Crise da JBS chega ao mercado de milho e deixa negócios ainda mais lentos

A crise que abala um dos maiores compradores de milho no Brasil, o grupo JBS, já trouxe reflexos ao mercado do cereal. A comercialização do grão já caminhava lentamente e, com as incertezas, os vendedores ficaram ainda mais cautelosos. Os negócios ocorrem pontualmente e com pagamento à vista, conforme explicam os analistas.

Na visão do consultor de mercado da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica, Carlos Cogo, o quadro poderia agravar ainda mais a situação do mercado brasileiro, que já registra excesso de oferta. “E com a chegada da safrinha iremos enfrentar uma intensa pressão baixista. Mais do que a queda nos preços, há uma preocupação em encontrar compradores no mercado”, explica o especialista.

Também é consenso entre os analistas de que os grandes compradores estão retraídos à espera da safrinha e de oportunidades de adquirir o produto com valores mais baixos. Na segunda safra, a produção do grão deverá somar 62,68 milhões de toneladas, conforme último levantamento realizado pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Nas duas safras, o país deverá colher 92,83 milhões de toneladas do cereal.

E com o consumo interno estimado em 56,10 milhões de toneladas e exportações próximas de 25,50 milhões de toneladas, ainda segundo os números oficiais, os estoques finais do ciclo são previstos em 19,73 milhões de toneladas. “Então qualquer alteração na demanda, nós teremos um impacto direto nos estoques finais, caso não haja uma melhora nas exportações”, destaca Cogo.

Balanço de oferta e demanda - Fonte: Conab

Do total projetado para o consumo interno, somente o setor de rações deverá demandar 42,26 milhões de toneladas de milho em 2017, de acordo com as estimativas do Sindirações (Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal). E de toda a cadeia produtiva, a maior demanda pelo grão é do setor de frangos de corte, com 21,61 milhões de toneladas.

“E nós já acompanhamos uma redução nas exportações de carne de frango do Brasil. O setor que ainda apresenta um melhor desempenho é o de suínos. Com isso, há uma preocupação com a demanda por milho no curto e médio prazo”, completa o consultor de mercado.

No primeiro quadrimestre, os embarques de carne frango somaram 1,403 milhão de toneladas, uma queda de 4% em relação ao registrado em igual período do ano passado. No caso da carne suína, as exportações totalizam 230,3 mil toneladas em 2017, um crescimento de 1,5% frente ao desempenho obtido no primeiro quadrimestre de 2016, de 226,9 mil toneladas.

Frente às incertezas e na tentativa de equilibrar o mercado doméstico do cereal, os analistas ainda reforçam a importância das exportações do grão nessa temporada. Porém, de janeiro a abril de 2017, os embarques de milho totalizam 2,33 milhões de toneladas, de acordo com dados reportados pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior). O número representa uma queda de 80,9% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando os embarques somavam 12,20 milhões de toneladas.

“Trabalhamos com uma projeção de 28 milhões de toneladas para exportação, entretanto, as chances de embarcarmos esse volume é cada vez menor”, pondera Carlos Cogo. Em recente entrevista ao Notícias Agrícolas, o presidente executivo da Abramilho, Alysson Paolinelli, disse que o país precisa exportar 40 milhões de toneladas para enxugar o excedente de oferta no mercado doméstico.

A recente alta do dólar elevou os preços da saca do milho praticados nos portos brasileiros e também melhorou a competitividade do grão no cenário internacional. Em maio, a moeda já acumula valorização de 3,99%, segundo levantamento do economista do Notícias Agrícolas, André Lopes.

“Na semana anterior, tivemos valores de até R$ 31,00 a saca do milho e alguns negócios, mas não em volumes expressivos”, afirma Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting.

A grande incógnita do mercado é saber como será o comportamento do dólar nos próximos meses. Os participantes do mercado ainda permanecem atentos à cena política, após as delações realizadas por Joesley Batista, dono da JBS, envolvendo o presidente Michel Temer, que é investigado por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução da Justiça.

Além da instabilidade cambial, as exportações brasileiras ainda precisarão enfrentar a competição com o milho produzido nos EUA e a Argentina. “O mercado internacional de milho está disputado, mas temos os americanos exportando bem nessa temporada. E na Argentina, a safra deverá ficará próxima de 40 milhões de toneladas e com um consumo interno próximo de 12 milhões de toneladas, o país deverá embarcar mais de 27 milhões de toneladas”, completa Cogo.

Frente ao cenário, o presidente executivo da Abramilho ainda sinaliza que os produtores tenham cautela na comercialização do milho e que evitem negócios inconsistentes. No caso da safrinha, a projeção é que, até o momento, cerca de 25 milhões de toneladas, do total previsto, já tenha sido comercializada, de acordo com a Brandalizze Consulting.

Operações de apoio à comercialização

Em meio aos preços abaixo dos valores mínimos fixados em muitas regiões produtoras, o Governo já realiza operações de apoio à comercialização. Ao todo, serão R$ 300 milhões para a venda de 1 milhão de toneladas do cereal produzido em Mato Grosso por meio de contratos de opção. Também serão destinados R$ 500 milhões para leilões de Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural) e Pep (Prêmio para Escoamento do Produto).

Ainda nesta quinta-feira, o Governo ofertou 1 milhão de toneladas do cereal por meio dos leilões e mais 7,4 mil contratos de opção. Os analistas ainda ressaltam que as medidas ajudam a dar liquidez ao mercado, porém, não são suficientes para solucionar o impasse ocasionado pela grande oferta.

Fonte: Notícias Agrícolas