China, escalada do dólar e juros. Quais os cenários para o mercado de commodities?

Para analistas da hEDGEpoint Global Markets, é imprescindível uma estratégia estruturada de proteção para garantir bons níveis de remuneração na atual conjuntura

O preço das commodities caiu com o baixo desempenho do petróleo, ocasionado pela recessão econômica global e lockdowns na China. Além disso, refinarias na Europa e EUA cortaram o consumo de petróleo no terceiro trimestre. Sendo insumo de outras commodities, o combustível fóssil explica a fraqueza dos outros ativos. Esse é o cenário global da atual conjuntura traçado pela hEDGEpoint Global Markets, companhia especializada em análises financeiras, gestão de riscos e hedge de commodities.

Segundo analistas da empresa, assim que passar o pessimismo no mercado, o provável é que as curvas invertidas se fortaleçam novamente com as previsões de aumento de demanda. “Isso acontecerá num momento em que o Capex da indústria está baixo; e preços mais altos são esperados”, diz Heitor Paiva, analista de Energia e Macroeconomia da hEDGEpoint.

Para o analista, na maior economia global, os EUA, embora os mercados estejam precificando a expectativa que o Fed aumente juros até março de 2023, o atual aperto monetário não levou a uma grande deterioração econômica. O mercado de trabalho tem sido resiliente — a abertura de novas vagas de emprego caíram, mas o desemprego continua baixo.

“A inflação do lado da demanda é mais fraca que a da oferta neste ciclo. Um mercado de trabalho apertado significa que a oferta de emprego é menor, o que leva a salários mais altos. Os salários, sendo um custo relevante, são repassados aos consumidores na forma de preços mais altos”, diz Paiva.

Perspectivas para a Europa

Culturas como o milho e trigo precisam de fertilizantes à base de nitrogênio, pois não fixam nitrogênio em suas raízes. Considerando que os altos preços do gás natural reduziram a rentabilidade da amônia na Europa, uma menor oferta de nitrogenados é esperada, de acordo com o analista de Grãos e Macroeconomia da hEDGEpoint, Alef Dias.

O preço da eletricidade subiu com baixos fluxos de gás da Rússia, piorando a atividade econômica da região. O mercado espera que a indústria da União Europeia cresça 0,65% no ano, sugerindo um crescimento do PIB de 1,2% no fim de 2022.

“A Rússia fornecerá volumes cada vez menores de gás à Europa, como retaliação”, pontua Dias. Essa escassez será agravada por políticas intervencionistas que incentivam o maior consumo de energia. “O BCE terá que se adaptar, pois gastos relacionados à energia trarão inflação e enfraquecerão o euro”, acrescenta o especialista.

Um Banco Central Europeu (BCE) mais hawkish já está precificado pelo mercado, portanto suas decisões monetárias não afetarão o euro, segundo a análise. “Em nossa opinião, para que esta moeda se fortaleça, são necessárias melhores manchetes relacionadas à energia e um retorno do apetite ao risco no mercado”, observa Dias.

Nos EUA, o Fed espera que taxas cheguem a 4% e se mantenham elevadas “por algum tempo”. Ainda assim, o mercado espera cortes a partir de mar/23. Isto significa que Jerome Powell não se “intimidará” com dados econômicos fracos: um dólar forte durante o resto do ano continua sendo a previsão da hEDGEpoint.

Brasil beneficiado pelo ciclo de alta das commodities

A balança comercial ficou sazonalmente elevada durante grande parte da pandemia e os juros foram rapidamente apertados. Isso conferiu ao Brasil relativa resiliência à macroeconomia internacional, mantendo o carry index elevado durante este período. Uma taxa de crescimento muito próxima à da China, contudo, mostra a dependência da economia brasileira pelos preços elevados das commodities.

Os termos de troca seguem em deterioração. Importações estão caras e a demanda externa pelas comodities brasileiras ainda não se recuperou — basicamente em função da China, e a recente desvalorização do Yuan reduz ainda mais a sua capacidade de importação, de acordo com a hEDGEpoint.

O desempenho, contudo, foi positivo, segundo os analistas. O Brasil teve uma performance forte em 2022, acima dos outros países latino-americanos. “O Brasil deve crescer 3%, isso muito puxado pelas commodities. O impacto é do cenário de recessão nos EUA e mudanças no governo da China — um governo mais fechado, que expulsou um membro mais liberal do parlamento”, comenta o head de Grãos da hEDGEpoint, Marcelo Lacerda.

“Se a gente perde uma China, a relação de oferta e demanda se desequilibra para um aumento de oferta interna e preços diminuindo, afetando a economia e o real. O Brasil é muito mais dependente do mercado interno do que o externo”, ressalta o especialista.

O risco político, embora existente, não foi tão relevante — e, segundo Lacerda, ainda não foi precificado pelo mercado. Em média, o Real desvaloriza 20% em anos de eleições, o que não ocorreu até o momento, de acordo com ele. Um primeiro turno disputado e o Congresso equilibrado diluíram riscos relacionados às escolhas econômicas heterodoxas.

Especuladores estão comprados na moeda americana, e ainda não apresentam grandes posições em commodities. No momento, o contexto macroeconômico fala mais alto e moeda brasileira deve seguir desvalorizando — tendência está que pode se diluir com nova alta das commodities.

Juros e câmbio

Desde o início do ciclo de alta de juros no Brasil, os juros reais no país ganharam valor em relação aos juros reais norte-americanos, dessa forma aumentando o apetite de investidores pelos títulos públicos brasileiros.

“Uma vez que você tem o diferencial de juros com os EUA muito atrativo para o Brasil, você atrai mais investimentos para a renda fixa, o que para os produtores é vantajoso. O mercado futuro fica mais interessante, em relação ao spot”, observa Luiz Carvalho, senior Derivatives Trader da hEDGEpoint.

O cenário sugere aos exportadores (vendedores de USD) que antecipem a fixação do seu câmbio futuro, enquanto permite aos importadores (compradores de USD) que aguardem os próximos movimentos macroeconômicos. “O indicado para o produtor é fazer uma estrutura de proteção para garantir bons níveis de remuneração”, afirma o especialista.

Segundo a hEDGEpoint, o comportamento do USD/BRL junto aos fundamentos macroeconômicos analisados indica níveis de suporte e de resistência que podem marcar momentos oportunos de entrada e saída das posições.

Fonte: Bruno Cirillo