Corretora, a indústria brasileira apresentou, nas últimas semanas, um comportamento mais comprador, permitindo que o produto disponível conseguisse algum fôlego para altas regionalizadas. No balanço semanal do Notícias Agrícolas, porém, entre as praças pesquisadas, a oleaginosa subiu somente em Campo Novo do Parecis e Tangará da Serra, ambas em Mato Grosso. As demais ou terminaram a semana em queda, ou recuando.

Os ganhos em Chicago, além de bastante tímidos no balanço semanal, foram ainda quase anulados pelo recuo do dólar frente ao real de 1,08% na semana. A moeda norte-americana fechou a sexta-feira com R$ 3,2166. Há ainda elevadas expectativas sobre o futuro dos juros nos Estados Unidos, as eleições presidenciais norte-americanas e a reforma fiscal no Brasil e como tudo isso deve se caminhar e se confirmar nos próximos meses, além de mais fatores que tem ajudado a vezes direcionar a divisa, vezes deixá-la ainda mais volátil.

“O produtor tem que estar atento não só a Chicago, mas também á questão cambial. Na medida em que os preços forem melhorando os níveis, o produtor tem que aproveitar”, acredita Baroni.

As baixas no interior do Brasil chegaram a até 5,06%, como foi o caso de Ponta Grossa, no Paraná, onde a última referência de preço foi R$ 75,00 por saca. Já nos portos, os recuos foram mais brandos e variaram entre 0,13% e 2,53%, com as referências variando entre R$ 75,50 e R$ 78,00 por saca nos principais terminais de exportação.

Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas