Congresso de ensino agrícola aborda empreendedorismo e perfil dos profissionais

Encontro promovido pela Agptea e Fenea em Canela também tratou do tema do cooperativismo de crédito e da formação do conselho dos técnicos agrícolas

O segundo e último dia de palestras do 33º Encontro Estadual de Professores e 6º Congresso Estadual de Ensino Agrícola ocorrido na sexta-feira, 26 de outubro, em Canela, na Serra Gaúcha, tratou de temas como empreendedorismo, perfil profissional, cooperativismo e as implicações para o ensino do novo Conselho Profissional dos Técnicos Agrícolas. Neste sábado, dia 27 de Outubro, visitas ao Escultura Parque Pedra dos Silêncios e à Escola Bom Pastor, em Nova Petrópolis (RS), encerram o evento.

Na palestra sobre o “Perfil profissional perante o mundo do trabalho”, o professor Cláudio Fioreze, do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), falou sobre as dificuldades enfrentadas pelas escolas agrícolas estaduais e a necessidade de ocorrer uma parceria com os institutos federais que hoje somam 643 unidades em todo o país. “A missão do IFRS é promover a educação profissional, científica e tecnológica, gratuita e de excelência através da articulação entre ensino, pesquisa e extensão, em consonância com as demandas dos arranjos produtivos locais”, enfatizou.

Conforme Fioreze, ainda existe um enorme contingente no Rio Grande do Sul para ter a sua escolaridade elevada. Disse que entre os desafios para o ensino agrícola está o de formar, além de bons técnicos, cidadãos capazes de fazer coisas diferentes para ajudar a mudar a realidade das suas comunidades. “O professor precisa ter formação aplicada. As escolas agrícolas devem identificar as tendências, os ativos dos municípios onde se inserem, construir uma visão de futuro compartilhada, mobilizar parceiros”, afirmou.

No painel “Sucessão e Empreendedorismo Rural”, o secretário da Agricultura de Gramado (RS), Alexandre Meneguzzo, colocou que hoje para empreender é necessário criar curiosidade e a escola agrícola pode oferecer isso. Salientou que o progresso não pode ignorar a procedência do que é produzido, quais são os pontos fortes da comunidade. “Empreender é decidir trabalhar com as várias opções que podem ser oferecidas como as feiras de produtores, merenda escolar, formas associativas, ocupação do espaço rural”, observou, salientando que empreender é gerar felicidade, é olhar para dentro da propriedade e entender os valores que ela tem.

Com relação à sucessão rural, Meneguzzo informou que em Gramado hoje 103 jovens vivem da agricultura e os agricultores do município são empreendedores, estão inseridos em 12 agroindústrias e em sete roteiros turísticos no meio rural. “É preciso buscar nichos, conquistar espaços, e o agricultor tem bagagem cultural, diversidade, aptidão e carisma. E as escolas agrícolas devem se envolver também nessas conquistas para o desenvolvimento rural”, concluiu.

À tarde, o representante do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), Gilmar Cappellari, falou aos presentes sobre o tema do cooperativismo de crédito, em espaço da Educredi, Cooperativa de Crédito dos Professores da Região Metropolitana de Porto Alegre. Com mais de 20 anos no mercado financeiro, abordou as vantagens deste sistema em relação aos bancos tradicionais. Conforme o especialista, hoje são 967 cooperativas de crédito no Brasil, que movimentam R$ 178 bilhões em ativos e R$ 110 bilhões em depósitos, com mais de 10 milhões de associados. No entanto, isto é apenas 3% do mercado financeiro no país. “O cooperativismo de crédito é uma inovação, mas não no sentido de algo novo, e sim como uma forma de criar uma nova relação no mercado”, afirmou.

Cappellari salientou que as cooperativas de crédito são reguladas pelo Banco Central, o que garante a confiabilidade do sistema. Entretanto, de acordo com o representante do Sicoob, ainda existem desafios para o crescimento do cooperativismo de crédito no Brasil, como a fidelização do associado e ampliação da base de associados, especialmente nos grandes centros urbanos do país. “No interior as pessoas têm uma cultura cooperativista e o convívio, principalmente, com as organizações de produção, mas nos centros maiores, nosso desafio é fazer a educação cooperativa e passar esta mensagem para as pessoas”, analisou.

Finalizando as palestras, o presidente da Federação dos Técnicos Agrícolas do Brasil (Finta) e do Sindicato dos Técnicos Agrícolas de Santa Catarina (Sintagri), Antônio Tiago da Silva, abordou a construção do Conselho dos Técnicos Agrícolas, instituído pela lei 13.639/2018. O dirigente contou o histórico da busca da criação do projeto que levou seis anos até a sua conclusão, e a luta das entidades do setor, de forma a dar as atribuições à atividade dos técnicos de nível médio. “Tivemos reuniões em 2014 com o Ministério do Trabalho onde foi instituído um grupo de trabalho para o tema. Depois foi encaminhado ao Congresso Nacional onde tivemos apoio de diversos parlamentares”, observou.

O Conselho da categoria foi formado. No entanto ainda sofre restrições de grupos políticos dentro do setor. As entidades estaduais com o apoio da Finta estão buscando soluções para que o órgão possa trabalhar em prol dos profissionais de forma a dar apoio às pautas dos técnicos agrícolas.

Texto: Rejane Costa e Nestor Tipa Júnior/AgroEffective