Inteligências, distopias e o tempo

*Por Marília Gersely

É inevitável que a Inteligência Artificial (IA) entrará em nossas vidas de maneira cotidiana. Assusta? Assusta sim, e muito! Afinal, nosso imaginário está recheado de exemplos catastróficos. Contudo, antes que nosso fim distópico aconteça, vale a reflexão: “As máquinas são ferramentas, já o poder de decisão é o fator que nos define como humanos e nos diferencia delas, pelo menos por enquanto”.

Os trabalhos mudarão de concepção e, assim, alterando nossa relação com o tempo também. Essa nova revolução tecnológica reforçará que é hora de “gastar tempo” com o que e com quem realmente importa. Tempo para saúde mental, tempo para desenhar estratégia e tempo, principalmente, para fazer as perguntas certas.

Obviamente, o Chat GPT e todas as suas derivações foram um dos grandes assuntos do SXSW 2023. Greg Brockman, do OpenAI, disse em seu painel: “Penso que em todos os aspectos da vida serão meio que amplificados por essa nova tecnologia”. O que já existia de forma muito latente passa a ganhar força e ramificações complexas. Traçando um comparativo totalmente cabível, é o mesmo peso que a invenção do telefone teve. A IA é só a ponta do iceberg em alta velocidade para colidir.

Em outras palavras, a Inteligência Artificial é uma biblioteca infinita de dados. Mesmo sabendo que são os dados que nos mantêm próximos de nosso objetivo, é preciso saber que também são extremamente perigosos. Segundo a AI Impact Survey (Jun/Ago 2022), 50% dos pesquisadores de IA acreditam que existe uma chance de 10% ou mais de os humanos serem extintos pela nossa inabilidade de controlar a inteligência artificial. O SXSW trouxe algumas discussões sobre regulamentação e como podemos seguir de maneira saudável. Quanto tempo levamos e ainda estamos em discussão sobre privacidade? A bomba de Oppenheimer era genial.

Mas não estou aqui para ser catastrófica, até porque sou uma grande entusiasta das potencialidades modernas (e de histórias de ficção científica). Estou aqui para provocar. Que história estamos contando? Para nós mesmos, para quem nos ouve, para as marcas que representamos. Com quem e como estamos nos conectando? Quem está criando conosco?

Fico maravilhada com as possibilidades que tenho visto com as ferramentas IA. As áreas criativas serão extremamente impactadas: design, conteúdo, arquitetura, fotografia. Já tem apps fantásticos para todos esses segmentos. E aqui volto a falar do tempo, mas com outra perspectiva interessante do SXSW desse ano: The sense of Awe. Em um painel, Laurie Santos, cientista cognitiva americana, disse: “Há evidências que mostram que quando você experiencia Awe, você se torna mais empático”.

Awe não tem uma tradução literal, é quase que uma manifestação de uma emoção, de um maravilhamento misturado com medo. É a medida de sentimento para com a IA, um deslumbramento comedido, uma excitante aventura. É a possibilidade de nos reconectar aos questionamentos, as pessoas e a natureza. Sense of awe permite algo que nenhuma máquina consegue. Uma conexão com o que realmente importa, nosso tempo aqui como humanidade.

*Marília Gersely, formada em Publicidade e Propaganda e Pós-Graduada em Produção e Tecnologia Gráfica, pelas Universidades de Taubaté e Anhembi-Morumbi – respectivamente, iniciou a sua carreira há 15 anos no Departamento de Marketing da IFF Essências e Aromas Ltda – indústria multinacional, líder na fabricação de essências e aromas para a indústria alimentícia e de cosméticos – onde atendeu contas como a Nestlé, Coca-Cola, Arcor, Unilever, Pepsico, O Boticário e Natura. Em 2011, foi contratada pela Alta Comunicazione como Diretora de Arte, atendendo clientes como a Cargill, Bunge, Mondial, Casa Affonso e Habiarte Ribeirão Preto/SP. Chegou na MCM Brand Experience – em 2015 – como Diretora de Arte, mas logo conquistou o seu tão almejado cargo de Diretora de Criação e hoje é Head de Planejamento, atendendo contas como IBM Brasil, BASF, Unilever, L’Occitane, Dell Anno, entre outras. Gersely é apaixonada por tudo o que envolve novidades, cores, cheiros e lugares.

Fonte: Rodrigo Gomberg Bauso