Agricultores recebem assistência técnica para o manejo sustentável do açaí

Um fruto amazônico que foi popularizado em todo o território brasileiro e no exterior pelas suas características nutricionais. O açaí é hoje considerado o mais importante produto não madeireiro da região amazônica. Em 2023, a produção foi de 1,5 milhões de toneladas de frutas. O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de açaí, que já é conhecido no mercado internacional há aproximadamente 20 anos e é vendido principalmente para os EUA, Japão e, cada vez mais, também para a Europa. O fruto é particularmente importante como alimento básico para a população local na região amazônica. Outros produtos do açaizal também são importantes para as populações locais, como o palmito, as folhas usadas para a confecção de chapéus, tapetes e outros, o tronco como material de construção, óleos obtidos de frutas e para cosméticos e resíduos de sementes (aproximadamente 80% da fruta é composta pela semente).

E foi exatamente para orientar este público de produtores do açaí a aumentar a produção de forma sustentável, que uma equipe da Embrapa Amazônia Oriental ministrou um curso de manejo de mínimo impacto de açaizais nativos e uso do aplicativo Manejatech-açaí para participantes do projeto Ativa Barcarena, financiado pela Hydro e Albras, com execução do Instituto Peabiru. Também participaram do curso membros do Instituto Peabiru e da Secretaria de Agricultura de Barcarena (Semagri), como multiplicadores das técnicas de manejo.

Em dois dias intensos de curso, os instrutores da Embrapa José Leite e Michell Costa mostraram a importância do manejo adequado para o mínimo impacto no contexto coletivo territorial e nos negócios comunitários, além de um aprendizado sobre o manejo do açaizal nativo, a importância dos polinizadores e como a tecnologia atual pode ajudar no aumento da produção, com a apresentação aos participantes do aplicativo Manejatech-açaí, desenvolvido pela própria Embrapa. O açaizal manejado produz mais frutos e de melhor qualidade. Mas, para conservá-lo produtivo, é preciso fazer a manutenção a cada dois anos, por meio da retirada das palmeiras finas e altas, com mais de 12 metros. Esta foi uma das orientações repassadas durante o curso.

“O açaizeiro, nativo do estuário amazônico, é uma palmeira majestosa que compõe entre 20 e 25% da rica floresta de várzea. É um símbolo da cultura e da biodiversidade da região. Seus frutos guardam um sabor único e nutritivo, no entanto, a produção natural dos açaizais nativos apresenta desafios, como a baixa produtividade e a safra curta, que exigem soluções inovadoras para garantir a sustentabilidade da atividade. E é isso que a Embrapa está fazendo há muitos anos e agora chegamos ao aplicativo. Essa ferramenta coloca o conhecimento científico nas mãos dos produtores, fornecendo um guia prático para o manejo técnico dos açaizais”, esclarece José Leite, engenheiro-florestal, doutor em manejo florestal e analista da Embrapa Amapá.

Na parte teórica foram explicados os conceitos e objetivo do manejo, a importância social e econômica da produção de frutos de açaí, os açaizais e a biodiversidade, bases ecológicas para o manejo sustentado de florestas de várzeas, manejo de mínimo impacto de açaizais para produção de frutos, melhoramento genético do açaizeiro, cultivo de açaizeiros em sistemas agroflorestais, rentabilidade do manejo de açaizais para a produção de frutos, tipos de açaizais e suas necessidades de manejo e conceitos de transferência de tecnologia.

Durante o treinamento prático, na área de açaizais da unidade produtiva familiar do Levindo Araújo, participante do Ativa Barcarena, os agricultores conheceram diversas técnicas como a demarcação de parcelas de manejo, inventário, avaliação da estrutura e composição de uma floresta de várzea. Também foram orientados em como proceder em tabulação dos dados do inventário, planejamento das operações de manejo, limpeza de um açaizal nativo e redução de espécies lenhosas, manejo de touceiras e adensamento de açaizais.

“Este tipo de treinamento é importante também para alertar em relação ao crescente cultivo do açaí na forma de monoculturas e ao uso de pesticidas e fertilizantes na produção. Em áreas alagadas, especialmente no Pará, outras espécies já estão sendo desmatadas, através das técnicas de manejo empregadas pelos produtores, visando a maior produção do açaí. Isso já levou a uma redução nos polinizadores e, também, na produtividade. As consequências para a biodiversidade são difíceis de avaliar nesses casos”, destaca José Leite.

“Há três anos participo do Ativa Barcarena, e o conhecimento que adquiri neste período é incalculável. Ampliei minha produção de banana, construí um tanque para criação de peixe e ampliei minha safra de açaí para 10 meses, aumentando em mais de 50% a produção, com o conhecimento adquirido sobre manejo, e agora, com este curso, com certeza vai melhorar muito mais”, afirma Levindo Araújo, pescador e produtor rural, apoiado pelo Ativa Barcarena.

Fonte: Daniella Vianna