Sucessão familiar e gestão são desafios para pecuária de corte

“Vocês podem trabalhar com a pecuária só porque gostam, mas quando o filho de vocês for assumir o negócio ele vai querer saber quanto dinheiro essa atividade dá”. A provocação foi feita pelo consultor e médico veterinário Rodrigo Albuquerque aos 220 produtores que participaram da edição de Caiapônia dos Encontros Regionais de Pecuária de Corte, realizado nesta terça-feira (17/3). O evento, promovido pela Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), apresentou as principais perspectivas para o setor e discutiu os maiores desafios para que a pecuária de corte se fortaleça enquanto atividade fundamental para o equilíbrio da economia brasileira.

Para Rodrigo Albuquerque, o desafio da sucessão familiar será superado pelo produtor de gado de corte na medida em que ele controlar gastos e se profissionalizar para que os ganhos sejam especificados e a atividade, controlada. “Temos a satisfação de trabalhar com o que a gente gosta. O problema é que gostamos tanto que, às vezes, nos esquecemos que isso tem que dar dinheiro. O foco produtivo é o meio, mas o fim da atividade tem que ser financeiro”, argumentou o consultor, que também é pecuarista.

O presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Faeg, Maurício Velloso, destacou que o controle da atividade e a gestão eficiente da propriedade podem resultar no fortalecimento da pecuária como um todo e em facilidades ao produtor. “Temos que tirar do nosso vocabulário o termo “eu acho” e trabalhar com a maior precisão possível. Precisamos utilizar todas as informações e ferramentas disponibilizadas para isso. Quanto mais eficiência, precisão e segurança, mais facilmente o produtor pode ser contemplado, por exemplo, como a aquisição de crédito bancário”, afirmou.

“Os tempos são outros e hoje a fazenda tem que ser encarada como uma empresa. E nada como sangue novo na propriedade para ajudar nesse processo”, afirmou o produtor de gado de corte Carlos Gomes de Lima. Para ele, que assumiu os negócios do pai e hoje conta com o trabalho do filho na produção de gado, essa renovação depende de dedicação à gestão da propriedade e do envolvimento de jovens no negócio.

Gerações
O Encontro reuniu produtores, técnicos e empresários que, independente da faixa etária, buscaram informações para decisões mais assertivas no negócio rural. “A fazenda é uma empresa rural que já criou várias gerações passadas e a tendência é criar novas gerações futuras. Sem dúvida, existem grandes oportunidades no campo e, com investimento e planejamento, tocamos um grande negócio e ainda temos o prazer de trabalhar na fazenda”, considerou Marcelo Pereira Vilela Júnior, jovem pecuarista de Caiapônia, que dá continuidade ao trabalho da família.

Aos 92 anos, o pecuarista Inácio Jacinto Leite participou do encontro e o Sindicato Rural de Caiapônia o reconhece como um dos produtores mais dedicados à atividade no município. “Eu não falto nenhum evento do sindicato”, afirmou. Nascido e criado em Caiapônia, Inácio se dedicou a vida toda à pecuária e hoje cria cerca de 200 cabeças de gado. “Tudo que eu fiz foi para eles”, declarou o produtor indicando a neta Marizete Fernandes, que o acompanhou.

Cenário econômico
Entre as dúvidas apresentadas pelos produtores durante debate realizado após a palestra, a maioria dos questionamentos fez referência à economia internacional e à instabilidade política e econômica do Brasil. Rodrigo Albuquerque lembrou que, há dez anos, o Brasil é o maior exportador de carne do mundo, mas que não se pode perder de vista que 80% da produção nacional é destinada ao mercado interno. “Por mais que haja escassez de boi, não podemos pressionar o consumidor interno aumentando os preços da carne brasileira porque estaríamos comprometendo o escoamento de 80% da nossa produção”, declarou.

Em relação à alta do dólar, o analista indicou que reflete positiva e negativamente na produção de carne. É positivo porque aumenta a competitividade da carne no mercado internacional, mas é ruim porque toda a cadeia sofre com a inflação impulsionada pela elevação da moeda americana e, consequentemente, dos custos.

Para o presidente da Faeg, José Mário Schreiner, tais variações do mercado internacional e, sobretudo, a crise política e econômica pela qual o país vem atravessado exigem que produtores estejam atentos a tudo que reflete na cadeia produtiva e que se organizem. “Hoje a pecuária é responsável pelo produto mais importante do agronegócio no valor bruto da produção do Brasil. Precisamos olhar para o lado e ver o quanto já contribuímos para o desenvolvimento do nosso país. A nossa responsabilidade é muito grande, perante Goiás e perante o Brasil”, afirmou Schreiner.

Por: Gilmara Roberto