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SAFRAS DE SOJA, MILHO E ALGODÃO DEVEM SER MAIORES: O QUE ESPERAR PARA OS PREÇOS?

Por Lucilio Alves *

A nova temporada de grãos, a ser colhida em 2019, se inicia no Brasil em clima de certo otimismo, sustentado pelos bons resultados das duas últimas safras, pelo menos – tanto em termos de produção quanto de rentabilidade. Em 2018, houve problemas regionais com algumas culturas, como o milho segunda safra e o trigo de inverno e, mesmo assim, o Brasil colheu a segunda maior produção da história, perdendo apenas para o volume de 2016/17.

Soja, milho e algodão, que concorrem entre si em área, são responsáveis pelo uso de 89,5% das áreas de grãos e cereais no verão no Brasil (ou 85,8% considerando-se as safras de verão e de inverno), gerando cerca de 92% da produção nacional de grãos (ou 89,1% considerando-se as safras de verão e de inverno).

Para a próxima temporada, dados da primeira estimativa da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) apontam aumento expressivo da área com algodão, certa estabilidade para o milho total (a depender da 2ª safra, cultivada nos primeiros meses de 2019) e novo crescimento da área com soja. Em termos de produção, o maior uso de tecnologias no campo deve continuar favorecendo ganhos de produtividade, mas o clima tem peso importante. De qualquer maneira, são esperadas ofertas maiores que em 2017/18, especialmente para o milho.

A rentabilidade – ou pelo menos a expectativa de que esta seja maior frente a outras culturas concorrentes – e a possibilidade de fazer sistemas produtivos (como soja + algodão 2ª safra e soja + milho 2ª safra) são os principais motivos para os frequentes aumentos na área dessas culturas.

Ao se avaliar os períodos de tomada de decisão nas diferentes regiões brasileiras, em especial entre o final do segundo trimestre e todo o terceiro trimestre de cada ano, em 2018, os preços no mercado físico estiveram maiores que os registrados em 2017. E isso, por si só, já cria um ambiente favorável para aumentos de área.

Entretanto, o que deve ser considerado nas decisões são os preços que podem ser obtidos no momento de colheita de cada cultura. Para a soja, os valores na Bolsa de Chicago (CME/CBOT) apontam elevações para os próximos dois anos, depois de terem registrado perdas expressivas em 2018. Já para o Brasil, ao se considerar os valores FOB (Free on Board) porto de Paranaguá, os contratos a termo para março, abril e maio de 2019 apontam quedas de 13%, em dólares, em relação aos valores de outubro e novembro. Para o vendedor brasileiro, a receita também dependerá do dólar.

Assim, enquanto a guerra comercial entre Estados Unidos e China fez os preços da soja norte-americana despencarem e os da América do Sul subirem, a boa safra registrada neste semestre nos Estados Unidos e uma nova produção recorde na América do Sul podem elevar os estoques mundiais e pressionar as cotações. Além disso, certamente, países importadores, que não a China, devem optar por comprar maiores volumes dos Estados Unidos em detrimento da América do Sul, diante dos diferenciais de preços desfavoráveis para a América do Sul. Além disso, as margens de esmagamento estão e devem continuar baixas nos próximos meses no Brasil e no mundo. Da China, deve vir menor demanda no ano-safra, devido ao enfraquecimento na procura interna, especialmente por parte de suinocultores.

Para o milho, os preços nos Estados Unidos também sinalizam altas, o que deve atrair produtores daquele país novamente para a cultura em 2019. No Brasil, os preços estão bem maiores que os registrados em 2017 e, por enquanto, o mercado futuro não sinaliza quedas expressivas para o próximo ano. Entretanto, como as exportações estão em ritmo mais lento, pode ser que os estoques de passagem fiquem mais elevados que os esperados até o momento, que a oferta de primeira safra seja maior que em 2018 e que ocorra boa oferta da 2ª safra. Com isso, as cotações podem recuar comparativamente ao esperado até o momento. Das três culturas aqui analisadas, é para o milho que os valores podem oscilar de forma mais intensa e em curto período, elevando a necessidade de acompanhamento “mais de perto”, para não perder o momento adequado de tomada de decisão.

É para o algodão que a relação receita/custos aponta melhor atratividade entre as culturas temporárias atualmente, tanto em termos de retornos percentuais quanto monetários por hectare. Além disso, as cotações médias até outubro estavam nos maiores patamares desde meados de 2011, em termos reais, deflacionadas pelo IGP-DI. Isso justifica a euforia de produtores que buscam elevar o cultivo nesta temporada. A Conab estima que a área 2018/19 possa ser até 20% maior que a da temporada passada, que já havia aumentado 25,1% frente à anterior.

Apesar de as cotações futuras de algodão indicarem tendência ligeiramente decrescente para os próximos dois anos, os preços, em dólares, no final de 2020, ainda ficariam acima dos observados nas últimas temporadas. Entretanto, para o Brasil, as cotações da próxima safra vão depender da paridade de exportação, que, por sua vez, tem influência direta da taxa de câmbio. Assim, é importante que vendedores busquem travar níveis de preços o quanto antes, pois há pressão mais intensa nos períodos de pico de oferta.

Mas são para os novos entrantes na atividade que pairam os maiores desafios. Podem ser citados os desafios iniciais em relação a crédito, devido ao alto custo da cultura, assim como os aspectos técnicos, que envolvem uso adequado de variedades, fertilizantes e controle fitossanitário, visando a boa produtividade e qualidade de pluma, a custo competitivo. Porém, não deve ser deixado de lado o gerenciamento da contratação de máquinas para realizar a colheita e unidades beneficiadoras de terceiros, para que se tenha a pluma em momento e condições adequadas para comercialização. A própria comercialização é outro desafio para os entrantes.

Para todas as culturas, vale observar que as compras de insumos ocorreram com taxa câmbio relativamente elevada. Caso o Real se valorize, a paridade de exportação pode ser pressionada, podendo levar a um descasamento não esperado entre receita e custo. Assim, a temporada 2018/19, apesar de iniciar com otimismo, tem tudo para ser desafiadora em termos de gerenciamento em todos os elos do agronegócio brasileiro.

*Lucilio Alves é Professor da Esalq/USP

Pesquisador responsável pelas Equipes de Grãos, Fibras e Raízes do Cepea

Artigo originalmente publicado em: 12/11/2018

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