22.2 C
Jatai
InícioArtigosAlgumas observações sobre as eleições presidenciais de 2022

Algumas observações sobre as eleições presidenciais de 2022

Por Dante D G Scolari*

A partir de provocações feitas por alguns amigos (as) sobre as eleições presidenciais desse ano, resolvi fazer um apanhado geral daquilo que acho que pode acontecer. Atualmente existem muitas preocupações sobre os resultados das eleições presidenciais. Acho que é a primeira vez que acontece no país esse grande envolvimento de vários segmentos da população na cena política. Os celulares e as mídias sociais são os grandes responsáveis por essa espetacular participação !

Mas tem aparecido muita espuma televisiva, muitas pesquisas viesadas e sem credibilidade pública, patrocinadas por opositores políticos ao atual Presidente,  muitas indefinições nos acordos e/ou arranjos políticos partidários em construção, muitas negociações políticas entre os cacifes dos principais partidos políticos do país, sobre posições e participação dos diferentes partidos nos governos estaduais e futuro governo federal  e,  muitas indefinições.

Entendo que se deve analisar os resultados das eleições municipais de 2016 e  2020, com a participação de 29 partidos políticos,para se conhecer o que aconteceu nos municípios e quais são atualmente as grandes forças políticas municipais. Isso pode fornecer informações importantes na construção de um cenário futuro provável.

Resultados positivos relevantes que foram alcançados por partidos tradicionais em um grande número de cidades, em diferentes estados nas eleições municipais de 2016, não se repetiram  nas eleições municipais de 2020. O percentual geral de reeleição de prefeitos  foi de 38%, indicador que mostra uma grande renovação na administração municipal. Partidos totalmente ausentes de vitórias em 2016, sem nenhum prefeito eleito, alcançaram resultados expressivos em muitas cidades  em 2020. Esses dados confirmam o ditado popular que o sobe e desce da representação partidária na gestão da coisa pública é uma realidade permanente, provavelmente uma decorrência da educação política inadequada, deficiente ou nula do cidadão brasileiro nas últimas três décadas. Nesse período, as mudanças ocorridas no conteúdo das disciplinas disponibilizadas em todos os níveis escolares no país, não priorizaram  conteúdos programáticos relacionados a formação cívica, moral e ética, principalmente junto aos estudantes adolescentes e jovens universitários. Mas, foram priorizados conteúdos ideológicos de partidos que ficaram no poder, como forma de doutrinação ideológica, que pouco ou nada contribuem para a prática do bem comum. Os princípios e os compromissos éticos e morais, assumidos e publicados nos manifestos de criação de muitos partidos políticos, muitas vezes são abandonados quando esses partidos assumem a gestão da coisa pública. Talvez essa seja uma das principais causas desse baixo percentual de reeleição dos prefeitos municipais no país.

Outro fato muito importante identificado nessas duas eleições municipais que merece destaque, está relacionado a fraqueza política da figura da fidelidade partidária, possivelmente causada pela deficiente formação política desses candidatos, que trocam seguidamente de partidos, bem como pelo grande número de partidos políticos que existe no país, situação que facilita esse troca-troca, uma realidade tupiniquim! Um grande percentual dos prefeitos (as) reeleitos (as) conseguiram a vitória em 2020 por outro partido que não aqueles pelos quais tinham sido eleitos em 2016, resultado que aconteceu em maior ou menor percentual em vinte e seis estados brasileiros – eles mudam de partido como mudam de camisa, pois são muitos partidos políticos prontos para recebê-los. Além disso, muitas vezes, em diferentes estados, o poder político municipal ou regional, são feudos de famílias tradicionais e poderosas, política e economicamente, que estão no poder por muito tempo, e que mudam de partidos políticos ao sabor das suas conveniências pessoais e dos seus negócios particulares.

O país tem 5.568 municípios,  o mesmo número de prefeitos e vice-prefeitos e milhares de vereadores, os principais cabos eleitorais nos municípios. Em 2020, os grandes vencedores, em termos de prefeitos eleitos, foram MDB, com 804, PP com 699, PSD com 665, PSDB com 531, DEM com 477 e PL com 454 prefeitos. Esses seis partidos que são as  principais forças políticas atuais no Brasil, conquistaram 3.530 prefeituras, elegendo mais de 63% dos prefeitos do país em 2020.

O MDB, que nãoelegeu Presidente nas últimas eleições,  mas teve dois vices presidentes, Itamar Franco e Michel Temer, que assumiram a Presidência quando aconteceram os impeachments dos Presidentes Fernando Collor e Dilma Rousseff, continua sendo um partido muito dividido em eleições presidenciais. Não tem candidatos fortes e populares.  Elegeu 1.056 prefeitos em 2016 e mesmo perdendo 252 prefeituras em 2020, manteve a primeira posição no ranking dos principais partidos políticos do país, sendo o número um no Norte e no Sul. Independente de quem será seu candidato à Presidente, o grande objetivo do partido sempre foi a conquista da maioria no Senado Federal e na Câmara dos Deputados. E isso continua sendo verdadeiro em 2022 !

O PP, forte aliado do Presidente Bolsonaro, ganhou mais 197 prefeituras em 2020 e se consolidou como a 2ª força política municipal, sendo o partido que mais conquistou prefeituras no Nordeste, com a eleição de 289 prefeitos e ocupa o segundo lugar no Sul com 221 prefeituras.

Em terceiro lugar aparece o PSD, sob presidência de Gilberto Kassab, que ainda   com 11,9% dos prefeitos eleitos do país, e segunda maior força política no Nordeste com 251 prefeitos. O potencial candidato é Rodrigo Pacheco, Senador mineiro pelo DEM que está se filiando ao PSD.

O PSDB, do candidato João Dória,  com seus 531 prefeitos eleitos, 9,4% do total, ocupa a quarta posição municipal, mas está fortemente  concentrado no Sudeste, com 270 prefeituras,  e com pouca participação majoritária nas demais regiões do país.

O DEM, aliado de Bolsonaro em 2018, que está se fundindo com o PSL, partido que elegeu Bolsonaro, é a quinta força política municipal, e a primeira força no Centro-oeste com 103 prefeituras, 21,6% das prefeituras da região. Pretende ter candidato à presidência em 2022. Mas, em eventual segundo turno, apoia JMB !

O PL, partido atual do Presidente Bolsonaro, sexta força política do país, concentra sua maior força municipal no Nordeste, com 142 prefeituras conquistadas em 2020. A filiação de JMB pode significar um forte crescimento do partido nos estados, e no Congresso Nacional, tanto na SF como na CD !

O PDT, de Ciro Gomes,  tem 324 prefeitos, doze a menos do que nas eleições de 2016 quando conquistou 336 prefeituras, ocupa a 7ª posição, com 5,8% do total de prefeituras, sendo 147 no Nordeste e 86 no Sul.

O PT,do sempre candidato e ex-presidente Lula, que dominou o cenário eleitoral nas eleições presidenciais de 2002 a 2018,ficou na 12ª posição em 2020, com 183 prefeituras, apenas 3,28% do total dos prefeitos brasileiros, sendo 90, na região nordeste, que tem 1.793 prefeituras. Isso significa que o PT elegeu apenas 4,66% dos prefeitos no seu principal reduto eleitoral ! Nas regiões Sul Sudeste, que detém 2.859 municípios, elegeu 76 prefeitos, 2,65% dos mandatários municipais destas duas regiões. No Centro-oeste quase desapareceu, pois elegeu só 4 prefeitos.

O Podemos,do candidato Sergio Moro, originalmente PTN – Partido Trabalhista Nacional,(em 2016 alterou o nome para Podemos), é comandado desde a sua criação em 1995  pela família Abreu. Portanto é um partido que tem “donos familiares” !Elegeu 32 prefeitos em 2016 e nenhum em 2020. Nenhuma estrutura politica relevante nos estados.

A partir desses números, e com base na nossa percepção da realidade política atual em janeiro de 2022, entendemos que algumas visões podem ser enumeradas, desde que seja feita uma análise objetiva e criteriosa das atividades passadas recentes desses candidatos, enquanto gestores da coisa pública ou enquanto membros de casas legislativas, para se avaliar a honestidade e credibilidade dos candidatos e das propostas políticas.

O PSDB perdeu o apelo político nacional que tinha no passado, a partir das graves denuncias de corrupção que atingiram seus principais dirigentes e ex-candidatos a Presidência,  José Serra e Aécio Neves. João Dória é um Pato Manco ! Não conseguiu evitar a saída de  Alckmin do partido  e isso foi um tiro no pé, pois Alkmin tem grande projeção no estado de SP e pode carregar grande números de prefeitos e vereadores ( e eleitores) para o partido ao qual se filiar.  E, João Dória é um político que não convence nem o eleitor paulista ! Se não crescer nas pesquisas, o que acho que vai acontecer, será abandonado pelas lideranças partidárias, que devem  apoiarnovamente JMB !

O PT tem muitos recursos, no país e no exterior, e ainda grande influência junto a alguns segmentos da sociedade,  como nas universidades que foram aparelhadas pelo partido e junto a muitos órgãos de mídia, que desejam a volta do PT ao governo para voltar a ter acesso aos fatos recursos financeiros que desfrutavam durante os governos petistas.  Por isso aparece essas pesquisas fajutas e sem credibilidade dando a Lula grande vantagens no primeiro e no segundo turno. Mas Lulaé um candidato que embora muito experiente, tem rejeição majoritária dos eleitores em todo o país. OPT foi relegado a um pequeno partido nas eleições municipais de 2020 e essa situação municipal dificilmente será revertida. O PSD ocupou grande parte dessas prefeituras, ganhando também muitos vereadores. Lula pode ser considerado novamente  inelegível se for essa a decisão do STF na reunião do colegiado  programada para abril 22. Difícil de acontecer ?  Sim. Impossível de acontecer ? Não !    Se for aceito como candidato,  será enxovalhado em qualquer evento público, onde quer que vá! Se disputar e perder, o PT ficará reduzido a um partido pequeno, apesar da militância (militância que era paga, diga-se de passagem). Se for julgado inelegível ou se nas pesquisas sérias que forem feitas a partir desse ano (que devem ser registradas no TSE, com a metodologia usada descrita adequadamente) não aparecer com boa margem de votos, pode ser que na última hora o PT lance o Haddad novamente! Se nada disso acontecer, provavelmente Lula será o adversário, em um segundo turno !

Sérgio  Moro, candidato do partido da Família Abreu,  está atravessando um momento complicado. Se não convencer o partido de que é inocente das denúncias que estão surgindo contra ele na mídia, e que vão continuar aparecendo, ou seja, se não conseguir provar/convencer os próceres do Podemos que tem a ficha limpa e o rabo solto pode ser esvaziado pelo partido, que buscará outra alternativa! Mesmo assim, acho que uns 10% das intenções de voto seria seu teto ! E, esse percentual vem de eleitores que estão descontentes com Bolsonaro por conta do seu posicionamento (com base nas matérias televisivas da mídia opositora),  sobre a pandemia. Não chega ao segundo turno.

Ciro Gomes poderá crescer se essas duas hipóteses sobre Lula e Moro se concretizarem!Está batendo pesado, e vai continuar, no PT e no Lula e criticar pesado o Sérgio Moro. Acho que não vai gastar tempo e críticas ao Bolsonaro, pois em várias ocasiões elogiou o Presidente.   Mas, mesmo que chegue a um eventual segundo turno, o que não acredito,nenhuma chance de ganhar! Eleitores estão cansados do discurso que faz!! E continua muito prepotente e petulante, o típico Dr. sabe-tudo!! Em um eventual segundo turno PL x PT, acho que ficará neutro ou apoiará o JMB !

O PSD, sob presidência de Gilberto Kassab, tem como potencial candidato Rodrigo Pacheco, caso ele se filie ao partido.  Acho que isso dificilmente irá acontecer! Talvez o PSD busque um candidato ou talvez apoie um outro partido se não lançar candidato. Mas, pode ainda ter candidato próprio para tentar ganhar mais projeçã0 nacional. Cresce entre muitos políticos experientes a percepção de que a Terceira Via não acontecerá !! Tendência é que apoie Lula em um possível segundo turno! Mas, se Lula não passar dos 20% no primeiro, talvez fique neutro ou negocie posições para apoiar JMB no segundo turno !

Acho que nesse momento não existem outros partidos ou candidatos viáveis para serem objeto de algum tipo de análise !!

Resumindo:

Cenário mais provável:

Partindo do pressuposto que as eleições serão limpas. Acho que a economia volta a crescer um pouco,  com base na retomada dos investimentos com capital externo, a partir das privatizações que já aconteceram e das novas privatizações em andamento. Minha visão é que haverá a recuperação dos empregos, a  melhoria do poder de compra da população, com  o controle gradual da inflação, a queda dos juros e ocorrência  boas safras (mesmo com a estiagem no sul do país, JMB será reeleito!

Cenário pouco provável

Fraudes nas urnas com a eleição do Lula  e se isso for comprovado, as eleições devem ser anuladas e Lula ser considerado inelegível. Se mesmo com fraude comprovada o TSE e STF  entenderem que o resultado é válido, poderemos viver um período de excepcional gravidade! Possivelmente será baixado um Ato Institucional, com suspensão das atividades do Congresso Nacional e destituição de todos os  membros do STF e nomeação de novos ministros do STF pelo PR da República !PR poderá governar com poderes excepcionais, o que será ruim para a democracia !

Dante D G Scolari* Consultor Independente. Economista, Engenheiro Agrônomo, PG em Economia, Pesquisador aposentado e Ex-Diretor da Embrapa. Foi assessor técnico do Presidente da CAPADR/Câmara dos Deputados por vários anos.

spot_img
spot_img
spot_img
spot_img
spot_img

Últimas Publicações

ACOMPANHE NAS REDES SOCIAIS