Compactação do solo e nematoides reduzem produtividade do algodoeiro

A resistência à penetração na camada de 10 a 20 cm do solo é um dos principais fatores responsáveis pela redução da produtividade do algodão em Mato Grosso. Se a compactação vier acompanhada da infestação pelo nematoide Meloidogyne incognita o dano tende a ser ainda maior.
Essas informações foram obtidas em uma pesquisa desenvolvida pela Embrapa, Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt) e parceiros. O trabalho analisou amostras em mais de 1.100 talhões nas principais regiões produtoras de algodão de Mato Grosso e correlacionou 78 parâmetros, bióticos e abióticos, com a produtividade do algodoeiro, em busca de causas para a redução da produtividade que tem sido observada nas lavouras.
Entre os itens avaliados estavam sistema de produção, cultivares utilizadas, produtividade, atributos químicos, físicos e biológicos do solo, presença de fitoparasitas, entre outros.
Verificou-se que 16% das áreas amostradas apresentam valores muito altos de resistência à penetração, sendo necessária a realização de alguma medida para descompactar o solo.
O pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Ciro Magalhães explica que todos os solos são sujeitos à compactação, independentemente da textura. O excesso de revolvimento (aração e gradagem) e a entrada de máquinas em condições de alta umidade do solo são os principais fatores responsáveis pelo problema.
“A principal causa é o manejo intensivo do solo. A gradagem favorece a compactação porque está desagregando o solo. A capacidade de suporte de carga do solo fica menor. Se entrar uma máquina para fazer alguma operação (geralmente adubação ou aplicação de defensivos) em um solo revolvido, provavelmente ele não suporta a carga e ocorre a compactação”, explica.
Nematoides
A pesquisa também indicou um aumento na incidência de nematoides nas lavouras, quando comparado a dados coletados há dez anos. As duas espécies com maior distribuição são o Pratylenchus brachyurus, presente em 96% das amostras, e o Meloidogyne incognita, encontrado em 23% das áreas analisadas. Também foram encontrados em menor proporção Rotylenchulus reniformis e Heterodera glycines.
De acordo com o trabalho, apesar de estar presente na maior parte das lavouras, o Pratylenchus não tem relação com a queda na produtividade do algodoeiro. Já o Meloidogyne incognita, causador de galhas nas raízes, está fortemente relacionado à baixa produtividade, sobretudo se a incidência ocorre em áreas de solo compactado.
“São causas independentes. Não é sempre que você tem compactação e nematoides. Mas sempre que tem compactação do solo e presença de Meloidogyne, os danos são maiores. São fatores aditivos. A planta tem pouco volume de solo para explorar e o nematoide ataca as raízes naquela área”, explica o pesquisador e chefe-geral da Embrapa Agrossilvipastoril, João Flávio Veloso Silva.
A pesquisa mostrou que em solos classificados como argilosos, quando infestados por grande população deM. incognita, a produção de caroço de algodão por hectare chegou ter redução de 32 arroubas, passando de 277 @/ha para 245@/ha. O prejuízo foi ainda maior em solos classificados como de textura média. Neles, a produção média de 308 @/ha chegou a cair para 238 @/ha por influência de maior população do nematoide das galhas.
Alternativas
O uso de sistemas integrados de produção, com a rotação de culturas tem sido a principal alternativa apontada pelos especialistas para redução dos dois problemas.
No caso da compactação de solo, o uso de plantas com sistema radicular mais eficiente, como crotalárias, nabo forrageiro e gramíneas são uma forma de aumentar a quantidade de poros no solo.
Mas, em alguns casos, a compactação é tão intensa que exige a descompactação mecânica.
“A opção é entrar com o subsolador quebrando essa camada compactada. Mas não adianta descompactar e continuar produzindo do mesmo jeito. Tem de mudar a mentalidade, fazer rotação de culturas, usar plantas de cobertura, evitar revolver o solo para não permitir que volte a se compactar”, alerta Ciro Magalhães.
Nesse sentido, o sistema plantio direto na palha configura-se como uma boa opção nos sistemas produtivos, uma vez que não há revolvimento do solo, permitindo a continuidade de poros de acordo com a decomposição de raízes mortas e com a ação da fauna e microfauna do solo.
Para a redução dos danos causados pelo nematoide Meloidogyne incognita, a melhor alternativa é a rotação de culturas utilizando cultivares de soja, milho e algodão resistentes ou tolerantes a essa espécie, ou ainda plantas não hospedeiras, como as braquiárias e alguns tipos de crotalárias.
“O uso de nematicidas para culturas de escala dificilmente é economicamente viável, porque as áreas são muito grandes e fica muito caro. A melhor alternativa para controlar nematoides em lavouras de escala é usando variedades resistentes e usando rotação de culturas. Isso é fundamental”, explica o pesquisador João Flávio Veloso Silva.
Por: Gabriel Faria (mtb 15.624/MG)
Embrapa Agrossilvipastoril