Por que as plantas precisam de potássio na agricultura?

Os fertilizantes potássicos estão dentre os insumos mais utilizados na agricultura. De acordo com a Embrapa, os solos brasileiros tem baixa disponibilidade de potássio e ele é o segundo nutriente mais requerido pelas plantas pelo seu impacto direto produtividade e qualidade das culturas. Mas, porque as plantas precisam de potássio?

A importância do potássio para as plantas  

O potássio (K) é um elemento químico classificado como essencial para a plantas, tendo sua essencialidade demonstrada pelos botânicos alemães Julius von Sachs (1832-1897) e Wilhelm Knop (1817-1891) entre 1860 e 1865.

Ele é considerado uma macronutriente primário, ou seja, além do potássio ser demandado em altas quantidades pelas plantas, ele está entre os três nutrientes mais requeridos, juntamente com o nitrogênio e o fósforo.


Estima-se que somente a parte aérea das plantas apresenta uma concentração média de 10 gramas de potássio por quilo de matéria seca. (Fonte: RIBEIRO, M. E. – Embrapa Meio-Norte)

A alta demanda do potássio não está relacionada com a síntese direta de moléculas orgânicas nas plantas, mas sim com a sua participação em diversas funções essenciais para o desenvolvimento e produtividade das culturas, sendo responsável por:

Ativação enzimática;

Síntese proteica;

Fotossíntese;

Transporte de fotossintatos no floema;

Crescimento celular;

Regulação do potencial hídrico das células;

Melhoria da qualidade de flores e frutos;

Amenização de estresses bióticos e abióticos.

Mas, como o potássio chega até as plantas?

A absorção de potássio pelas plantas  

O potássio é um dos elementos mais móveis no sistema solo-planta e os autores do capítulo 4 do livro Hortaliças-fruto estimam que a quantidade total no solo pode variar de 0,9 g.kg-1 a 19 g.kg-1, dependendo da rocha que deu origem ao solo e o seu grau de intemperismo.

A maioria dos solos brasileiros apresenta baixos teores de K total, uma vez os teores de minerais primários e secundários mais ricos em potássio, como biotita e vermiculita, são baixos e predominam os minerais mais pobres, como a caulinita e os óxidos de ferro e de alumínio.  Entretanto, vale ressaltar que os solos brasileiros são muito diversos e cada região apresenta fatores que podem potencializar ou limitar a disponibilidade de potássio no solo. Entre tais fatores estão o teor de argila 2:1, matéria orgânica ou mesmo processos intrínsecos da formação do solo da região.

No solo, o potássio está na forma de um íon com carga positiva (K+), denominado cátion e é encontrado:

Na solução do solo;

Na matéria orgânica;

Retido nos coloides (partículas) do solo, denominado K-Trocável;

Como integrante da rede cristalina dos minerais do solo, denominado K-Não Trocável;

Fortemente retido entre as unidades cristalográficas de argilominerais 2:1, como a vermiculita e a mica, sendo denominado K-fixado;

Além dos diferentes tipos de íons de potássio no solo, a sua disponibilidade pode ser afetada pela natureza e quantidade minerais de argila, pH e natureza dos cátions trocáveis.   

No artigo Disponibilidade de potássio e suas relações com cálcio e magnésio em soja cultivada em casa-de-vegetação, os pesquisadores Fábio A. de Oliveira, Quirino A. C. Carmello e Hipólito A. A. Mascarenhas concluíram que:  

Os índices de disponibilidade de K no solo relativos aos teores de cálcio (Ca) e de magnésio (Mg), estão diretamente correlacionados com a nutrição potássica da soja;

A relação (Ca+Mg)/K trocável no solo constitui um índice importante de avaliação da disponibilidade do K no solo para a cultura da soja.

A recomendação de adubação potássica para a cultura da soja deve considerar a quantidade de calcário aplicada.

Para que os cátions de potássio entrem na planta, eles precisam se encontrar com as estruturas do vegetal e em especial as raízes por meio dos processos de difusão e fluxo de massa.

No processo de difusão, o potássio entra em contato com a raiz ao passar de uma região de maior concentração para uma de menor concentração próxima a raiz. Já no processo de fluxo de massa, o contato se dá quando o potássio é carregado de um local de maior potencial de água para um de menor potencial de água próximo a raiz.

Rotas do movimento de íons da superfície radicular até o xilema (tecido vascular condutor). (A) Rota simplástica; (B) Rota apoplástica. (Fonte: Bonato, C. et al. – 1998)
Em condições de alta disponibilidade, as plantas podem armazenar o potássio no vacúolo (estrutura celular) para utilizá-lo outros momentos. Essa acumulação também é observada para os demais macronutrientes primários, sendo denominado de consumo de luxo.

Na cultura do eucalipto, por exemplo, os autores do artigo Determinação da demanda nutricional de genótipos de Eucalyptus em áreas da Bahia Sul Celulose, observaram que os clones de eucalipto de 7 anos apresentaram um acúmulo de potássio de mais de 150 quilos por hectare.

E em condições de baixa disponibilidade de potássio? Como as plantas reagem?

As consequências da deficiência de potássio nas plantas  

Em condições de baixa disponibilidade de potássio, a planta começa a mobilizar o nutriente  para as folhas mais novas, por ser um elemento de alta mobilidade no interior da planta. Isso pode levar ao aparecimento de sintomas visuais mais comuns que incluem a redução do crescimento da planta, necrose nas bordas e leve enrugamento das folhas.

Fissuras, rachaduras e lesões observadas em frutas e folhas deficientes em potássio também oferecem um fácil acesso das pragas e doenças à planta e ainda reduz o valor final do produto, uma vez que eles se tornam pouco atraentes para potenciais consumidores no mercado.

No artigo Fontes de potássio na adubação da cana-de-açúcar: KCl e K2SO4, Jose Orlando Filho e seus colegas pesquisadores observaram que a deficiência de potássio na cana-de-açúcar não alterou o perfilhamento, porém, provocou diminuição no diâmetro médio e altura dos colmos.

E a deficiência de potássio não ocorre apenas pelo fornecimento insuficiente desse nutriente através dos fertilizantes. Mesmo quando os fertilizantes são aplicados em doses adequadas, se os demais fatores que interferem na sua disponibilidade não estiverem adequados, eles podem levar a situações que causam a deficiência do potássio.

Além disso, a realização inadequada de alguns manejos agrícolas, como a supercalagem, e escolha de fertilizantes sensíveis ao processo de lixiviação também podem levar a condição de baixa disponibilidade de potássio no solo.

Como, então, suprir adequadamente os teores de potássio para as plantas?

A escolha das fontes de potássio na agricultura  

A escolha da melhor fonte de potássio para a sua cultura, envolve inicialmente a análise da demanda nutricional da planta em seus diferentes estádios de desenvolvimento e a disponibilidade desse nutriente no solo, com o auxílio de um profissional especializado e interpretação da análise foliar e do solo.

Uma vez definida a quantidade a ser aplicada e o melhor momento e forma de aplicação, o solo deve ser preparado para otimizar a eficiência do nutriente. Práticas como a calagem, que corrigem o pH e neutralizam íons alumínio e do manganês, são essenciais.

Por fim, no momento da escolha da fonte de potássio o agricultor deve buscar por fertilizantes que ofereçam uma boa relação custo x benefício, considerando todas as vantagens e desvantagens de cada insumo.

Algumas fontes potássicas disponíveis no mercado são:

Siltito Glauconítico;

Cloreto de potássio;

Sulfato de potássio;

Nitrato de potássio;

Pós de rocha como kamafugito, micaxisto e ardósia.

Os fertilizantes potássicos químicos, por exemplo, são muito dependentes da variação de preços do mercado externo e podem apresentar um elevado potencial para salinização do solo.

Quais são os desafios da agricultura brasileira frente às fontes de potássio?

Os desafios da adubação potássica no Brasil  

De acordo com o Ministério da Economia, o Brasil está dentre os maiores importadores mundiais de potássio. Hoje, 95% do potássio consumido país é importado e apenas dois países controlam 80% da oferta mundial: Rússia e Canadá.

A valorização do dólar frente ao real, além dos custos de importação e logística, fazem com que o agricultor pague mais caro para nutrir a sua lavoura com fontes convencionais de potássio, como o Cloreto de Potássio.

Uma das soluções frente a esse cenário é o investimento na extração de reservas nacionais de potássio, que são estimadas em mais de 13 bilhões de toneladas somente para os depósitos minerais de silvinita e carnalita.

Isso já é realidade no município de São Gotardo, em Minas Gerais, com a exploração do Siltito Glauconítico: rocha sedimentar rica em minerais potássicos, com baixo índice salino e com um efeito residual de nutrientes prolongado.

Com cada vez mais investimento em fontes de potássio nacionais, o agricultor assegura a sustentabilidade do seu agronegócio e pode buscar por fertilizantes potássicos que potencializam a qualidade do seu produto, reduzam custos com o manejo da sanidade da sua lavoura e promovam a saúde do solo.

Fonte: Stella Xavier