JBS firma novo compromisso ambiental sem ter cumprido o primeiro

Durante a COP 28, a JBS anunciou iniciativa para contribuir com o fim do desmatamento na Amazônia Legal, a partir do investimento na rastreabilidade individual do gado na região. Porém, a Proteção Animal Mundial chama a atenção que não é a primeira vez que a empresa assume esse tipo de compromisso com a preservação ambiental.

Em 2009, o frigorífico aderiu ao Compromisso Público da Pecuária na Amazônia, prometendo um monitoramento detalhado do desmatamento ao longo da cadeia produtiva e o cadastro de fornecedores diretos e indiretos. No entanto, o problema da “triangulação de gado”, prática muito comum na Amazônia em que animais de fazendas com irregularidades ambientais são transportados para áreas com “ficha limpa” e vendidos normalmente, nunca foi de fato resolvido. Em 2017, na operação do Ibama batizada de Carne Fria, a JBS foi multada por comprar gado criado em fazendas embargadas por desmatamento ilegal no Pará.

“Empresários e representantes do agronegócio estão unidos para tentar convencer os líderes mundiais de que a agropecuária industrial seria a solução para salvar o planeta. Um despautério, ainda mais durante a COP 28 que discute ações para mitigar o impacto da atual crise climática, sendo o setor um dos grandes contribuintes para a situação em que chegamos, afirma Marina Lacôrte, gerente de sistemas alimentares na Proteção Animal Mundial. “Na verdade, o que estamos vendo, são os mesmos e velhos discursos que até hoje não foram capazes de resolver problemas graves da pecuária industrial, mais conhecido como “greenwashing” ou “maquiagem verde”, complementa Marina.

A Proteção Animal Mundial alerta também que rastrear o gado e não ter um plano para identificar a origem da soja utilizada na produção de ração, não resolve efetivamente o problema do desmatamento. Isso porque, para burlar o Código Florestal, muitos produtores fazem o cultivo da principal matéria-prima da ração, os grãos em áreas que deveriam ser destinadas à preservação. Ao serem misturados com grãos de origem regular ou legal, causam a contaminação em toda a cadeia produtiva.

“A JBS e outros grupos do setor têm negligenciado as questões climáticas por todos esses anos. A empresa precisa urgentemente fazer investimentos decisivos e significativos em toda a sua cadeia de fornecimento para, no mínimo, reduzir o seu impacto socioambiental. Isto inclui abordar o cultivo de grãos para alimentação animal e garantir práticas responsáveis em todas as regiões onde mantém fornecedores, sejam eles diretos ou indiretos”, afirma Marina.

O impacto dos sistemas alimentares é um dos temas de destaque da COP 28, porém, a Proteção Animal Mundial critica que a pecuária industrial não tenha tido protagonismo dentro dessa temática.

“Os sistemas alimentares no Brasil representam 74% das emissões de gases de efeito estufa no país, segundo um estudo recente do Observatório do Clima. É importante lembrar que a pecuária industrial é o setor que mais impacta nesse resultado, principalmente por conta do desmatamento que a atividade causa em território brasileiro seja para implantação de pastagens ou implantação futura de grãos. Os danos dessa atividade ao clima incluem ainda as emissões do próprio rebanho, que em outros países é uma parcela muito significativa, fazendo da pecuária industrial uma das grandes contribuintes para o aquecimento global como um todo”, explica Marina.

Fonte: Marília Bianchini