Com técnica, limão da Jaíba ganha o mundo

Delvani Nogueira da Silva tem mais de 25 anos de experiência com a produção rural, sendo boa parte deste tempo dedicado ao plantio de limão. Morador de Jaíba, Norte do estado, ele apostou nesta cadeia aproveitando o projeto de irrigação que tornou a região polo de fruticultura nacional. Porém, foram muitas idas e vindas antes de começar a colher os melhores resultados. “Eu cheguei a parar o plantio por um tempo, derrubei os pés do fruto, retomando só em 2016, quando me associei aos demais produtores, já visando os mercados interno e externo”, lembrou.

Uma importante chave dessa transformação foi a atuação técnica por meio da capacitação profissional. O produtor foi um dos concluintes da primeira turma do Programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) realizado pelo Sistema Faemg Senar, em parceria com o Sindicato dos Produtores Rurais de Jaíba/Matias Cardoso. Delvani tem hoje, em média, 25 toneladas por hectare/ano de produtividade.

“Tivemos alguns problemas para atingir o nível de produção. Quando chegou o ATeG demos um salto. Hoje o trabalho técnico é essencial. É preciso ser o mais profissional possível para sobreviver na atividade, especialmente o pequeno produtor. Não dá para arriscar perder as plantas, porque cada uma dessas vai impactar em vários meses para voltar ao ciclo produtivo novamente. Felizmente estamos conseguindo chegar em um padrão sustentável”, Delvani Nogueira.

Nível exportação

A ligação do limão de Jaíba, do tipo tahiti, com a exportação, começou por volta de 2010, com as primeiras iniciativas de levar o fruto para a participação em feiras na Europa. Desde então, a cadeia produtiva foi se adaptando às novas exigências do mercado, buscando certificações de qualidade de diversos centros comerciais e tornando os empreendimentos mais profissionais. Somente entre as regiões de Jaíba e Matias Cardoso são mais de dois mil hectares de área com plantio de limão.

“O sindicato tem feito um trabalho para incentivar novos produtores, mas também para que todos comecem a buscar melhorias produtivas, para atingir as certificações do mercado, porque só melhorando o produto para ter maior retorno no negócio. E o caminho envolve buscar tecnologias, melhores tratos culturais, aprimoramento do trabalho em campo e, além disso tudo, é preciso gestão para saber o que está sendo investido e ter retorno final viável”, pontua Ciro Souza de Paula, presidente do Sindicato Rural de Jaíba/Matias Cardoso.

Aliado ao trabalho do sindicato, Sistema Faemg e das demais entidades, dois grupos reúnem, em formato de associativismo, a maior parte dos produtores da cultura do limão, sendo eles a Associação dos Produtores de Limão – Aslim, e a Associação União dos Fruticultores do Jaíba e Região – Afrutja. São cerca de 35 produtores nestas entidades, que entregam ao mercado externo, por ano, de 120 a 150 containers com 24 toneladas cada. Nos últimos meses o grupo tem participado de rodadas de negócios do Programa AgroBR, através da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA, e se orientado ainda mais para as exportações.

“Com volume regular de limão certificado, e com maior grau de profissionalismo, passamos a ter maior entrada no mercado. Hoje temos atuação técnica nas propriedades, com todas as entidades caminhando juntas, o que representa um pacote de boas práticas que foram realizadas e estão em pleno exercício. Temos produtores mais antigos no grupo que saíram de um histórico de exploração, para essa estratégia de mercado internacional, que tem retorno significativo, mas exige contrapartida dos produtores, que foram e seguem capacitados, agregando valor maior à exportação”, comenta Marlon José Meira Jardim, produtor que atua como oficial fairtrade das entidades, e responsável por garantir todos os requisitos das exigências do mercado.

Dinamização em pauta

Para manter este crescimento produtivo com profissionalização e de olho nos novos mercados, os produtores de limão participaram de uma palestra específica sobre exportação do fruto, um dos destaques durante a primeira edição da Feira Agropecuária de Jaíba, realizada no fim de abril. O consultor do Programa AgroBR para Minas Gerais, Paulo Március Campos, conduziu o tema e realizou ainda visita a produtores e empresas durante o evento, para alinhar métodos de trabalho e novas parcerias para a exportação.

“O potencial que se tem aqui é gigantesco, com uma área infinitamente maior que outros polos de fruticultura. O manejo, por meio dos técnicos de campo, o trabalho porteira adentro do ATeG, ajudou a atingir níveis de produtividade e excelência, gerando as certificações e organização dos produtores. Estamos somando esforços para impulsionar ainda mais as exportações, desde os pequenos produtores e associações até os médios e grandes investidores”, detalha o consultor do AgroBR.

A União Europeia é o principal destino comercial, mas é preciso que os produtores passem a também dinamizar o produto a ser ofertado para manter a competitividade. Segundo Paulo Március, o produto in natura do limão, desde o processo até a venda, tem perda de até 1/3, o que pode ter impacto nas contas finais do produtor rural.

“O que vemos é que a Jaíba possa ser também um centro de processamento de frutas e não só produção. Do limão não se faz só a limonada. Existe mercado para produtos beneficiados, para a indústria farmacêutica, indústria de cosméticos, além de vários outros tipos de produtos que podem ser feitos. Este salto é importante para abastecer tanto o mercado interno e o excedente a ser exportado, agregando valor e trabalhando o conceito de cadeia produtiva. Não podemos pensar em ir para o mercado internacional só pensando em momentos que o preço do produto está ruim no Brasil. A exportação precisa ser atividade regular e rotineira, com essas diversas alternativas de produtos”, opina Paulo Március.

Durante a palestra, o consultor do AgroBR detalhou todo o caminho para se atingir novos mercados e o atual panorama comercial das frutas do Brasil no exterior. Antônio Brito, que é produtor de limão há 11 anos, estava na plateia. Ele chegou a ter 15 hectares de plantio da fruta, mas com as variações de preços viu a necessidade de reduzir a produção para sete hectares. Agora ele espera voltar com maior empenho, visando também participar das rodadas de exportação.

“É preciso tratar melhor para melhorar a produtividade. Tive dificuldades com os preços do mercado interno e agora busco atingir as exigências para o mercado internacional. Vim buscar mais conhecimento, porque a expectativa é aumentar e melhorar a produtividade, agregar mais valor”, ponderou.

Fonte: Ricardo Guimarães