Soja do Brasil acelera mudança de patamar produtivo

A superação já neste ano da safra recorde de soja colhida em 2017 mostra não apenas que o clima foi de novo benevolente com produtores brasileiros, mas também que está se aprofundando uma mudança de tendência no setor que visa maximizar ganhos de produtividade, avaliou o sócio-diretor da Agroconsult.

A aceleração em 2018 desse movimento, que por tabela acaba reduzindo o uso de áreas recém-desmatadas para a agropecuária, deve ocorrer após produtores do país terem sido surpreendidos por boas colheitas e margens positivas na temporada atual, em meio à quebra de safra na Argentina, que elevou os preços globais.

“Reforça a tendência de que o modelo de investimento mudou, para investimento na própria fazenda”, disse à Reuters o sócio-diretor da Agroconsult, André Pessôa, ressaltando que o ganho extra em 2018 deve dar fôlego para investimentos, mas como era inesperado até pouco tempo não deve permitir a apropriação de novas áreas, já que não haveria tempo para a adequada preparação e correção do solo.

O resultado de foco de investimento em propriedades já consolidadas é um aumento de produtividades e lavouras produzindo cerca de 100 sacas por hectare em áreas irrigadas, ou quase o dobro da média do país na temporada passada, com o apoio também de toda uma gama de avanços que incluem a biotecnologia.

Isso ajuda a entender por que a soja do Brasil, maior exportador global, é cada vez mais competitiva, disse Pessôa, no caminho de Barreiras a Luís Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia, uma das mais importantes regiões produtoras do país.

O consultor, que está no Estado nordestino participando de uma etapa do Rally da Safra —expedição técnica idealizada no Brasil por sua consultoria, que completa 15 anos em 2018, com previsão de rodar 100 mil quilômetros neste ano—, pontuou também que produtores já são capazes de elevar suas produtividades médias para 70 sacas. Alguns já estão no patamar de 80 a 90 sacas.

“Não consegue esses patamares de produtividade sem fazer algum investimento diferente, no perfil de solo, no manejo de pragas e doenças, sempre tem um investimento novo para ser feito, alguns produtores já foram para esse patamar, entenderam o processo”, continuou Pessôa.

“Investindo 700 reais por hectare para melhorar o perfil do solo, o produtor vai melhorar a sua propriedade, mas ele não compra terra com esse valor…”, exemplificou o analista, ressaltando que a ideia de investir na própria fazenda compete com a ideia de usar uma área nova.

A Agroconsult estima que a produção de soja do Brasil deve superar a do ano passado em 2 milhões a 3 milhões de toneladas —o último número da consultoria, divulgado em fevereiro, era de 117,5 milhões de toneladas, estimativa esta que deverá ser revisada ao final do Rally e anunciada no próximo dia 27.

O analista, que há cerca de 15 anos assustou produtores nos Estados Unidos ao prever que o Brasil se tornaria o maior exportador global de soja, o que se confirmou algumas safras depois, concorda que esse movimento tem colaborado para ampliar a competitividade da produção brasileira, que tem ganhado mercado na China.

Mas ele estima que uma parcela de somente cerca de 20 por cento dos produtores do país está no grupo daqueles que realiza esse investimento mais focado e tem as maiores produtividades, o que também dá uma ideia do potencial do país para avançar no rendimento agrícola.

Uma outra parte do setor, que Pessôa avalia em cerca de 30 por cento da categoria, já estaria consciente da importância de se passar ao primeiro patamar de produtividade, e só estaria esperando uma boa renda como a projetada na safra atual 2017/18 para obter fôlego para tais investimentos.

TETO MAIS ALTO
Um terceiro grupo de agricultores, aqueles que produzem na faixa de 50 sacas por hectare, não muito longe da média nacional —de 56 sacas recordes no ano passado— estaria propenso a perder terreno, literalmente.

“Quando começa uma dispersão muito grande em relação à média, com produtores obtendo produtividades muito superiores à média, cria um ambiente para consolidação, com um vizinho que produz mais comprando a área do vizinho que produz menos”, pontuou Pessôa.

Ele destacou que os ganhos tecnológicos permitem esses ganhos no campo, lembrando que há dez anos o potencial do pacote de tecnologia disponível permitia produtividades mais próximas das médias alcançadas, e agora o teto produtivo subiu muito acima das médias.

A obtenção de produtividades mais altas, acrescentou o diretor da Agroconsult, além de propiciar margens de lucro mais elevadas também eleva o preço da terra e dos arrendamentos.

Ele comentou ainda que os ganhos dentro da porteira têm sido mais importantes na captura de margens do que os novos projetos logísticos que permitem o escoamento da produção pelo Norte, na medida em que os operadores de tais canais ainda não repassam todo o benefício logístico aos produtores devido à pequena concorrência entre si.

Fonte:  REUTERS

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