Impactos na microbiota do solo podem causar prejuízo ao produtor  

Os microrganismos são uma parte fundamental do ecossistema que permite com que as plantas cresçam de forma saudável e, no caso da agricultura, sejam mais produtivas trazendo mais rentabilidade para o produtor. O excesso de cloro, pode trazer diversos danos à microbiota do solo, fazendo com que ele se torne menos fértil e produtivo.

Embora os fertilizantes sejam necessários para repor os nutrientes do solo, alguns deles, como o Cloreto de Potássio (KCl) contém altas doses de cloro, que é composto por 47% desse elemento, sob a forma do ânion (íon carregado negativamente) Cl.

Para se ter uma ideia da alta concentração de cloro no Cloreto de Potássio, aplicar 100kg dele em uma área é equivalente a despejar 800 litros de água sanitária no solo, segundo escreve a pesquisadora Heide Hermary, no artigo Effects of some synthetic fertilizers on the soil ecosystem.

Isso tem um potencial muito danoso. O pesquisador David Gabriel Campos Pereira e outros cientistas da Universidade Estadual de Montes Claros escrevem, no artigo Potassium chloride: impacts on soil microbial activity and nitrogen mineralization:

“O cloreto de potássio (KCl) é a fonte de potássio mais utilizada mundialmente e, devido ao uso contínuo desse fertilizante, pode ocorrer acúmulo de sais no solo e nas plantas. O excesso de íons desencadeia uma série de distúrbios fisiológicos, tornando-se um potencial biocida no solo.”

Entre esses distúrbios provocados pelo excesso dos íons de Cloro no solo está o aumento da salinidade. Isso acontece quando há um acúmulo de cristais salinos no solo e tem um impacto direto nos microrganismos que compõem a microbiota do solo.

No artigo Influence of salinity and water content on soil microorganisms, a pesquisadora Petra Marshner e outros cientistas citam que altas taxas de salinidade afetam os microrganismos por dois meios principais: efeitos osmóticos e efeitos específicos de certos íons.

A osmose é um processo pelo qual a água se desloca de um meio para outro através de uma membrana. Quando há uma alta taxa de salinidade no solo, há uma perda da concentração da água nele.

Ocorre então um processo chamado plasmólise, que é a perda da água contida nos microrganismos e também nas próprias plantas, para o solo em virtude da alta salinidade. Também, como há menos água disponível no solo, os microrganismos não têm de onde retirar água para sobreviver e se desenvolver.

Além disso, os íons de cloro são altamente tóxicos, afetando os microrganismos quando presentes em excesso no solo.

Essa toxicidade do cloro afeta não somente a microbiota do solo, mas também as plantas, como demonstrado no estudo The potassium paradox: Implications for soil fertility, crop production and human healthdo Dr. Timothy Elsworth, e em pesquisas que mostram que isso afeta a qualidade dos alimentos.

O pesquisador e biólogo especialista em plantas e microbiologia, Dr. Alexander Jousset, no artigo Fighting Microbes with Microbespublicado na revista The Scientist, ao falar dos microrganismos e sua importância para a saúde do solo e das plantas que nele crescem, faz uma analogia com o corpo humano:

 “Uma comunidade diversa é especialmente importante para manter os patógenos afastados – isto é verdade tanto no organismo humano quanto no solo”.

É importante que a microbiota do solo seja preservada para que as plantações sejam mais produtivas, saudáveis e sustentáveis. Assim, é importante também que o uso de insumos que prejudiquem os microrganismos, como o cloreto de potássio seja evitado.

Fonte Ação Estratégica