Denúncia de irregularidades poderá impactar todos os elos da cadeia

Muito embora os esforços das entidades de classe e do governo sejam reconhecidos no sentido de evidenciar a realidades da produção nacional de proteínas, a deflagração da operação Carne Fraca na última sexta-feira (17), já trouxe prejuízos a imagem da cadeia de proteínas nacional.

Mas, esses reflexos podem não ficar apenas nas carnes. Em entrevista ao portal de notícias R7, o economista, Marcos Melo, professor de Finanças do Ibmec-DF, afirmou que os impactos poderão ocorrer na pauta de exportação de diversos produtos brasileiros.

“O Brasil deve perder mercados, mas ainda é cedo para avaliar o tamanho do impacto. Vai depender até de negociação diplomática. Agora existe um problema sanitário. O problema é que há instituições públicas que asseguram a qualidade da carne e que estão envolvidas no esquema. Isso é o mais preocupante, porque não afeta apenas a carne. Pode ser qualquer outro produto, frango, suínos, soja que também têm exportação muito grande. Dá motivo para outros países colocarem barreiras fitossanitárias”, pondera.

A expectativa dos envolvidos no setor é que poderemos ter no curto e médio prazo uma redução no consumo de proteínas no mercado interno e, no caso das exportações, recuo nos embarques especialmente de carne de frango. Esses fatores levariam a redução na demanda por grãos – milho e soja – mas, todos esses desdobramentos ainda são muito cedo para afirmar e dependerão do como o governo irá proceder após as denuncias de irregularidades.

“A comunicação da operação policial ensejou generalizações, que tanto o governo federal quanto as entidades do setor estão esclarecendo aos consumidores brasileiros e mercado internacional. Mas não fomos ontem (19) à Brasília protestar contra a PF e nem estamos hoje falando contra ninguém. Nossa preocupação é com mais de 6 milhões de trabalhadores brasileiros, que atuam nesta cadeia de produção de carnes bovina, suína e de aves. Estamos em uma missão patriótica, em defesa da indústria de proteína animal, que embarca anualmente 262 mil containers para 160 países, gerando uma receita que representa 15% do total das exportações brasileiras”, afirmou Francisco Turra, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), entidade que representa as indústrias brasileiras de carnes suína e de aves.

Importantes países importadores de carne bovina, suína e de aves, já notificaram a o embargo para os produtos do Brasil até terceira ordem. A China, como grande importador, também solicitou explicações do governo brasileiro e as carnes já embarcaram deverão ficar retidas.

As ações das empresas que operam no setor também vêm em queda desde o final da última semana. Na BM&FBovespa a perda já chega a quase 8 bilhões de reais em valor de mercado. Considerando apenas JBS, a queda era de cerca de 4 bilhões de reais no período.

A AgResource Brasil (ARC BRASIL) acredita que ainda é cedo para calcular todos os impactos da operação “Carne Fraca”, mas não é exagero em dizer que as fraudes na indústria irão criar dificuldades, no curto prazo, para o mercado de carnes brasileiro. É normal que “embargos” e “suspensões” de importação sejam impostos a países com problemas fitossanitários, da mesma maneira que o Brasil proíbe a importação de alguns produtos como café e camarão para evitar disseminação de doenças.

Ministro da Agricultura vê ‘desastre’ se todos os países interromperem importação de carne do Brasil (no ESTADÃO)

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, considerou nessa segunda-feira, 20, que os efeitos do embargo à exportação de carne brasileira podem ser desastrosos para a economia do País. Hoje, Chile, China, Coreia do Sul e países da Europa anunciaram a suspensão da compra de carnes brasileiras após a Operação Carne Fraca da Polícia Federal encontrar irregularidades em produtos de 21 frigoríficos.

“Se todos os países interromperem a importação, será um desastre”, disse o ministro que, no entanto, minimizou os efeitos da operação em relação ao consumo no Brasil. Maggi anunciou um esquema especial de fiscalização para produtores de carne.

O ministro afirmou ainda que vai buscar o diálogo com países que embargaram a carne brasileira, mas cogitou, porém, retaliar o Chile com a proibição à exportação de produtos daquele país.

Países barram, por ora, importação de carne. Mandem a conta à PF! (REINALDO AZEVEDO)

Um dia os doutores acordam e sentem a comichão: “Vamos tentar quebrar o país de vez. Eu também quero ser Sergio Moro. Eu também quero ser Deltan Dallagnol…. Operação Carne Fraca provocou reação dos importadores (VEJA.COM)

Pois é… É claro que a coisa não seria sem consequências. Existem protocolos a respeito, não é? Apesar da rápida reação do governo brasileiro, sabia-se que os países importadores de carne brasileira tomariam medidas. Uma coisa é embaixador cair de boca na picanha; outra, distinta, são os respectivos órgãos reguladores ignorarem o que a própria Polícia Federal anunciou ao mundo: papelão misturado à carne, uso de lotes putrefatos, emprego de substância cancerígena, partes do corpo dos animais impróprias para consumo humano (cabeça de porco) sorrateiramente metidas no produto final.

Mentiras grotescas.

Bem, já sabemos, a esta altura, que os gênios da PF não entenderam nada do que ouviram. Já sabemos que eles analisaram a carne de um único lugar de processamento, dos 4.837 que existem no país. Já sabemos que todo o resto da narrativa foi montada com chutes e ilações a partir de gravações autorizadas pela Justiça.

Aliás, tomem nota: em todo o mundo desenvolvido, a quebra de um sigilo telefônico costuma ser uma das últimas etapas da investigação. No Brasil, tudo começa e termina com a escuta. Somos tão sofisticados nisso que um bandido como Sérgio Machado só se livrou da cana, e do resto, porque topou gravar seus interlocutores. Mas volto ao ponto.

A União Europeia não suspendeu toda a importação, a exemplo do que fez a China, por exemplo. Oh, não! Só aquela oriunda de frigoríficos citados. Bem, no grupo, estão a BRF e a JBS. Dá praticamente na mesma. A Coreia do Sul anunciou o aumento da fiscalização sobre o produto brasileiro e suspendeu frangos da BRF, o maior exportador mundial dessa carne. Por enquanto, nada de carne brasileira, de qualquer uma, no Chile.

Eis aí as consequências práticas da irresponsabilidade da Polícia Federal, do seu açodamento, do seu gosto pelo espalhafato… Quem vai pagar por todas essas bobagens? Ninguém. Um dia, um doutor acorda de veneta, fica com carência de refletores, resolve que tem de ser o assunto das mesas de bar, sente aquele faniquito da celebridade e bate o porrete na mesa: “É hoje!”. E 1.100 homens vão a campo para provar que o setor da economia em que o país atingiu a excelência — as ligações políticas da JBS são outro assunto, que merece ser discutido, sim — não passa de uma fraude de alcance mundial. Na verdade, são todos uns malvadões, capazes de fraudar até salsicha de merenda escolar.

E tudo isso, reitere-se, fazendo o exame de amostras de UM entre 4.837 postos de abastecimento. Alguma evidência material do papelão misturado à maçaroca de carne? Não! Isso veio de escuta. Alguma evidência do uso sistemático de “carne podre”? Não! Isso veio da escuta. Algum estudo científico provando que ácidos normalmente usados na indústria de alimentos são cancerígenos? Não! Isso saiu da mente divinal de um delegado.

Então ficamos assim. Um dia os doutores acordam e sentem aquela comichão incontrolável: “Vamos tentar quebrar o país de vez? O que temos aí ainda não é o suficiente! Vamos fazer sucesso. Vamos mobilizar a população! Eu também quero ser Sergio Moro. Eu também quero ser Deltan Dallagnol. Se eles podem ignorar as regras elementares, por que não a gente? Vamos nessa! E ainda teremos o apoio de manifestantes. Que se dane o setor!”.

Sabem como é: a carne da demagogia é fraca, não é mesmo?

Mas por favor! Não falemos em punições para o espetáculo de abuso de autoridade a que se assistiu. Nem mesmo há como punir os responsáveis.

Enganos, vejam que coisa, todos cometem.

É uma pena que alguns custem alguns bilhões e condenem o país ao atraso.

Na FOLHA: Equipe da PF defende investigação e diz que ainda há provas sob sigilo

Membros da equipe ligada à Operação Carne Fraca, que apura supostas irregularidades na inspeção de alguns dos principais frigoríficos do país, contestaram as críticas à investigação feitas pelo setor e pelo governo federal.

Os investigadores afirmam que ainda há muito material sob sigilo, e que a operação deve ter desdobramentos mais adiante.

OPERAÇÃO CARNE FRACA
PF deflagra ação em grandes frigoríficos

Neste domingo (19), o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, criticou a PF por “erros técnicos” e o governo federal procurou minimizar o alcance da investigação.

Para os investigadores, o governo está se precipitando. A equipe também contestou a informação de que apenas um frigorífico teve a carne periciada na investigação.

Segundo os investigadores, a realização de perícias em diversas empresas comprometeria o sigilo da operação —por isso, durante a fase de apuração, optou-se por apenas uma amostra.

A equipe sustenta, porém, que há provas do envolvimento de outros frigoríficos na produção e venda de carnes adulteradas e no pagamento de propinas a fiscais do Ministério da Agricultura.

Todas as empresas que foram alvo de busca e apreensão na sexta (17) tiveram material coletado, que será analisado e fará parte das provas da operação.

Além disso, os investigadores ressaltam que há suspeita de irregularidades até mesmo nos laboratórios que fazem análises para os frigoríficos e estão credenciados pelo Ministério da Agricultura.

Um deles, Laboran Análises Clínicas, com sede em Curitiba, foi alvo de busca e apreensão na sexta (17). Um ex-funcionário do frigorífico Peccin disse à PF que o laboratório pedia novas amostras quando o material não atendia aos “requisitos técnicos exigidos”.

A empresa, porém, nega irregularidades, diz que não realiza testes oficiais para produtos de origem animal e que enviou todos os seus relatórios à PF. “Comprovamos cabalmente a honestidade, ética e qualidade das nossas análises”, informou a Laboran, em nota. 

Operação Carne Fraca expõe o mesmo fisiologismo desmascarado na Lava Jato, por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

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Deflagrada a partir de Curitiba, a Operação Carne Fraca tem mais pontos de contato com a Lava Jato do que a mera localização geográfica. A investigação sobre fraudes no setor de inspeção agropecuária expõe o mesmo flagelo que produziu o escândalo do petrolão: o fisiologismo. Assim como aconteceu na Petrobras, o organograma do Ministério da Agricultura foi tomado de assalto por apadrinhados de políticos. No setor de petróleo, os congressistas foram atraídos pelos bilionários negócios com fornecedores da maior estatal do país, sobretudo as empreiteiras. Na Agricultura, a sedução é exercida pela prosperidade planetária do agronegócio brasileiro.

O Diário Oficial desta segunda-feira publica a exoneração dos superintendentes do Ministério da Agricultura em dois Estados alcançados pela investigação da Carne Fraca. Seguindo-se a trilha do apadrinhamento político, chega-se às digitais do problema. No Paraná, foi afastado Gil Bueno de Magalhães. Trata-se de um servidor apadrinhado pela bancada paranaense do Partido Progressista (PP), campeão no ranking de enrolados do petrolão. Sustentavam o demitido os deputados Dilceu Sperafico, Nelson Meurer e Ricardo Barros, licenciado do mandato para exercer o cargo de ministro da Saúde.

Em Goiás, foi afastado o servidor Júlio César Carneiro. Seu padrinho é Jovair Arantes (PTB-GO), um deputado da infantaria de Eduardo Cunha. Ele já controlava a superintendência goiana da Agricultura no governo petista. Afastou-se de Dilma Rousseff ao exercer a função de relator do processo de impeachment na Câmara. Consumado o impedimento da presidente, Jovair credenciou-se para manter os pés fincados no setor que controla os negócios da agropecuária, principal atividade econômica do seu Estado.

Gil Bueno e Júlio César foram apeados de seus cargos numa situação limite. Ambos tiveram a prisão decretada na última sexta-feira. Do contrário, o ministro Blairo Maggi (Agricultura) não ousaria afastá-los num instante em que o Planalto paparica seus aliados no Congresso para aprovar a reforma da Previdência.

O senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos mais destacados membros da bancada ruralista do Congresso, critica a ação da Polícia Federal na Carne Fraca. Acha que, numa investigação que se desenrolava há quase dois anos, a PF tinha “a obrigação de ser mais certeira nos seus tiros e não sair atirando para todo lado, como se toda a carne brasileira fosse uma porcaria.” Mas Caiado reconhece que a influência política exerce efeitos deletérios sobre o setor.

“Este modelo está falido. Submeter a composição de cargos técnicos a interesses políticos só pode resultar em desastre”, disse Caiado ao blog. “Por isso, jamais me atrevi a indicar ninguém. Perde-se a objetividade para fazer o controle sanitário e garantir todas as exigências que fazem da nossa carne a mais prestigiada do mundo. O estrago feito agora vai demorar muitos anos para ser desfeito.”

No Paraná, o servidor Gil Bueno substituiu outro encrencado na Carne Fraca, o ex-superintendente Daniel Gonçalves Filho. Que representava no cargo a bancada do PMDB paranaense. Última ministra da Agricultura da gestão Dilma Rousseff, a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) exonerou Daniel Gonçalves por recomendação da Consultoria Jurídica do Ministério. O personagem sofrera um processo administrativo disciplinar.

Em privado, Kátia Abreu diz que não foi fácil retirar Daniel da cadeira. Conforme já noticiado aqui, peemedebistas do Paraná, entre eles o deputado licenciado Osmar Serraglio, hoje ministro da Justiça de Michel Temer, pressionaram pela permanência do servidor tóxico no cargo. Nessa época, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) foi convidado pela colega Kátia a indicar uma pessoa para comandar a superintedência do Paraná. Requião preferiu abrir mão da preferência.

A exemplo de Caiado, Requião critica a generalização feita pela Polícia Federal. Atribui o fenômero ao que chama de “espetaculatização da corporação policial. Mas Requião reconhece a importância da investigação. E explica os motivos que o levaram a se abster de fazer indicações para a Agricultura.

“Os rumores eram intensos de que havia por trás daquilo um esquema de parlamentares com fiscais, para conseguir favores e facilidades de forma corrupta”, disse Requião ao blog. “Essa coisa é muito semelhante aos pixulecos, ao caixa dois ou caixa três que estão por aí. Disse à ministra que nomeasse um técnico. Depois, vi que não adiantava, porque parece que muitos funcionários estavam envolvidos nisso. A estrutura se corrompeu ao longo do tempo.”

Dá-se na Agricultura algo muito parecido com o que sucedeu na Petrobras. O fenômeno foi dissecado numa resposta que o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa deu ao juiz Sérgio Moro em depoimento que prestou como delator, em outubro de 2014.

Funcionário de carreira da Petrobras, Paulo Roberto foi alçado ao posto de diretor por indicação do PP. Antes de dar por encerrado o interrogatório, Sergio Moro perguntou se ele gostaria de “dizer alguma coisa”. Eis o que disse o delator:

“Queria dizer só uma coisa, Excelência. Eu trabalhei na Petrobras 35 anos. Vinte e sete anos do meu trabalho foram trabalhos técnicos, gerenciais. E eu não tive nenhuma mácula nesses 27 anos. Se houve erro —e houve, não é?— foi a partir da entrada minha na diretoria por envolvimento com grupos políticos, que usam a oração de São Francisco, que é dando que se recebe. Eles dizem muito isso. Então, esse envolvimento político que tem, que tinha, depois que eu saí não posso mais falar, mas que tinha em todas as diretorias da Petrobras, é uma mácula dentro da companhia…”

Fonte: NA/UOL/VEJA/FOLHA/ESTADÃO