Produtores rurais ajudam a combater incêndio no Parque Nacional das Emas (GO)

Além dos impactos ambientais, fogo ameaçava devastar lavouras de milho, algodão e cana-de-açúcar na região

Era pra ser um trabalho de prevenção, mas os aceiros montados no Parque Nacional das Emas (PNE), na última sexta-feira (9), acabaram provocando um incêndio de grandes proporções, que queimou cerca de 20% dos 132 mil hectares da unidade de conservação. O vento forte e a vegetação seca contribuíram para propagar as chamas, principalmente no sentido centro-sul do parque, em direção aos municípios de Chapadão do Céu (GO) e Costa Rica (MS).

Diante dos riscos de maior agravamento do fogo sobre o meio ambiente, no final da tarde dessa segunda (12), o ICMBio (autarquia federal responsável pela gestão do PNE) autorizou produtores rurais a ajudarem os bombeiros e brigadistas de GO e MS que atuavam no local.

O reforço veio após articulação conjunta das secretarias de Estado de Agricultura e de Meio Ambiente de Goiás, Corpo de Bombeiros e de entidades como Aprosoja-GO (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás), Aprosoja Brasil, Faeg e sindicatos rurais da região. Assim, os produtores puderam entrar com máquinas e caminhões-pipa nas áreas do parque e utilizar aviões agrícolas no combate ao fogo. Na manhã desta terça-feira (13), a situação está mais controlada, com poucos focos de calor.

Nos últimos dias, produtores também se mobilizaram nas divisas do parque para evitar a chegada do fogo em suas propriedades. A combinação de altas temperaturas, vento e baixa umidade do ar ampliaria a gravidade do incêndio se as chamas alcançassem a matéria seca das lavouras de milho, cana-de-açúcar e algodão que estão no ponto de colheita.

Em Mineiros, o agricultor Rogério Vian estava apreensivo desde que o incêndio começou. Sua propriedade, em frente ao PNE e separada apenas pela rodovia GO-341, estava distante dos focos. Mesmo assim ele compartilhou da angústia dos colegas em ver o parque queimando, com risco de o fogo também devastar plantações inteiras no entorno, além de destruir palhada e matéria orgânica que representam anos de trabalho de conservação do solo pelos agricultores.

“Tinha fogo pipocando pra todo lado. Algumas fazendas conseguiram cercar os princípios de incêndio, mas como ventou muito forte o dia todo, ficamos muito preocupados. Com a ajuda dos produtores, a situação ficou mais tranquila à noite”, relata ele, que é diretor da Aprosoja-GO na região Sudoeste.

Aceiros são importantes

A formação de aceiros, que desencadeou o incêndio no Parque Nacional das Emas, funciona como uma operação preventiva que isola uma área e queima a sua vegetação, criando faixas sem matéria seca de forma a evitar a propagação do fogo em casos de incêndio. É uma prática importante e necessária, desde que realizada mediante condições climáticas seguras. O tempo quente e a vegetação seca, principalmente após as recentes geadas, indicavam o risco iminente de descontrole do fogo.

Presidente da Aprosoja-GO, Joel Ragagnin lembra que, nessa época do ano, as brigadas de incêndio organizadas pelos produtores ficam alertas, pois suas propriedades também estão sob risco de queimadas devido à palhada seca acumulada nas lavouras de milho. Por isso, ele destaca a importância de as forças de segurança atuarem em conjunto com os produtores. “A força dos agricultores para auxiliar nesses incêndios de grandes proporções é muito grande. Estamos sempre dispostos a ajudar no combate, seja para a preservação de parques e reservas ou do meio ambiente como um todo”.

Fogo também prejudica lavouras

Além dos impactos ao meio ambiente, as áreas agricultáveis também são muito prejudicadas pelo fogo. Vice-presidente da Aprosoja-GO, o produtor Bartolomeu Braz conta que, em 2020, um incêndio atingiu parte das suas áreas e queimou toda a palhada. Os efeitos disso ficaram bastante evidentes nesta 2ª safra de milho: com a perda da cobertura do solo e a escassez de chuvas dos últimos meses, ele observou uma diferença de 50% entre as plantas de áreas afetadas pelo incêndio em relação àquelas que cresceram sob palhada. “A população em geral tem a imagem de que nós é que provocamos as queimadas. Pelo contrário, também somos muito prejudicados”, afirma Bartolomeu.

Até as chuvas retornarem, há pelo menos três meses de estiagem em Goiás e na região Centro-Oeste. Em um ano seco como esse, os produtores seguem atentos e preocupados.

Fonte: APROSOJA-GO