Alianima lança publicação com diretrizes de bem-estar na cadeia de produção de peixes

Publicação destaca capacidade dos peixes de sentir emoções básicas, como medo e dor

A Alianima, organização que atua na agenda da proteção animal e ambiental no Brasil desde 2019, lança nesta sexta-feira a publicação ‘Por que e como melhorar o bem-estar de peixes’. Voltada para empresas do setor alimentício — entre produtores e redes de varejo — e consumidores, a publicação visa sensibilizar e engajar esses públicos para o bem-estar de peixes, agenda que começa a dar seus primeiros passos no Brasil.

A publicação da Alianima inicialmente responde à pergunta ‘por que melhorar o bem-estar dos peixes?’ e o primeiro argumento é que os peixes têm senciência, ou seja, a capacidade de sentir emoções básicas, como dor, medo, frio e fome. Isso quer dizer que não apenas detectam, observam ou reagem automaticamente e de forma reflexiva às coisas ao seu redor, mas que também processam as informações e respondem a elas com alterações comportamentais complexas.

Há atualmente um grande conjunto de evidências anatômicas, fisiológicas, comportamentais, evolutivas e farmacológicas que indicam que os peixes são capazes de sentir emoções de maneira similar aos demais vertebrados, e que suas percepções e habilidades cognitivas muitas vezes correspondem, ou até mesmo excedem, as desses animais.

“Desta forma, é preciso adotar medidas que evitem o sofrimento dos peixes. Há frigoríficos, por exemplo, que utilizam a hipotermia em mistura de água e gelo para insensibilização, mas tal método não induz inconsciência, apenas paralisia”, exemplificou Patrycia Sato, presidente da Alianima. Além dos peixes, a organização atua nas cadeias de produção de ovos e de carne suína e de frango.

Produção no Brasil e no mundo

Os peixes estão entre os animais mais utilizados pelo homem, seja para consumo, pesquisa científica, recreação ou como animais de estimação. Segundo o Fishcount 2019, cerca de 1,5 trilhão de peixes são capturados na natureza e até 167 bilhões são criados para consumo humano a cada ano em todo o mundo. Esse número é cerca de 25 vezes maior que todos os animais terrestres abatidos juntos, o que corresponde a aproximadamente 73 bilhões .

No Brasil, a Associação Brasileira da Piscicultura estima que, em 2021, a cadeia da produção de peixes no Brasil atingiu 841.005 toneladas, com receita de cerca de R$ 8 bilhões. A piscicultura gera cerca de 3 milhões de empregos diretos e indiretos no país, que é o quarto maior produtor mundial de tilápia, espécie que representa 63,5% da produção do país. Também segundo a associação, os peixes nativos, liderados pelo tambaqui, participam com 31,2% e outras espécies com 5,3%.

Falar sobre senciência animal é de extrema relevância para conscientizar a população e direcionar as ações visando o bem-estar animal em todas as esferas, sejam elas educacional, científica, legislativa ou produtiva, especialmente no caso dos peixes. “Do ponto de vista técnico, a variedade de espécies e as particularidades que cada uma traz em sua fisiologia e comportamento representam um desafio para a adoção das medidas de bem-estar. Por isso, o trabalho em parceria com as cadeias de suprimento, em especial, as de espécies cultivadas, é de extrema importância para a construção de um sistema de produção eficiente, que valorize o bem-estar, refletindo em melhorias na qualidade de vida e na produtividade”, explica Patrycia.

Nesse sentido, a publicação da Alianima aponta o modelo dos ‘Cinco Domínios’ como referência para melhoria no bem-estar dos peixes: (i) nutrição – acesso a alimentos adequados para manter sua saúde e vigor; (ii) ambiente — que possibilite e não prejudique o seu bem-estar; (iii) saúde — não exposição a riscos de lesões, prevenção e tratamento rápido e adequado de doenças; (iv) comportamento — possibilidade de expressar seus comportamentos naturais, o que exige espaço suficiente e instalações adequadas; e (v) estados mentais – que refletem as emoções a partir do outros domínios, indicando assim o estado de bem-estar dos animais.

De acordo com a presidente da Alianima, as versões mais recentes desse modelo são importantes porque não focam apenas em reduzir o sofrimento, mas também em oferecer condições e estímulos adequados que possam trazer algum prazer para os animais, algo que deve sempre fazer parte das considerações de bem-estar. “É fundamental oferecer estímulos positivos que entretenham os animais e que lhes possibilitem ampliar seu repertório comportamental e ter emoções positivas para alcançar uma vida que vale a pena ser vivida”, conclui Patrycia.

A partir desse modelo, a publicação orienta a cadeia de produção para o bem-estar de peixes considerando como base aspectos de qualidade da água; alimentação adequada; espaço e densidade; enriquecimento ambiental; insensibilização e abate; e transporte e manejo. A publicação também traz recomendações adicionais sobre questões ligadas à saúde dos peixes, indicadores de bem-estar nesses animais e o controle de predadores nos sistemas de produção, destacando a importância de um treinamento adequado para quem trabalha diretamente com os peixes.

Fonte: ALTER Conteúdo Relevante