Bem-estar dos suínos começa com uma boa seleção genética

Cuidados com a criação vão além da ambiência, por isso, para produzir animais mais resistentes e produtivos é preciso que o produtor primeiramente se atente à escolha de boas matrizes

Nos últimos anos a suinocultura tem sido uma atividade muito desafiadora. Se por um lado a produção tem avançado com a expectativa, para este ano, de crescimento em torno de 5% (4,95 milhões de toneladas), com um consumo interno que deverá pela primeira vez superar os 18 quilos per capita, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), do outro, tem sido árdua a missão do produtor para se manter em equilíbrio pelos altos custos de produção demonstrados.

Para não ficar refém das oscilações do mercado, o suinocultor precisa ser eficiente em todos os processos do sistema produtivo e isso passa obrigatoriamente pelo bem-estar na criação dos animais. Via de regra, não há uma receita padrão para esse tema, pois são muitos os sistemas de criação, os objetivos da produção, entre outros fatores. Mas, segundo a criadora, Beate von Staa, proprietária da Topgen, marca brasileira especializada em genética suína, há sim pontos fundamentais que precisam de atenção e podem fazer a diferença no final.

Cientificamente, é comprovado que animais sem estresse e bem ambientados se desenvolvem melhor e consequentemente são mais produtivos. Mas, o que afinal é bem-estar animal? Em linhas gerais, é quando o animal está sob a melhor condição de conforto, estando corretamente suprido de alimento e água, alojado em ambientes que garantam a total expressão de seus comportamentos natos, e livre de estresse térmico. “Ou seja, bem-estar é quando o suíno está sadio, bem alimentado e sem problemas comportamentais com espaço adequado”, detalha Beate.

Entretanto, estudos mostram que essas questões de cuidados com a criação vão além da ambiência, ou seja, o que pouco foi falado até hoje é a importância e a influência da genética no bem-estar. Na produção animal, a saúde é influenciada por três características sustentadas pela base genética: resistência a doenças, tolerância a doenças e infectividade. Animais completamente resistentes conseguem manter o ciclo de vida do patógeno sob controle quando são infectados, limitando a multiplicação do agente e, por vezes, sendo capazes de eliminá-lo. Como resultado, não ficam doentes.

Por outro lado, animais completamente tolerantes, quando são infectados, permitem que o patógeno se estabeleça e se multiplique, contudo, não ficam doentes e seus níveis de desempenho são pouco afetados – de algum modo, eles “aprendem a viver” com o patógeno. A terceira característica, a infectividade, quantifica quantos animais de um grupo suscetível são infectados por um indivíduo infectado.

Estas características representam importantes parâmetros epidemiológicos para a previsão da transmissão e estabelecimento de uma enfermidade em uma granja. Assim, “é possível, pelo recurso do melhoramento genético, promover a saúde e o bem-estar do animal. Muitas das características envolvidas são herdáveis e podem ser registradas, de modo que os valores genéticos dos candidatos à seleção sejam estimados e incorporados nos índices de seleção de rotina no nível do núcleo genético”, destaca Beate.

Ainda segundo ela, é exatamente neste aspecto que tem sido o foco da Topgen nas últimas três décadas na seleção de boas matrizes. “Dentro dessa seleção, lidamos com dados, indicadores produtivos e a conformação das matrizes, que sempre fez parte do melhoramento genético daqui”, diz a profissional.

A conformação, por exemplo, está diretamente ligada à robustez e à qualidade do casco e, consequentemente, de todo o aparelho locomotor. A preocupação nesse aspecto tem um motivo claro, a claudicação, um problema muito comum, principalmente em matrizes suínas. A claudicação é o termo técnico para a popular “manqueira”, condição geralmente causada por problemas circulatórios que dificultam o ato de caminhar e que podem acometer animais de diferentes espécies, inclusive humanos.

Os suínos, especialmente, são bastante expostos ao risco de claudicação, principalmente quando são alojados em instalações com privação de espaço, como as gaiolas de gestação e as celas de parição, e/ou quando o piso do ambiente é inadequado, ou seja, não detém boa drenagem e tampouco a manutenção para assegurar o conforto exigido pela espécie. “Os cascos dos suínos são biologicamente adaptados para caminhar em pisos firmes e livres de saliências, rugosidades, umidade permanente ou lisos em excesso. Como resultado, são frequentes as lesões nos cascos dos animais, que se expressam pela presença de inflamação, desgaste e rachaduras. Com dor e dificuldade para caminhar, podem sofrer diversas consequências”, diz a especialista.

Entre elas está a mudança de comportamento, que é traduzida pela redução na interação social, alteração nos hábitos alimentares, perda de peso, dificuldade para se levantar e insistência em permanecer deitado. Além disso, há ainda a liberação de hormônios do estresse que, sob uma condição contínua, crônica, prejudica o sistema de defesa do animal, aumentando a ocorrência de problemas urinários e infecções, com consequências negativas na fertilidade e na taxa de sobrevivência de fetos e leitões.

Cuidados importantes

Pensar bem a estrutura do alojamento dos animais é essencial. Em ambientes confinados, a condição de conforto térmico deve ser fortemente considerada, além do espaço por animal que, para leitoas e matrizes, deve ser, no mínimo, 1,5m² e 2m² respectivamente.

Temperaturas extremas (frio ou calor), como também a alta concentração de gases no ambiente, principalmente a amônia, proveniente da fermentação dos dejetos, devem ser evitadas. Quanto ao piso, a condição da umidade é um aliado da piora da saúde e dos cascos. O ideal é que se mantenham secos e sejam pouco ásperos, limitando o desgaste e lesões nos cascos. O uso de camas, como a serragem, quando possível, é indicada, desde que mantidas secas.

Os medicamentos também têm influência sobre o comportamento dos animais. O uso de antibióticos, por exemplo, deve ser dirigido para atendimento efetivo de quadros infecciosos, sem abuso ou distorções de uso fora deste contexto. De forma crescente, os programas vacinais se mostram bastante eficientes para prevenção de muitas enfermidades, substituindo o uso de antibióticos. Paralelamente, a nutrição mais precisa e corretamente balanceada, garante animais mais resistentes.

Alimentação

O cuidado com a alimentação é fundamental, condição que contempla aspectos nutricionais e quantitativos, ou seja, o que é e como é disponibilizado o alimento para os animais.

Existem no mercado diversos tipos de comedouros, portanto, a recomendação da especialista da Topgen é procurar o melhor cocho, na qual se consegue otimizar a oferta de ração com o mínimo de desperdício. “Aqui utilizamos o modelo linear, conseguimos com ele garantir a necessidade nutricional dos animais, mas cada propriedade pode ter um modelo que melhor se adeque”, explica Beate.

Observar o comportamento

Quando o animal não está bem, ele expressa sinais desta condição. Assim, é importante que diariamente todos os animais sejam observados. Sinais como pelos arrepiados, claudicação (manqueira), falta de apetite e isolamento são típicos nesses quadros. “Pode-se resumir a criação de suínos à mesma premissa da medicina humana. Quando estamos doentes, o médico precisa olhar o paciente como um todo, na suinocultura é assim, tem que analisar o conjunto e não só tratar um fato, tem que verificar e investigar a causa. Geralmente as causas são simples, mas precisam ser identificadas e o mais prontamente solucionadas’”, finaliza a profissional.

Fonte: RuralPress